Obra que virou piada entre os iguaçuenses por não funcionar nem cumprir o papel de embelezar o lugar, o chafariz da Praça do Mitre, no centro de Foz do Iguaçu, pode estar com os dias contados. Parecer informa que a sua demolição não afeta o patrimônio cultural.
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A manifestação é do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Cepac), publicada no Diário Oficial. A consulta, formalizada em junho deste ano, foi feita pelo 5.º Colégio da Polícia Militar (CPM), instalado no prédio do centenário e extinto Colégio Bartolomeu Mitre, que existiu de 1927 a 2020.
Após considerar o pedido de tombamento ao patrimônio cultural do antigo Mitre, feito pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular e parecer de comissão, o conselho exarou sua posição. “Não há óbice por parte deste Conselho Municipal de Patrimônio Cultural quanto à demolição do chafariz”, lê-se no documento.
O pedido de avaliação pela direção do estabelecimento almeja “deixar o local com o piso plano, a fim de revitalizar o espaço e otimizá-lo para a utilização pública, turística e escolar”, informa a resolução do Cepac. O processo de militarização do colégio iniciou em 2018.
O chafariz da Praça do Mitre/Praça das Nações integra as obras do equipamento público que deveriam ter sido entregues em 2014, no aniversário de 100 anos de Foz do Iguaçu. A conclusão ocorreu cerca de três anos depois.
A fonte sempre deu problemas no jato de água. Em muitos momentos, era mais usada por moradores em situação de rua para aliviar o calor. Sem funcionar por meses, chegou a ser apelidada de “Jardim Suspenso do Mitre”, porque nela brotam plantas no lugar da água.
O H2FOZ mostrou que, em 2019, a administração de Chico Brasileiro (PSD) fez um aditivo contratual de R$ 2,5 mil por mês para serviços de manutenção dos chafarizes das praças do Mitre e da Paz, na Avenida JK. A vigência era prevista para terminar em maio de 2020.
A reforma da praça não agradou em muitos outros pontos. Impermeabilização total da área com paver, pergolados de estética e ocupação espacial questionáveis, ausência de plano de arborização e de bancos.
Hoje, quem passa pelo equipamento público pode observar com frequência viaturas policiais estacionadas sobre a Praça do Mitre. Fica a interrogação: se demolido o chafariz, a prioridade será para pessoas ou veículos da corporação militar?

Patrimônio de quem?
O moroso processo de tombamento do antigo Colégio Bartolomeu Mitre, requerido em 2019, até hoje não saiu do papel. Há dois anos, conselheiros do patrimônio cultural intervieram junto à direção do Colégio da Política Militar, que fazia obra na fachada do bem.
O questionamento foi devido à falta de autorização prevista no instrumento municipal de patrimônio cultural, como dita a lei. A intervenção, a fim de acessibilidade, disse o colégio, alterou a fachada do prédio histórico. A entrada e a saída do colégio ocorriam pelo portão lateral, na Rua Marechal Floriano Peixoto, vale registrar.
Com quase um século, o Colégio Bartolomeu Mitre tem a sua história ligada à educação pública em Foz do Iguaçu, formando gerações de iguaçuenses. Essa é a justificativa do Centro de Direitos Humanos para pedir o seu tombamento, em fevereiro de 2019.

No documento entregue à prefeitura, a entidade relata que no colégio estudaram pioneiros da cidade. Cita, com exemplo, Aretuza Reis da Silva, Ottilia Schimmelpfeng, Iguassuína Coimbra, Iolanda Fava Lenzi, Ilca Vera, Glória Neumann.
A petição para que a instituição se torne patrimônio cultural dos iguaçuenses abrange:
- estrutura física e arquitetônica do antigo Colégio Mitre;
- bandeira;
- dístico em bordô e branco; e
- de todo o conjunto de materiais, objetos, documentos e símbolos que refletem a história da escola centenária.


