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Carta ao leitor

Pré-história

Civilização perdida nas Cataratas do Iguaçu? Mas que conversa é essa?

Texto publicado por portal nacional não é assinado e nem cita fontes; H2FOZ conta com editoria específica dedicada a matérias de ciência.

3 min de leitura
Civilização perdida nas Cataratas do Iguaçu? Mas que conversa é essa?
Expressões como "civilização perdida" chamam a atenção do público, mas têm pouca base científica. Foto: Marcos Labanca/H2FOZ (Arquivo)

Talvez você tenha recebido ou visto nas redes sociais, na semana que passou, publicação de um portal nacional (com redações em São Paulo e Brasília) relatando uma suposta “civilização perdida” nas Cataratas do Iguaçu.

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Logo de cara, chama a atenção o fato de que o texto não tem assinatura e parece ter saído de algum sistema de inteligência artificial. Além disso, não cita fontes ou qualquer trabalho concreto, usando expressões genéricas como “os pesquisadores”, “os estudos”, etc.

A tal “civilização perdida” nas Cataratas, descrita pelo portal, seria apenas o registro dos primeiros povos que passaram pela região, há pelo menos seis mil anos.

Sensacionalismo à parte, trata-se de um fato científico bem conhecido por arqueólogos e historiadores do Brasil, do Paraguai e da Argentina. A suposta notícia, portanto, não traz elementos novos ou de mistério “hollywoodiano”.

Nota da redação: esta carta trata da publicação, por um portal de alcance nacional, de um texto sem assinatura e sem menção a fontes. O H2FOZ não crê que esse tipo de conteúdo, de qualidade editorial questionável, contribua com os debates sobre a história da região.

Pré-história na região de Foz do Iguaçu

Nas décadas de 1970 e 1980, arqueólogos contratados por Itaipu fizeram levantamentos em toda a região, como parte dos trabalhos prévios à formação do lago. Na ocasião, constataram a presença de mais de um povo ou civilização nos vales dos rios da fronteira.

Conforme o inventário, os vestígios mais antigos mostram que povos caçadores-coletores chegaram ao atual Oeste do Paraná no mínimo seis mil anos atrás. O Ecomuseu de Itaipu preserva, em sua reserva técnica, peças do período.

Tais povos nômades deram lugar, nos milênios seguintes, a civilizações agrícolas, como o povo guarani. Quando os primeiros europeus apareceram por aqui, cinco séculos atrás, havia tribos dos troncos guarani e jê vivendo por essas bandas.

Em 2022, pesquisadores da Universidade Nacional de La Plata, da Argentina, coletaram vestígios arqueológicos na margem argentina do Rio Iguaçu, perto das Cataratas. Citando nomes e fontes, o H2FOZ noticiou o fato (clique aqui para ler uma das reportagens).

Ciência e “civilização perdida”

Expressões do tipo “civilização perdida” podem até mexer com a imaginação do público, mas pouco contribuem para debates sérios sobre o tema.

O H2FOZ mantém, inclusive, uma editoria específica sobre ciência, com a divulgação de matérias que mostram a produção acadêmica na região. A meta para 2025 é ampliar o número de conteúdos. Para ler tudo o que já foi publicado, clique aqui.

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Muito obrigado pela leitura e ótima semana!

Guilherme Wojciechowski colabora com o H2FOZ desde 2022 e redige, aos domingos, a edição semanal da Carta ao Leitor. Já escreveu várias matérias para a editoria Ciência, mas nenhuma com termos como “civilização perdida”.

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    Guilherme Wojciechowski

    Guilherme Wojciechowski é colaborador do H2FOZ desde 2021. Acompanha o noticiário da fronteira há duas décadas e cobre editorias como Paraguai, Argentina, Turismo, Esporte, Cultura e Segurança Pública.