Bosque dos Macacos: poder público só vai ‘se coçar’, se a sociedade pressionar

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Aida Franco de Lima – ARTIGO

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O roteiro segue, sem mudar o enredo. Destruíram parte da mata que integrava os Bosque dos Macacos, no Jardim Ipê, e só depois que tudo estava por terra, as autoridades constituídas foram rever as autorizações. E enquanto isso, os macacos, a natureza, e a população, padecem. Sim, a destruição daquela área interfere diretamente no microclima do local. Podem apostar. Ficou mais quente, mais seco. O frescor da brisa matutina foi engolido pelas motosserras.

Os macacos que ali estão não são nativos. Ou seja, foram introduzidos no local. Uma das probabilidades é que isso foi um dos resultados da formação do Lago de Itaipu. E o fato de eles terem sido retirados de sua terra natal, deveria pesar na hora de as autoridades públicas lhes darem as costas. Pois aumenta ainda mais a responsabilidade por sua sobrevivência.

É muito comum a informação de que animais silvestres não podem e não precisam ser alimentados por humanos, pois eles ‘se viram’. É basicamente a mesma lógica de quem abandona cachorro e gato… No caso dos silvestres, é porque encontram alimento na floresta. E essa afirmação é condizente, quando estamos falando de ambientes intocados pelas mãos destruidoras dos humanos. Mas o mesmo não deve valer, quando estamos tratando de ambiente altamente impactado, cercado por residências, como é o caso do Bosque dos Macacos. Esses animais deveriam ser zelados e monitorados pelo poder público.

Já que a área foi destruída e deve estar havendo um imblógrio jurídico, onde o direito de propriedade avança sobre uma área pública, recheado de dano ambiental, o poder público deveria agir como fiel tutor dos macacos, da natureza, da qualidade de vida. Será que é utopia defender que aquela floresta seja estatitizada para transformá-la em Unidade de Conservação? Será que as autoridades competentes sabem que protegido, o local pode ser autossustentável, economicamente falando, com recursos obtidos pelo ICMS Ecológico?

Se que tem a caneta na mão quiser, transforma o local em referência de estudos sobre os primatas. Constrói no local uma Casa do Pesquisador e faz do limão uma limonada suíça, garantindo um frescor coletivo, literalmente. “Ah, mas isso custa muito dinheiro…”, diriam. E quanto dinheiro custou pra destruir as Sete Quedas? E para formar o lago de Itaipu? Percebem que quando é pra preservar não tem dinheiro, mas a recíproca não é verdadeira?

Não existe um único empresário, uma grande instituição capaz de romper esse ciclo de destruição, arrematar esse local e transformar em santuário? Essas grandes corporações, esses grupos investidores, eles não pensam que o dinheiro só será útil se tiver onde gastar e investir? Que a qualidade de vida deveria ser motivo também para despertar a cobiça? Marketing Verde, quando combina com a realidade, é algo fantástico.

E a pergunta é: até quando a sociedade vai assistir o Poder Público continuar omisso com suas responsabilidades? Sem pressão, sem uso das redes sociais, sem imprensa que mete o dedo na ferida, será sempre assim: um faz fiscaliza, enquanto a motosserra come solta. E quando a bomba estoura, interditam as obras. Mas não são mais capazes de interditar a destruição.

O vídeo que segue, com roteiro e locução de Lucas M. Aguiar – Primatólogo. Professor e pesquisador da UFPR e UNILA, retrata esse descaso que paira em torno do Bosque dos Macacos. Imagens e edição: Marcos Labanca Pós-Produção: Claudio Siqueira

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