Só cerca de 100 brasileiros atravessam diariamente a fronteira argentina

Exigências para entrar no país vizinho não estimulam a ida a Puerto Iguazú. O comércio de lá reclama.

Apoie! Siga-nos no Google News

Exigências para entrar no país vizinho não estimulam a ida a Puerto Iguazú. O comércio de lá reclama.

VÍDEO: O que sabemos sobre nós mesmos? Assista à nova história da série Vidas do Iguaçu.

Poucos países têm uma burocracia tão mal falada como a Argentina. Ainda mais quando se trata de trâmites na fronteira com os países vizinhos.

O Paraguai chegou a anunciar, via Migrações, que a partir deste sábado estaria reaberta a fronteira entre Encarnación e Posadas, a capital da província argentina de Misiones.

Pra isso, teria que ser publicada a decisão administrativa no equivalente ao Diário Oficial da Argentina. Não deu tempo. Não vai reabrir.

A reabertura da fronteira, nos primeiros dias, foi importante para que argentinos retidos em outros países pudessem retornar para casa. Foto Ministério do Interior da Argentina

DECEPÇÃO

Aqui, na fronteira com Foz do Iguaçu, o comércio de Puerto Iguazú vive uma desilusão sem tamanho. Com a reabertura da Ponte Tancredo Neves, há quase três semanas, os comerciantes aguardavam um grande fluxo de brasileiros.

A burocracia pra entrar na Argentina é tão grande que, em média, somente 100 brasileiros por dia aceitam se submeter às exigências. Nos finais de semana, o número sobe para cerca de 250, conforme balanço feito pelo portal El Territorio, de Posadas.

A primeira queixa dos brasileiros é ter que apresentar teste de PCR, feito com até 72 horas de antecedência. E isso tem custo: há laboratórios que cobram até mais de R$ 200.

Outra reclamação: declaração jurada ou juramentada, que precisa ser apresentada impressa ou ser feita ali na Aduana argentina, o que leva um bom tempo, principalmente por causa do fraco sinal de internet. E o pior é que a declaração precisa ser feita ao entrar e ao sair (isso, só um burocrata dos mais cretinos exigiria).

E mais: os argentinos só aceitam documentação no papel. Assim, não basta ter no celular o comprovante de imunização completa (duas doses), mas ter o documento no formato PDF.

Ainda na aduana, é preciso fazer o teste de antígeno (quer dizer, apresentar o PCR negativo não é suficiente). Antes, esse teste tinha que ser pago, mas o governo de Misiones decidiu assumir o custo. Menos mal.

Muitas pessoas que chegam até a fronteira argentina desconhecem as exigências. Por isso, perdem um tempão até atender tudo o que é pedido. Ou simplesmente desistem e voltam pra Foz.

AS QUEIXAS

Não é assim que o comércio e os restaurantes de Puerto Iguazú vão sair da crise, porque o turismo interno não é suficiente para recuperar o tempo e o dinheiro perdidos.

“Só resta esperar que eliminem toda a burocracia”, disse a El Territorio a comerciante atacadista Karina Villamea, que abastece os proprietários de bancas da Feirinha.

Um lojista do centro de Puerto Iguazú, Victor Enrique Fernández, disse que, no caso dele, as vendas aumentaram com a chegada dos brasileiros, “mas não o que esperávamos. Acreditávamos que teríamos um fluxo maior de brasileiros, mas não foi assim”.

Victor Fernández é diretor administrativo da loja O Salame Maluco e tem muitos amigos brasileiros em Foz, como se comprova em sua página no Facebook.

O desânimo é maior na Feirinha. Os comerciantes esperavam “um aluvião de turistas”, como diz El Territorio, o que obviamente não aconteceu.

A Feirinha foi “praticamente desenhada para brasileiros com produtos procurados por eles, assim só nos resta esperar que eliminem as exigências de PCR para começar a ver uma luz no fim do túnel”, disse um dos comerciantes.

E não só o PCR, mas a tal declaração jurada. Brasileiro é avesso à burocracia (aliás, tem povo que não o seja?).

FRONTEIRA PARAGUAIA

A situação é mais triste ainda na fronteira de Posadas com Encarnación, no Paraguai. Havia uma expectativa de que a ponte internacional San Roque González de Santa Cruz seria finalmente liberada neste sábado, com todos os protocolos sanitários que a Argentina exige, claro.

Ficou pra semana que vem, porque “a burocracia administrativa tem seus próprios prazos”, como critica El Territorio.

A portaria ou algo semelhante que autorizaria a reabertura da fronteira teria que ser publicada em órgão oficial, mas não houve tempo hábil.

A mesma portaria permitirá que outros pontos de fronteira entre a Argentina e o Paraguai sejam habilitados, bem como a fronteira seca entre o município argentino de Bernardo Irigoyen com Barracão (PR) e Dionísio Cerqueira (SC).

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.