Sobra de vagas presenciais no ensino superior de Foz do Iguaçu preocupa setor da educação

Enquanto procura pela modalidade presencial cai, aumenta ingresso de estudantes no EaD.

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A cada ano sobram mais vagas presenciais nas instituições de ensino públicas e privadas de Foz do Iguaçu. Em 2021, um total de 5.376 ficaram ociosas, conforme levantamento da Hoper Educação.

Neste ano, a situação não é diferente. Somente em julho, duas instituições públicas, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), anunciaram chamadas para o preenchimento de 580 vagas em vários cursos de graduação.

A procura pelos cursos presenciais começou a dar sinais de enfraquecimento antes mesmo da pandemia e ganhou força recentemente. Para se ter uma ideia, em 2021 as matrículas na modalidade de ensino a distância (EaD) já predominavam na rede privada de Foz do Iguaçu.

Naquele ano, um total de 37 instituições particulares ofertou curso de graduação na cidade, resultando em 7.758 matrículas na modalidade EaD contra 6.730 presenciais, conforme a Hoper. A expectativa da Hoper é a de que a EaD em Foz mostre crescimento de cerca de 18% entre 2022 e 2023.

O número de matrículas presenciais diminui à medida que aumenta o da modalidade do ensino a distância. E nesse cabo de força, quem leva vantagem é a rede privada, que hoje detém a maior parte da oferta de EaD no país. “Estamos em um novo momento do mercado da educação, e a rede pública demora mais para dar uma resposta”, analisa Paulo Presse, coordenador de Estudos de Mercado da Hoper.

Na avaliação de Presse, os alunos hoje estão mais próximos da realidade digital. E para esses estudantes o conceito de ensino é muito diferente do que gestores e professores trabalham atualmente em sala de aula.

Entre 2019 e 2021, o encolhimento das matrículas presenciais nas instituições situadas na região de Foz do Iguaçu chegou a 16%, acima da média do Paraná, que foi de 10%.

Conforme a Hoper, atualmente Foz tem cerca de sete mil universitários na rede pública de ensino e outros oito mil na rede privada. Na rede pública, apenas a Unicentro ofertou cursos EaD para Foz do Iguaçu em 2021.

A sobra de vagas não é uma realidade exclusiva de Foz do Iguaçu e acompanha uma tendência nacional da educação, segundo estudos da Hoper. A redução no número de matrículas na modalidade presencial começou em 2015, impulsionada pela crise econômica e retração na oferta do Financiamento Estudantil (Fies).

Campus da Unila no Jardim Universitário, em Foz do Iguaçu. Imagem: Comunicação/Unila

Mensalidade atrai alunos para a EaD

Para operar, as instituições EaD privadas montam unidades enxutas, nas quais os alunos podem realizar provas e ter acesso remoto às aulas.

O valor das mensalidades e a facilidade de acesso sem a necessidade de deslocamento e de gastos com transporte acabam atraindo mais os alunos para o sistema EaD nas instituições privadas. Enquanto uma mensalidade na modalidade presencial custa em média R$ 750, no ensino EaD o valor cai para a média de R$ 229.

Outro motivo é a disponibilidade dos estudantes. Muitos precisam trabalhar e têm dificuldades para frequentar cursos integrais ou em horários diurnos, que são majoritários nas universidades públicas.

Atualmente, 75% das graduações no Brasil são ofertadas pela rede privada, contra 26% da rede pública. E no setor privado, o EaD já corresponde à metade dos alunos, ou seja, 51,3%. Em 2011, perfazia apenas 16,4%.

O curso de Pedagogia é um dos mais procurados na modalidade a distância. Na presencial, a adesão ao curso de Engenharia, por exemplo, caiu após o Ministério da Educação (MEC) liberar o EaD.

Para Presse, o número de matrículas no EaD deve disparar caso o MEC libere a oferta dos cursos de Psicologia e Direito nessa modalidade. O curso de Psicologia, por exemplo, está entre os mais procurados na modalidade presencial hoje em dia, a exemplo de outros da área de saúde.

