A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) está em fase de votação do Orçamento Participativo, instrumento que permite à comunidade universitária decidir quais projetos receberão recursos institucionais. O programa chega à sua terceira edição, com orçamento total de R$ 300 mil, distribuído entre dez propostas — cada uma com R$ 30 mil para execução ao longo de 2026.
Entre as propostas homologadas está a opção 3 – “Empodera Mulheres Latino-Americanas”, coordenada pela professora Danielle Araújo, do curso de Antropologia e Diversidade Cultural Latino-Americana. O projeto tem como foco o enfrentamento da violência contra as mulheres e a valorização dos coletivos de resistência feminista existentes em toda a região.
“A proposta foi aprovada pelo nosso colegiado e visa colocar em debate as violências sofridas pelas mulheres e, ao mesmo tempo, reconhecer os grupos de luta que atuam na América Latina. É importante destacar movimentos como o Ni Una Menos, a União de Mulheres de São Paulo e o Coletivo Kuña Poty, de Ciudad del Este, que expressam a força das mulheres latino-americanas e o poder da resistência coletiva”, explica Danielle.
Os dados recentes reforçam a urgência do tema. Segundo o Mapa Latinoamericano de Feminicidios, produzido pela ONG MundoSur e publicado pelo El País em junho de 2025, 4.855 mulheres foram vítimas de feminicídio na América Latina em 2024, o que equivale a 13 assassinatos por dia — um aumento de 4,8% em relação ao ano anterior. No Brasil, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública registrou 722 feminicídios apenas no primeiro semestre de 2023, o maior número desde 2019. Em São Paulo, levantamento da Folha de S. Paulo aponta 166 vítimas entre janeiro e agosto de 2023, crescimento de 9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Para Danielle, esses números expõem a dimensão continental da violência de gênero.
“A América Latina tem algumas das maiores taxas de feminicídio do mundo. O enfrentamento passa por educação, cultura e mobilização social. É nesse sentido que a universidade pode atuar como espaço de transformação”, afirma.
A proposta “Empodera Mulheres Latino-Americanas” estará em sintonia com o projeto de extensão Promotoras Legais Populares da Fronteira, também coordenado pela professora. As Promotoras Populares desenvolvem ações de formação e articulação comunitária voltadas à defesa dos direitos das mulheres, contribuindo para o fortalecimento de redes de apoio e enfrentamento à violência de gênero na região de fronteira.
O novo projeto prevê seminários, oficinas e encontros interculturais com mulheres de diferentes países, fortalecendo redes de diálogo e solidariedade. A iniciativa também coincide com um marco simbólico: os 20 anos da Lei Maria da Penha, em 2026, reconhecida internacionalmente como referência na luta contra a violência doméstica.

Como funciona e até quando votar
O Orçamento Participativo da UNILA é aberto a toda a comunidade universitária — estudantes, docentes e técnicos administrativos. Cada pessoa pode escolher até três projetos entre os homologados pelos colegiados.
A votação segue até o dia 20 de outubro (segunda-feira), e o formulário está disponível em:
https://forms.gle/bmxLzKoM98Gj1DAm8
O projeto “Empodera Mulheres Latino-Americanas” está identificado como opção número 3.