O G9 atropelou a base de sustentação do prefeito Joaquim Silva e Luna (PL) na Câmara e assumiu o controle de todas as comissões permanentes, fazendo valer a vantagem numérica de nove votos contra seis. O bloco governista passa a coadjuvar apenas na suplência dos colegiados técnicos e políticos, que regulam o ritmo de tramitação de projetos e matérias que vão a plenário.
O G9 é uma aliança informal de vereadores autodeclarados independentes, isto é, que atuam em conjunto, afirmam, para fazer o que é mera obrigação de representantes eleitos pelo voto popular na instância parlamentar: legislar em favor da coletividade e fiscalizar o prefeito e seus secretários. O grupo foi composto a partir da erosão da base governista no Legislativo, mantendo até aqui atuação mais pragmática do que programática.
Todavia, o resultado da eleição para as seis comissões permanentes, nesta semana, enviou um recado inequívoco ao primeiro andar do Palácio das Cataratas, em mais uma demonstração de que a governabilidade de Silva e Luna transcorre em zona turbulenta. De pronto, expõe que sua base encolheu, sinal claro de fragilidade para um prefeito que está apenas no primeiro ano de mandato, o que costuma cobrar alto preço.
A mesa diretora, com fiéis palacianos à frente, sob o comando de Paulo Debrito (PL), terá de negociar e fazer concessões. Tornam-se mais dificultosas decisões que anteriormente eram dadas como favas contadas, como o arquivamento automático de denúncias. A emissão de pareceres de legalidade de proposições, antes mais generosa com a situação, agora muda de mãos. Ritmos, ritos e prazos passarão por outra peneira.
O resultado da eleição das comissões permanentes para 2026 não é somente uma derrota burocrática para o prefeito e seus vereadores, mas a materialização de uma nova correlação de forças. Redefine o tráfego no tabuleiro e, sobretudo, encoraja quem já olha para a sucessão da mesa diretora, podendo precipitar a disputa pelo segundo cargo mais importante do município, o da presidência da Câmara.
A exaustão da relação entre a maioria dos vereadores e o prefeito já era notória. A sucessiva derrubada de vetos assinados por Silva e Luna e a abertura de duas comissões parlamentares para investigar a gestão — uma no Foztrans e outra na Educação, além de uma terceira que aguarda na fila — são sinais objetivos. A liderança do governo na Câmara permanece absorta, capaz apenas de dialogar com as vozes de um vulto ideológico e militante.
O G9 mostrou que tem as cartas, as cadeiras e o cronômetro. Por outro lado, ainda tem muito a provar à população. Troca de ofícios em despachos intermináveis ou vídeos lacradores da tribuna para as mídias digitais não são resultados efetivos. O fiasco do Natal é prova disso, demonstração da ausência de ações fiscalizadoras e responsabilizadoras enérgicas. No jogo da política, quem dá as cartas dispõe de vantagem. Ter a iniciativa do movimento, porém, também pode tirar agentes da condição de pedra para torná-los a nova vidraça.

