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Filosofia cotidiana

Facilidades do século XXI, uma vida confortável ou escravos da comodidade?

Professor Caverna convida André Marques para refletir sobre a sociedade.

9 min de leitura

Por André Marques

Um quarto do século XXI passou, e vivemos uma época muito confortável, onde é possível tomar um avião e em algumas horas estar em outro continente; comprimidos, vitaminas e os mais variados tipos de remédios são utilizados para garantir a saúde e longevidade. Mas até que ponto a vida do homem contemporâneo não é voltada unicamente para esta finalidade: a de buscar o máximo de conforto? Estudamos, trabalhamos, visando uma ascensão social e financeira. Toda a vida é direcionada para isto. Até que ponto não estamos sendo escravos da comodidade?

Para desenvolver esta reflexão, me apoiarei em dois exemplos que facilitarão a visualização de certos comportamentos típicos do mundo em que vivemos, mas que não eram tão comuns há algum tempo atrás. Dostoiévski retratou em Rodion Raskolnikov – personagem principal de Crime e Castigo – uma sede de ascensão social que terminou em tragédia. No caso, Raskolnikov se achava brilhante e inteligente, acreditando-se um gênio extraordinário a ponto de poder quebrar leis e parâmetros estabelecidos para subir na vida.

De igual modo, Stendhal dá vida a Julien – em O vermelho e o negro -, um jovem talentoso que busca penetrar as camadas mais altas da sociedade utilizando-se da carreira clerical para este fim. Assim como Raskolnikov, a vida de Julien termina de maneira trágica.

Ora, em ambos os casos é visível a ânsia por ascensão social, algo que ganhou força, digamos, depois dos feitos de Napoleão Bonaparte. Este cumpriu seus ousados objetivos, veio de origem humilde, subiu até o posto de Imperador, redesenhou o mapa europeu e foi um exemplo e tanto para a juventude posterior. Note-se que antes do general, a ideia de subir na vida simplesmente não existia. Um camponês medieval não possuía tanta mobilidade social e nem desejava fazer outra coisa da vida, continuaria sendo para sempre um camponês.

Com esses exemplos em mente, que servem como pano de fundo para a ideia a ser desenvolvida, torna-se mais fácil questionar: O que exatamente o homem contemporâneo busca? Se perguntamos aos jovens, que estão saindo do ensino médio e prestes a entrar na faculdade, eles responderão à pergunta sobre o que querem da vida com algum curso universitário que pretendem fazer; falarão de suas carreiras, o que pretendem construir e coisas do gênero. É a ideia de ascensão social ainda muito viva no coração de todos.

Desde pequenos somos condicionados a esta ideia, de modo que crescemos acreditando que precisamos subir na sociedade, alcançar um certo sucesso financeiro para então nos tornarmos bem-sucedidos. Lembro-me de um juramento que fiz na pré-escola, diante de um público até bem grande, onde num determinado momento havia a seguinte frase: “…juro que governarei o mundo!” (o que isso não causa na cabeça de uma criança de cinco anos!).

Tendo isso em vista, torna-se possível notar a tendência que toda a sociedade atual possui de melhorar de vida, buscar em última instância o conforto – afinal, é por isso que todos querem dinheiro e status social – e a segurança. Mas até que ponto não abrimos mão do que é essencial em busca desses bens secundários?

Voltando à pergunta sobre “o que se quer da vida?” é muito raro alguém que responda dizendo querer ser virtuoso, sábio, santo ou qualquer coisa que o valha. Esses valores simplesmente sumiram do imaginário popular, aliás não só da grande massa, mas escapa até mesmo à imaginação das classes mais altas da sociedade. De modo que todos acabam entrando na “corrida dos ratos”, e toda a vida é pautada em valores materiais imediatos.

