Parque Nacional da Argentina devolve câmera a fotógrafo. Mas apaga até fotos pessoais

Polêmica sobre fotografia nas Cataratas del Iguazú continua. Matéria que publicamos tinha algumas inconsistências e erros, que apontaremos neste texto.

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O fotógrafo profissional de Puerto Iguazú Sixto Fariña, que teve apreendido seu equipamento por guardas florestais do Parque Nacional Iguazú, na Argentina, recuperou a câmara. Mas, quando analisou seu material, viu que todas as fotos tinham sido apagadas, um “ataque à propriedade privada e à liberdade de expressão”, como denuncia o portal El Territorio, de Posadas, província de Misiones.

A apreensão dos equipamentos, pelos guardas florestais, ocorreu na sexta-feira, 22, quando o fotógrafo estava fazendo uma visita às Cataratas, acompanhado da família. Ele entrou como turista e, como turista, estava fazendo fotos dos atrativos naturais.

“Quando devolveram a câmera, me fizeram uma ata de infração, que assinei discordando”, contou Fariña ao El Territorio. “A verdade é que tenho 46 anos de trabalho e nunca me aconteceu isto”, disse, entre lágrimas, ao informar que as memórias de sua Nikon profissional tinham sido apagadas.

“Desde que me tiraram a câmera, na sexta-feira, às 13h, me senti impotente, porque não podia entender a situação, que me tirem a câmera e apaguem a memória. Isso em minha própria província. Nem a polícia fez isso comigo nunca”, desabafou.

A alegria de Fariña, quando devolveram a máquina, durou pouco. Logo ele descobriu que os cartões de memória tinham sido apagados.

Fariña explicou que ao meio-dia de sexta-feira um conhecido empresário lhe pediu que fotografasse o parque, porque as imagens iriam ser utilizadas para ilustrar notas informativas de El Territorio. Enquanto passeava com seu filho, ele fez fotos, como qualquer visitante, e aí começaram os problemas.

Quando estava na Garganta do Diabo, cruzou com um fotógrafo do local, “Ele me disse que eu estava tirando fotos para vender, mas eu disse a ele que ficasse tranquilo, porque não era isso”.

O fotógrafo, suspeita Fariña, avisou o pessoal da guarda florestal. “Quando saímos até a área do trem, com o grupo que havia feito o percurso, um guarda florestal me parou e perguntou que fotos estava tirando e eu expliquei. Me pediu então uma permissão escrita, Sinceramente, não sabia que devia ter uma permissão, ninguém nunca me disse nada”.

O guarda florestal o acompanhou até a gerência da empresa que administra a visitação, onde o gerente lhe disse que seria melhor que lhe entregasse a memória da câmera. Ele se negou e o funcionário disse que iria firmar uma ata.

O pior veio depois. Ele foi levado ao escritório dos guardas florestais, onde lhe disseram que tinha duas opções: entregar o equipamento ou apagava a memória. Fariña tirou a memória do telefone, apagou e entregou ao funcionário.

Mas, a seguir, apreenderam sua máquina, fizeram-no assinar uma ata, em que ele se disse em desacordo e que iria ficar ali até o equipamento ser devolvido. A ata é assinada pelos guardas florestais Héctor Ball e Aguirre.

Além de todo o apoio que recebeu nas redes sociais, a Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas se solidarizou com Fariña e criticou a atitude da autoridades do parque que, “sem ordem judicial alguma, apagaram o material e lhe tiraram durante dois dias o equipamento de trabalho do repórter fotográfico”.

Sixto é um dos profissionais da fotografia mais conhecidos de Puerto Iguazú. Foto de sua página no Facebook

As memórias do seu equipamento continham desde as fotos que fez do Parque, a pedido de El Territorio, para o qual produz “há décadas”, como também fotos particulares.

Sixto Fariña disse ao El Territorio que não vai ficar por isso. Ele vai se reunir com um advogado e analisar os passos a seguir. “Vamos fazer todas as representações legais e ante os organismos de imprensa da província e do país, para que ninguém mais tenha que passar pelo que passei”, ressaltou.

El Territorio lembra que, pelo menos há dois anos, numa decisão incompreensível, a administração do parque Nacional Iguazú restringiu o acesso ao ponto de melhor vista da Garganta do Diabo, onde só se pode chegar pagando a fotógrafos autorizados o valor de uma fotografia. “Assim, a administração do parque, hoje a cargo de Sergio Acosta, monopolizou a melhor vista da maravilha natural em benefício de uns poucos”.

Dentro da área protegida, lembra ainda o portal, trabalham fotógrafos que fazem parte de uma associação, com base numa resolução da Administração de Parques Nacionais.

A resolução prevê que, a cada ano, os fotógrafos devem renovar sua licença, com a apresentação de uma série de documentos e pagar uma taxa. Entre os documentos a apresentar, estão antecedentes penais, constância de contratação de um seguro de trabalho anual, certificado médico e monotributo.

Os fotógrafos vendem seu produto aos turistas, alguns no Salto Bosetti e outros num balcão da Garganta do Diabo, local conhecido como “curralito”.

