Por Nicolas Calister
Imagine que você precisa embarcar em uma jornada, navegando pelos mares com seu barco. Ao longo de suas aventuras, conforme passa por tempestades e águas agitadas, seu barco é danificado, e você precisa trocar suas partes para consertá-lo. Quando tempo suficiente houver passado, e você tiver visitado todas as novas terras que lhe interessavam, você retorna à sua terra, onde iniciou sua jornada. Porém, esta danificou tanto seu barco, que você acabou por ter, mesmo que lenta e gradualmente, trocado todas as suas antigas partes por novas. Para um observador que não lhe acompanhou em sua trajetória, é como se você tivesse ido com um barco e voltado com outro. É sobre isso que se trata o Paradoxo do Barco de Teseu, que nos faz questionar o que define a identidade de um objeto, e a nossa própria identidade.

O paradoxo da identidade do barco expressa um paralelo com a forma que nos identificamos, por vezes nos diferenciando dos outros, e até mesmo de nossas versões passadas. Poderíamos fazer o mesmo questionamento para o próprio viajante, não apenas para o barco. E se você, em sua viagem com seu barco, houvesse passado por tantas novas experiências, conhecido tantas pessoas diferentes, e agido de tantas novas maneiras, ao ponto de que, ao fim de sua viagem, a única breve semelhança que ainda possuía com seu antigo eu era uma aparência mais envelhecida? Aqueles que lhe recebem ao fim de sua viagem, podem lhe reconhecer pela aparência e nome, mas não reconhecerão suas falas, seus pensamentos, seus modos de agir, nem os tópicos que lhe instigam. Seria você, afinal, outra pessoa, apenas no mesmo corpo?
Afinal, quantas e quais são as partes nossas que nos distinguem de outro indivíduo? Até onde abrange nossa identidade? Somos definidos pelos nossos gostos, nossos pensamentos, nossas ações? Poderíamos, além de nossa individualidade, sermos definidos pelas pessoas com quem interagimos e pelos espaços que frequentamos? Existe alguma hierarquia entre as partes que nos definem mais que outras?
Acredito que seja necessário elaborarmos uma forma de visualizar nossa identidade. Utilizaremos de uma metáfora: nossa identidade é como uma árvore. Nossa árvore possui um caule enraizado e seus galhos ou ramos. Todas nossas partes, sejam elas gostos pessoais, comportamentos, amigos, locais que frequentamos, pensamentos e emoções se encontram nos ramos de nossa árvore. Já ás nossas memórias se encontram em nosso caule, nossas raízes.
Este visual já nos ajuda a entender melhor algumas questões. Por exemplo, mesmo que você mudasse todos seus gostos, ambientes, amigos e etc., podando todos seus ramos e dando vida a novos ramos, poderia ser uma pessoa aparentemente nova, mas você ainda possuiria suas memórias. Poderia mudar até de nome, e ainda assim, se lembraria da gradualidade de suas mudanças. Haveria, mesmo que inerte dentro de si, um vestígio de quem você foi, nem que fosse servindo apenas de souvenir.
Vamos supor então, que eu tenha um hábito ruim, que me faz mal e que me afasta daqueles com quem desejo conviver bem. Se procuro me livrar deste hábito, devo tentar apenas parar de agir, ou há, talvez, outras partes minhas que me levam a este comportamento? Não poderiam alguns dos locais e pessoas com que convivo apoiarem este mau hábito? Ou mesmo talvez uma memória ruim, um evento que me fez mal e que evito pensar sobre e superar? Se eu não abordar todas estas questões, será possível eu mudar este comportamento que me aflige?

Vemos agora que a imagem da árvore nos proporciona respostas para outra questão: se desejamos mudar algo em nossa identidade, devemos nos dirigir à raiz da questão, não apenas tentar podar uma ramificação isolada do problema. Por vezes, podemos tentar mudar algum comportamento, sem dedicar a devida atenção à origem da ação. Por outro lado, podemos desejar sermos determinadas versões nossas, com belas ramificações, mas não dedicamos tempo e atenção para que se enraízem e se ramifiquem estas características que apreciamos.
E, enfim, a imagem da árvore que aqui utilizei nos lembra da graça de sermos nós mesmos. Não somos definidos por partes únicas, e não perdemos nosso brilho ou valor quando mudamos quem somos. Pelo contrário, apenas ganhamos novas ramificações, expandindo nossa identidade. Afinal, o barco poderia ter ficado intacto, seguro e imutável se nunca deixasse o porto, mas não é para isto que ele foi construído. Da mesma forma, pouco impressiona o indivíduo imutável, se comparado àquele que muda, que vive, que experiencia o mundo e as pessoas e expande a si e seus pensamentos.
Por Nicolas Calister
E-mail: nicolas.calister@gmail.com
Convite Especial: Café Filosófico
Reflexões para Pais e Filhos

Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.
Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.
Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador
Data e local: Zeppelin
Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!
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Ingressos para o V Café Filosófico:

https://cafefilosoficoo.lojavirtualnuvem.com.br/produtos/1-lote-ingressos
Comunidade do “Café Filosófico” no WHATSAPP:

https://chat.whatsapp.com/Ewehn3zxEBr6U0z96uZllP
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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!
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