Por Professor Caverna
Se a gente juntar a vibe reflexiva da galera que curte filosofia com as letras instigantes dos Engenheiros do Hawaii, o papo fica mais intrigante do que final de série que ninguém entende. Os Engenheiros foram (pra quem nunca deixou de ouvir) uma banda que misturou rock, poesia e crítica social de um jeito tão fluido que dá vontade de sair compondo versos na hora. E, olha, refletir filosoficamente a partir das letras deles é quase um ritual, é mergulhar em questionamentos existenciais, sociais e até políticos, tudo embalado naquela sonoridade marcante que arrebatou gerações.
Quando a galera fala da “Infinita Highway”, a música mais emblemática dos Engenheiros talvez, não dá pra não pensar naquela estrada sem fim que cada um de nós percorre. Cada um de nós é um viajante, e essa estrada não tem placa nem limite de velocidade. Filosoficamente, dá pra encaixar esse rolê em várias correntes. Tem um pouquinho de existencialismo (aquele papo do Sartre e do Camus, de que a vida é uma construção contínua e, ao mesmo tempo, absurda), mas também lembra a ideia de Heráclito de que “tudo flui” (panta rhei). A vida é esse fluxo constante de escolhas, dúvidas e reencontros com si mesmo. Na boa, a “Infinita Highway” é quase um mantra para quem se sente à deriva em um mundo que não para de girar.

Logo depois, vem “Somos Quem Podemos Ser”, que é tipo um soco no estômago da mesmice. A letra manda: “Somos quem podemos ser”. A ideia de “podemos” remete à busca por identidade e a necessidade de deixar rastros, marcas, pegadas. Se a gente esbarra no pensamento de filósofos como Heidegger, rola a noção de “ser-para-a-morte”, somos finitos, e, portanto, o que fazemos nesse intervalo é fundamental para a constituição de quem somos. É aquela pegada de “existência precede essência” (jeito sartriano de dizer que não nascemos prontos, vamos nos tornando ao longo da vida), mas com tempero pop-rock, numa batida que faz o coração acelerar. Pensa, quantas vezes você já saiu cantarolando esse refrão no carro, sentindo que, de fato, estava montando sua própria narrativa de vida?
Se no primeiro momento a pista é interna, em “O Papa é Pop” os Engenheiros apontam para fora, para a sociedade. Aqui, a crítica não é só à igreja ou à figura do papa como ícone midiático, mas a qualquer autoridade que cobre obediência cega. Tem uma relação direta com o pensamento de pensadores como Michel Foucault, que falam sobre poder e discurso, quem dita a verdade? Quem controla as narrativas? E mais, a letra faz a gente pensar no jogo de aparências, na manipulação, o papa virou uma figura pop, como se fosse uma celebridade com agenda de shows e aí se questiona o papel da religião, da mídia e do poder institucional. O momento em que a guitarra dispara é quase um grito de libertação: “ei, você aí, para e reflita antes de engolir qualquer discurso”.
Aí vem “Toda Forma de Poder”, que tem uma pegada mais sombria e anárquica, mas igualmente filosófica. A letra investe em metáforas que desconstroem a ideia de amor romântico padrão e expõem relações de dominação, dá pra colar um pouco de pensamento marxista (quando se fala em poder e dominação, sempre bate um eco da crítica marxista à alienação), mas também um toque de filosofia da linguagem, como as palavras carregam sentidos que, às vezes, aprisionam. No clímax, bate aquele questionamento, o que é amar de verdade? Será que amar não envolve, de certa forma, algum tipo de poder, controle? A música provoca a gente a olhar no espelho e perguntar, “será que eu amo, ou só sigo o script social que dita como amar?” E é aí que o lance filosófico aparece de verdade.
Quando a gente chega em “A Revolta dos Dândis”, é como se acordasse de um sonho e percebesse que a rebeldia, muitas vezes, está na simples escolha de ser diferente. A letra escancara a ideia de, “Você tem de ir, até o fim, sem saber pra onde vai…” É aquele papo de Nietzsche, não explicitamente, mas na essência: “torna-te quem tu és”. A revolta não é só contra o sistema, mas contra a conformidade interna, contra a preguiça de questionar tudo. Tem uma vibe dândi que remete ao esteta que recusa a vulgaridade do mundo massificado. E, no meio desse rock, rola a ideia de que ser livre é recusar encaixes prontos algo bem na linha da pedagogia libertadora de Paulo Freire, quando ele fala em exercer a consciência crítica. E a batida, vai virando um hino, a gente se sente parte de uma revolução silenciosa, onde cada um faz sua arte e desbanca o tédio.
E não dá pra esquecer de “Refrão de Bolero”, uma música que, de cara, já te coloca num clima de melancolia filosófica. Ela evoca aquela discussão epistemológica sobre limites do conhecimento, será que a gente consegue mesmo apreender o mundo, ou só dançamos um bolero ignorando as arestas do real? Lembra Descartes e seu “penso, logo existo”: nossa percepção é a única certeza? A música sussurra que há um abismo entre o que sentimos e o que efetivamente é, e que essa fissura pode gerar angústia, mas, por outro lado, é fonte de liberdade criativa.
“O Exército de um Homem Só” traz uma dualidade filosófica, a de ser minoria contra a maioria. Tem cara de filosofia política tipo Hannah Arendt, discutindo a banalidade do mal e como sistemas apátridas sufocam o indivíduo. A letra coloca o sujeito como resistência, quase um ato de rebeldia existencial. O “exército” é metafórico, mas significa que, às vezes, basta uma ideia, uma atitude, para enfrentar gigantes. É a potência do indivíduo autônomo, que não se conforma com a dominação. Essa ideia remete ainda ao contrato social de Rousseau, ser livre é resistir a toda forma de opressão, mesmo que isso signifique estar sozinho.
Agora, liga nessa, ao refletir sobre Engenheiros do Hawaii e a Filosofia, a gente percebe que muitas letras falam diretamente com quem está na faixa dos 15 a 30 anos, fase em que tudo é novidade, incerteza e vontade de virar o mundo de cabeça para baixo. O tom jovial das músicas (mesmo quando falam de conflito ou melancolia) é aquele grito de “quem somos nós nesse caos todo?”. A impermanência é tema recorrente, um dia você está na crista da onda, no outro, se sente deslocado, e isso, por mais dramático que pareça, é o ponto de partida de qualquer reflexão filosófica, nada permanece igual, e essa efemeridade nos obriga a repensar nossas escolhas, a reinventar nossa identidade e a lidar com a finitude do tempo.
Os Engenheiros (Humberto Gessinger) tem um talento especial para usar palavras simples, melodias diretas e refrões grudados, mas, por trás disso, havia uma camada profunda de questionamento. Isso coincide com a proposta da filosofia, não adianta falar difícil pra impressionar, o lance é provocar o pensar.
Filosofar com Engenheiros do Hawaii é quase um ritual iniciático, você coloca o som pra rodar, se deita no chão, fecha os olhos e deixa as notas e os versos atravessarem sua corrente sanguínea. Não é raro a galera montar um esquema de “shirts and skinny ties” (referência a “Infinita Highway”) e sair pelo quarto sublinhando trechos da letra no bloco de anotações. A prática reflexiva aqui tem cara de oficina de criação, um bate-papo que mistura teoria filosófica com café (ou energético), discussões sobre futuro do país, amor não correspondido e aquele meme do momento. Essa intersecção entre arte e filosofia é o que faz o rolê ser tão viciante.