É possível rastrear essa ideia, impregnada no âmago de cada indivíduo atualmente, até Napoleão – vivemos num “mundo Napoleônico”, afinal. Mas também são visíveis outras correntes de pensamento influenciando as ações das pessoas do século XXI. Como o Iluminismo, o ideal revolucionário e outros. Mas tudo dizendo respeito a caracteres de ordem inferior da ação e da vida humanas, tais como necessidades materiais e políticas. Desse modo, a metafísica e o que há de mais alto e imaterial para o ser humano buscar são relegados a segundo plano (até mesmo a ética e a moral passam a ser meras convenções após o advento da modernidade, convenções estas que podem ser relativizadas).

Esse sacrifício do que é superior em prol do que é inferior é visível no comportamento geral. Ora, voltando aos exemplos literários, Raskolnikov acaba matando uma pessoa para conseguir o que quer (e a quem não leu o livro, perdão o “spoiler”). Ou seja, algo muito mais elevado é deixado de lado para atingir um objetivo mais baixo e mesquinho, e que, no entanto, foi elevado a uma categoria superior. Tendo isso em vista, quantas vezes não abrimos mão de quem somos para conquistar cargos e posições que almejamos?

É evidente que há um contraponto a ser considerado. Afinal, pode-se pensar: “certo, mas então o que devemos fazer? Voltar a viver como camponeses medievais sem a mínima ambição de ter uma vida melhor?”

Ora, é evidente que o mundo atual possui suas vantagens. Obviamente é bom ter uma vida confortável, alguma segurança financeira. É maravilhoso poder curar uma gripe com alguns comprimidos, ter dinheiro para viajar e outras regalias semelhantes. Desse modo, podemos sim pensar em melhorar um pouco nossa condição de vida atual. É possível planejar uma certa ascensão social, buscar ter uma vida boa e cômoda. Há, evidentemente, muitas vantagens do progresso – tecnológico sobretudo – contemporâneo.

Do mesmo modo, é possível pensar que não faz muito sentido abandonar todas essas possibilidades de crescimento pessoal e material e tentar viver de um modo semelhante a um monge, distante de tudo e negando a possibilidade de desenvolvimento e crescimento social que está disponível a todos. Se é possível melhorar um pouco de vida, qual o problema?

Também é válido pensar em um meio-termo. Tal como no filme Capitão Fantástico, no qual um homem cria seus filhos longe da civilização, em um estilo de vida mais primitivo. Seus filhos são saudáveis, fortes e muito mais inteligentes que a maioria das pessoas civilizadas. Mas, em um determinado momento, ele percebe que o que fazia era extremo demais e, ao final do filme, eles passam a viver uma vida que seria um meio-termo entre aquela que levavam na floresta e a vida moderna.

Ora, uma espécie de equilíbrio aqui é totalmente possível e viável, e talvez o mais sensato. De modo que não voltemos ao período medieval onde não há praticamente nenhuma possibilidade de mobilidade social, mas também não entremos na “corrida dos ratos” abrindo mão de quem somos para conseguir um pouco de acomodação e segurança material.

Portanto, atualmente possuímos uma tendência, e também uma pressão do meio para que busquemos um desenvolvimento pessoal de tipo financeiro e material e uma ascensão social a todo custo. Há quase que uma obrigação em “vencer na vida”, e pouquíssima preocupação com a busca por virtudes, pela sabedoria, o desenvolvimento intelectual genuíno e desinteressado. De modo que muitas vezes abrimos mão de quem somos, do que realmente queremos e buscamos, por algumas migalhas como uma segurança material ou uma vida opulenta, ou pior o simples reconhecimento de um grupo ou determinado status.

E enquanto isso é, sem dúvidas, algo que empurra a maioria dos indivíduos a uma vida medíocre, ao mesmo tempo não é possível fugir completamente de alguma ambição por algumas dessas felicidades modernas. Resta para cada um pensar a respeito de si próprio, e administrar aquilo que realmente deseja para sua existência, para que veja se está realmente vivendo a vida que queria, ou somente correndo atrás de fantasmas que a sociedade atual lhe impôs como sendo algum tipo de felicidade.

Convite Especial: Café Filosófico

Reflexões para Pais e Filhos

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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!

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Professor Caverna

Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.

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