A incidência da violência contra a mulher tem mobilizado coletivos e instituições por todo o país. Em Foz do Iguaçu, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) aderiu a esse movimento e realizou, na quinta-feira, 4, um ato no Campus Integração.
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Com a chamada “Chega de feminicídios, Chega de violência”, o ato reuniu cerca de 60 pessoas que lembraram os mais recentes casos de mortes envolvendo mulheres no país.
A iniciativa partiu da reitora Diana Araújo, que integra a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Nos últimos meses, reitoras e vice-reitoras iniciaram um movimento para fortalecer a questão de gênero na Andifes e nas universidades federais.
Diana diz que todas as mulheres, de alguma maneira, sofrem pela violência política e de gênero nas instituições onde atuam. “Nossa intenção é fortalecer o diálogo com a sociedade e com a comunidade interna da Unila sobre a vergonha que é, em pleno 2025, ter que falar sobre casos de feminicídio e dizer que mulheres e homens deveriam ter os mesmos direitos de cidadania, sociais, e mesmos direitos políticos e afetivos”, pontua.
O evento realizado na Unila já é resultado da mobilização da Andifes que já se organizava para projetar ações conjuntas com 69 universidades brasileiras.

Feminicídios, violência verbal e muito mais
No movimento, realizado no Campus Integração da Unila, foram mencionados os mais recentes feminicídios no país, incluindo o assassinato de duas servidoras públicas do CEFET Maracanã no Rio de Janeiro, Allane de Souza Pedrotti Mattos e Layse Costa Pinheiro.
Elas foram mortas por um servidor da instituição, que na sequência do crime acabou tirando a própria vida. O evento também fez parte da campanha 21 Dias de Ativismo, que vai até 10 de dezembro.
Também foram lembradas durante o ato a memória da estudante de pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Catarina Kasten, Tainara Souza Santo, que teve as pernas amputadas após ser arrastada na Marginal do Tietê, em São Paulo, Christina Maciel de Oliveira, mulher trans assassinada pelo companheiro, e Martina Piazza, aluna da Unila assassinada em 2014.
“É um momento de reflexão para compartilhar tanto com a instituição quanto com a sociedade”, afirma a coordenadora do Departamento de Equidade de Gênero e Diversidade (Deged), da Secafe Unila, Maria Aparecida Webber.
A Unila tem um departamento voltado para o acolhimento e encaminhamento de alunas, servidoras e professoras que sofrem violência. Após o atendimento, as mulheres são encaminhadas a entidades que dão suporte à rede antiviolência da cidade.
A coordenadora da Patrulha Maria da Penha de Foz do Iguaçu, que zela pelas mulheres com medidas protetivas, Maristela Bail, também participou do ato. Segundo ela, estão em vigor hoje 2.300 medidas protetivas na cidade.
Desse total, 1.500 são acompanhadas pela patrulha. As demais, apesar do pedido de proteção, abriram mão do acompanhamento, mudaram e não informaram o endereço ou foram para outra cidade.
Os eventos relativos aos 21 dias de Ativismo prosseguem em Foz do Iguaçu. No dia 10, encerramento da campanha, haverá um ato na Itaipu Binacional às 14h e outro, no campus Jardim Universitário (JU), da Unila, às 18h.
Em nota, professoras expõem dificuldades
Em nota assinada por professoras do Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPGICAL/ILAESP), da Unila, as docentes manifestaram apoio às servidoras assassinadas no Rio de Janeiro e expressaram preocupação com o que ocorre na Unila.
“Nos preocupa que a Unila não fuja à regra da maioria dos espaços de trabalho brasileiros. Apesar da expressiva presença de mulheres em posições de liderança, permanece evidente a desigual distribuição das tarefas acadêmicas, administrativas e de cuidado.”
Elas ainda pontuaram: “Não é incomum que docentes, pesquisadoras, gestoras e extensionistas sejam assediadas, desqualificadas ou menosprezadas em seus diversos trabalhos.”
Ainda conforme a nota, as professores assinalam. “É urgente que os homens busquem letramento de gênero. Não podemos correr o risco de sermos atacadas, assediadas ou assassinadas — e certamente, se as servidoras do CEFET tivessem escrito uma nota como esta, o texto teria sido lido como “exagero” e geraria “desconforto”.
Na finalização da nota, as docentes ainda expressam as condições que enfrentam para a produção intelectual. “As condições de produção intelectual não são satisfatórias para ninguém, mas são muito mais desafiadoras para nós, mulheres.
Para elas, é urgente que os colegas homens busquem ferramentas de letramento de gênero para combater essa desigualdade. “Temos certeza que vocês sabem como se apropriar desse arsenal teórico, fundamental para que consigamos construir ambientes de trabalho mais seguros, respeitosos e equitativos”.
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