Cerca de 60% das ocorrências policiais de Foz do Iguaçu são de violência doméstica e familiar contra a mulher. Os dados, da Delegacia da Mulher, superam os de crimes de roubo, furto, homicídio e contrabando na cidade.
Os delitos contra a mulher ganharam visibilidade na Caminhada do Meio-Dia, realizada nesta terça-feira, 22 de julho, Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, em Foz do Iguaçu e em outras 179 cidades paranaenses.
Em Foz, o ato teve início na Praça do Mitre, por volta do meio dia, seguido por uma caminhada até a Praça da Paz. Centenas de pessoas e representantes de diversas entidades que atuam na proteção à mulher participaram da iniciativa.

Delegada da Mulher, Giovanna Antonucci considera a violência contra a mulher um problema cultural, complexo e que demanda a atuação de vários atores na tentativa de solucionar e diminuir a quantidade de ocorrências.
Ela diz que ao mês são solicitadas cerca de cem medidas protetivas de urgência pelas mulheres na cidade. Em um só dia, a delegacia já recebeu 13 pedidos.
“É um dado alarmante por um lado, mas também é um dado positivo, porque as mulheres estão se sentindo encorajadas em denunciar, porque estão vendo que o sistema de justiça e da polícia estão funcionando”, realça a delegada.
Neste ano, Foz do Iguaçu registrou dois feminicídios — quando a mulher é vítima em razão do gênero ou quando ocorre violência doméstica ou familiar — e duas tentativas; também um femicídio — homicídio no qual a mulher é vítima sem relação direta com o gênero. A delegada lembra que em 2023 Foz foi a cidade com maior número de feminicídios do Paraná, e hoje esses números vêm diminuindo.

Ainda segundo Giovanna, a violência atinge mulheres de todas as classes sociais, embora as principais vítimas sejam pretas e pobres. A maior parte dos agressores é o companheiro, mas há também familiares, a exemplo de tios e genros.
Para a delegada, o problema é cultural e decorre do machismo. O homem, frisa, acredita que a mulher é um bem pertencente a ele, e se ela descumpre algumas das expectativas dele sobre ela — por exemplo: ser bela, recatada e do lar —, o homem se acha no direito de fazer o que quiser, inclusive matá-la.
Uma iniciativa de ressocialização voltada aos agressores vem sendo implementada pelo Conselho da Comunidade, por meio da Vara de Execução Penal, evitando a reincidência.
Projeto Divas dá suporte às vítimas
Um grupo de mulheres do Projeto Divas marcou presença na passeata. Criado há cerca de três anos, a partir de trabalho voluntário, o projeto hoje acolhe vítimas de violência e dá suporte jurídico, psicológico e emocional.
O projeto surgiu a partir da iniciativa da presidente do grupo, Vânia Ferreira, que começou a receber na própria casa as mulheres. Com o tempo, a demanda aumentou e foi criado um grupo que hoje presta socorro às vítimas de violência e também as encaminha para o hospital e delegacia.

Mais de mil mulheres estão cadastradas no Projeto Divas para receber suporte. Entre as atividades realizada estão um chá, evento com palestras, brindes e serviços de salão de beleza para valorizar as mulheres.
Entre as voluntárias do projeto, há mulheres de todas as profissões, incluindo funcionárias públicas, advogadas, psicólogas e empresárias.
“Procuramos abrir a mente delas, valorizá-las”, ressalta a empresária Márcia Zanotti, madrinha do projeto. Mulheres que mal conseguiam falar e tinham baixa estima agora estão renovadas e fortes, conta.
Violência obstétrica, assédio moral e sexual
Outro suporte disponível na rede de atendimento às mulheres é o CRAM (Centro de Referência em Atendimento à Mulher em Situação de Violência).
Coordenadora do CRAM, Ivana Kather informa que o órgão atende a todos os tipos de violência praticada contra as mulheres, incluindo a de gênero. Os atendimentos hoje representam apenas 10% das ocorrências registradas nos boletins policiais por falta de conhecimento.

O CRAM faz acolhimento, atendimento psicológico, acompanhamento psicossocial, oficinas e, se necessário, encaminha as vítimas para a Casa Abrigo Mulher, que fica em local sigiloso.
Ivana incentiva as mulheres a denunciarem, pois hoje há uma rede para apoiá-las, inclusive diante de outros tipos de violência, a exemplo da obstétrica — parto que não é feito de modo humanizado — e do assédio moral e sexual, comuns no trabalho.
De acordo com a Guarda Municipal, atualmete 1.500 mulheres são atendidas por medidas protetivas em Foz, da quais 1.290 pela Patrulha Maria da Penha e outras 210 pela via Polícia Militar, na região do Porto Meira.

Canais de Denúncia
180 – Central de Atendimento à Mulher
181 – Disque Denúncia
153 – Patrulha Maria da Penha
45 – 3521-2150 – Delegacia da Mulher
190 – Polícia Militar