PONTOS A PONDERAR

O “curralito”: o canto de cá é exclusivo dos fotógrafos, mas não chega a impedir totalmente que turistas façam fotos. Atrapalha um pouco, claro. Foto El Territorio

A matéria Que absurdo! Turistas não podem fotografar Garganta do Diabo nas Cataratas da Argentina deu pano pra manga. Isto é, gerou críticas ao Parque Nacional Iguazú, à atitude dos guardas florestais, ao governo argentino e, principalmente, ao redator do texto.

Vamos às explicações iniciais. O texto se baseou em reportagem do portal El Territorio, de Posadas, província argentina de Misiones. Então, eram argentinos falando de um problema argentino.

Mas não foi apenas El Territorio que noticiou. Outros jornais e sites também publicaram a notícia sobre a apreensão da máquina do fotógrafo.

Os possíveis erros de informações dali provieram. Mas com uma coisa é preciso concordar: houve no mínimo excesso na atuação dos guardas florestais, em relação ao fotógrafo Sixto Fariña. Quem sabe a Justiça venha a concordar com isso.

Mas, quanto à proibição de turistas fotografarem a Garganta do Diabo, houve exagero ao menos no título. É só um pequeno espaço (mas de onde se tem a melhor vista) que é destinado exclusivamente aos fotógrafos autorizados pelo parque.

O CONTRAPONTO

Sobre isso, vamos ver o que escreveu Virginia Hauptman, uma argentina-brasileira:

Sou guia de turismo aqui em Foz do Iguaçu, tenho dupla nacionalidade, pois meu pai é argentino e um dos fotógrafos pioneiros do Parque Nacional do Iguazú. Sou fotógrafa do parque argentino, também, e assim como explicou o presidente da associação (veja na matéria anterior), todos os anos temos que renovar nossas credenciais para seguir trabalhando no parque argentino.

O espaço mencionado foi delimitado justamente para oferecer maior comodidade aos visitantes, para que o grupo de fotógrafos não esteja espalhado pelo “balcão” da Garganta do Diabo. O espaço destinado aos fotógrafos é pequeno. Não tem nem um metro. Utilizamos uma escada para facilitar a tomada de fotografia e melhor ângulo. A intenção em todo momento e proporcionar o melhor serviço aos visitante, e não limitar espaço algum .

O balcão da Garganta do Diabo não é grande e fica congestionado em dias muito movimentados. O grupo de fotógrafos autorizados do parque é composto por pessoas muito profissionais e atenciosas, que muitas vezes atuam como agentes ambientais, auxiliando o trabalho dos guardas florestais, solucionando inúmeros problemas… Como exemplo, atenção em primeiros socorros quando algum turista passa mal, etc.

A atuação dos guardas florestais na retenção de equipamento não deve ser entendida como atuação dos colegas fotógrafos. A abertura do parque nacional, para que profissionais liberais possam trabalhar, é um benefício para a pequena sociedade de Puerto Iguazú, visto que a cidade não oferece muitas opções de mercado de trabalho e os fotógrafos registrados, hoje, chegam a quase 100. Ou seja, 100 família dependem desse louvável trabalho. Trabalho sempre desenvolvido com bastante carinho e profissionalismo.

PRA RESUMIR, ALGUMAS CONCLUSÕES

– os turistas podem fazer fotos em qualquer ponto do Parque Nacional Iguazú, com exceção de um pequeno espaço na Garganta do Diabo;

– não dá pra concordar com a atitude dos guardas florestais que, sem autorização judicial, não apenas apreenderam o equipamento de um repórter fotográfico profissional, como ainda apagaram as fotos dos cartões de memória, inclusive as particulares;

– mas também não dá pra concordar que esta é uma atitude típica dos argentinos, como disseram vários leitores, via Facebook, nem com o que outros disseram, que jamais irão visitar as Cataratas do “lado de lá”. Independentemente de qualquer bronca, a paisagem do lado argentino complementa a do lado brasileiro. E ambas as margens têm maravilhas imperdíveis.

– os próprios argentinos teceram muitas críticas à administração do parque e às situações criadas com a questão de fotos. Aliás, um dos leitores disse temer o tanto de fotógrafos do mundo inteiro que podem ter vivido situações semelhantes à de Sixto, mas que não chegaram ao conhecimento da imprensa.

– quanto às críticas feitas ao redator, as que forem justas estão anotadas e não se repetirão (esperamos).

COMO É NO PARQUE NACIONAL IGUAÇU, NO BRASIL

Turista tem liberdade para fotografar qualquer detalhe da área de visitação. Não há “curralito” para profissionais da fotografia.

No lado brasileiro das Cataratas, os turistas estão livres para fotografar o que quiserem, dentro do espaço de visitação, que vai do centro de recepção de visitantes até as quedas d´água. Não há reserva para fotógrafos.

Profissionais da imprensa local podem entrar no parque mediante um comunicado por email ou WhatsApp à assessoria de imprensa.

Profissionais de fora precisam se identificar e o veículo ao qual trabalham, até mesmo para ter ajuda. “Nós precisamos ter ciência de quem vem pra poder auxiliar”, explica a assessoria.

Já produtoras de vídeo têm que assinar uma papelada. É que, se este vídeo for utilizado numa publicidade, há um custo, que é exigência da União.

Mas ninguém é impedido de trabalhar. E uma situação como a que viveu Sixto Fariña jamais ocorreria no Parque Nacional Iguaçu.

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