Quando a vida dá umas rasteiras, a gente lembra de “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, cover que os Engenheiros fizeram, mas que virou hino para quem se questiona sobre guerras, violência e manipulação midiática. A letra fala de um garoto que morreu na guerra, sem nem saber direito por quê, e é a metáfora perfeita para ressignificar frustrações, a angústia de ver o mundo afundar em conflitos tolos e a urgência de pensar em alternativas. É como se a guitarra dissesse “leva essa dor, joga num riff e transforma em crítica consciente”.
Você pode até questionar a solidão do indivíduo nas letras, mas os Engenheiros sabiam que, pra filosofar, é preciso diálogo, não é um exercício solitário em torre de marfim, é conversa, discussão, refutação e, às vezes, aquele debate acalorado que rola madrugada adentro. Por fim, tem algo na batida marcante, no solo de guitarra ou no riff de baixo dos Engenheiros que faz a gente perceber que, na filosofia, não basta argumentar friamente: é preciso sentir. No fim das contas, usar as letras dos Engenheiros do Hawaii como ponto de partida para reflexões filosóficas é uma forma de arte em si mesma. É pegar o verso, rasgar as camadas superficiais e revelar o cerne das perguntas: quem sou? para onde vou? o que faço aqui? A linguagem jovial, o jeito irreverente e, às vezes, sarcástico que Humberto Gessinger imprimiu nas composições ajudam a desconstruir o tédio que muitos associam à filosofia. Afinal, refletir não precisa ser algo sisudo e cheio de termos ininteligíveis, pode (e deve) ser sincero, leve, com aquela pontada de rebeldia que faz a gente questionar tudo até nossas próprias certezas. A vida é, Infinita Highway!
Convite Especial: Café Filosófico
Reflexões para Pais e Filhos
Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.
Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.
Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador
Data e local: Zeppelin
Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!
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Ingressos para o V Café Filosófico:

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Comunidade do “Café Filosófico” no WHATSAPP:

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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!
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