Cursos com vagas ociosas podem fechar na Unioeste

Em entrevista ao Marco Zero, programa produzido pelo H2FOZ e Rádio Clube FM, o diretor do campus da Unioeste em Foz do Iguaçu, professor Fernando Martins, disse que cursos com vagas ociosas podem ser fechados em razão da Lei Geral das Universidades (LGU).

A lei entrou em vigor há três anos e estabelece parâmetros relativos ao financiamento e distribuição de recursos entre as universidades estaduais do Paraná.  Uma das premissas é o fechamento de cursos que tenham turmas reduzidas e baixa procura.

Em relação à redução do ingresso na universidade, Martins acredita que um dos motivos seja a dificuldade para os estudantes se manterem exclusivamente no ensino. Muitos deles enfrentam longas jornadas de trabalho, o que dificulta o estudo.

“O estudante tem que trabalhar, e é pesado fazer um curso em uma universidade pública, que é muito exigente, com uma jornada de às vezes 8 a 12 horas de trabalho.” O ideal, de acordo com ele, seria o jovem estar voltado exclusivamente para a formação universitária. Por isso, é importante a assistência estudantil com a oferta de bolsas, por exemplo.

O campus de Foz do Iguaçu tem 12 cursos de graduação nas áreas de humanas, ciências sociais e exatas, e não tem registro de abertura de cursos há mais de 20 anos. A média de vagas em cada curso é 40. Já estão aprovados internamente mais de 15 outros, incluindo Psicologia, Medicina, História e Física. No entanto, é preciso uma decisão política para a implantação.

Segundo Martins, em anos anteriores a Unioeste tinha hegemonia na oferta de vagas em Foz do Iguaçu, situação que mudou com a chegada da Unila e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

“O pós-pandemia transformou a relação da juventude com a universidade”, declarou Martins. Durante a pandemia e depois dela, a Unioeste teve queda acentuada na procura.

Entrada do campus da Unioeste em Foz do Iguaçu. Foto: Assessoria de Imprensa/Unioeste-Foz

Unioeste/Foz: em dez anos caiu pela metade o número de candidatos nos vestibulares

Menos de mil estudantes participaram do último concurso. Queda também é notada em outros campi.
Por Vacy Álvaro

Recentemente, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) encerrou as inscrições para o programa de ingresso em vagas ociosas, o Provou. Sem prova, o campus de Foz do Iguaçu ofertou 329 vagas, em 13 cursos gratuitos de ensino superior.

Essa sobra de vagas é reflexo da baixa procura dos estudantes pelos vestibulares da instituição, forma de ingresso de 50% dos alunos da Unioeste.

Um levantamento realizado pelo H2FOZ mostra que em dez anos o número de candidatos diminuiu mais da metade. Em 2014 foram 2.049 inscritos; em 2023, apenas 909. Em 2021 e 2022, esse número chegou a ser ainda menor.

A diminuição de candidatos não é exclusiva do campus de Foz. Na média geral dos cinco campi da instituição, o número de concorrentes reduziu 31%. Marechal Cândido Rondon (-65,5%) e Toledo (-62,1%) registraram um decréscimo ainda maior. Apenas o campus de Francisco Beltrão teve aumento no período (24,6%).

Vestibulares da Unioeste

Em dez anos, o número de candidatos inscritos diminuiu 31%. Dos cinco campi da instituição, apenas Francisco Beltrão teve aumento na comparação.

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3 Comentários
  1. […] a matéria completa no portal H2Foz, parceiro do […]

  2. Leonor Venson de Souza Diz

    Na minha opinião, não acredito ser a tendência do ensino EAD o principal motivo da evasão de matrículas no ensino superior. Outros fatores devem ser investigados, tais como novas tendências de mercado, estabilidade do ensino (greves, paralisações, etc) público alvo e mercado de trabalho, dentre outros.

  3. Oscar Diz

    Fiz um curso presencial e não me arrependo pelo gasto e o tempo que tive. A impressão que tenho é que a sociedade quer hj tudo instantâneo e rápido. Isso acaba com a qualidade e o conhecimento.

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