Vinho argentino se torna objeto de disputa e violência entre máfias da fronteira

O contrabando de vinhos virou um negócio milionário, que teve seu auge durante a pandemia de covid-19.

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O contrabando de vinhos virou um negócio milionário, principalmente depois que a fronteira com a Argentina foi fechada.

Dois assassinatos com as mesmas características, no pequeno município argentino de Bernardo de Irigoyen, mostram que o contrabando de vinhos argentinos para o Brasil tornou-se um negócio milionário, agora disputado inclusive por criminosos profissionais.

Na quinta-feira (19) à noite, em pleno centro de Irigoyen, foi morto a tiros um argentino vinculado ao contrabando de vinhos, como noticia o portal El Territorio.

A vítima estava em sua caminhonete, esperando o sinal abrir, quando um motociclista parou ao seu lado e abriu fogo, acertando três tiros em sua cabeça.

O crime é semelhante ao que ocorreu em maio deste ano, quando um advogado foi também morto a tiros dentro de seu carro, ao ser atacado por uma dupla, que estava numa motocicleta. O crime ocorreu por volta da hora do almoço. O advogado também estaria envolvido com o contrabando de vinho.

Bernardo de Irigoyen tem menos de 11 mil habitantes e faz fronteira seca com as cidades brasileiras de Dionísio Cerqueira (SC) e Barracão (PR).

Os autores do primeiro homicídio foram flagrados por câmeras de vigilância, mas até agora não há pistas deles.

ASSASSINOS DE ALUGUEL

A presidente do fórum de segurança vicinal de Irigoyen, Elsa Segovia, diz que o mais preocupante é que os crimes são cometidos por pessoas sem qualquer escrúpulo e ante a presença de várias testemunhas.

Segundo as características dos dois homicídios, a conclusão é de que foram um acerto de contas, com os crimes cometidos por assassinos de aluguel brasileiros, que podem fugir rapidamente pela fronteira seca.

El Territorio lembra que, só no primeiro semestre de 2021, foram apreendidos R$ 33,8 milhões em bebidas contrabandeadas, em todo o Brasil, dos quais R$ 8,3 milhões somente em operações no município de Dionísio Cerqueira, fronteira seca com Bernardo de Irigoyen.

ASSALTOS E ROUBOS

A Receita Federal realizou operações intensas para reduzir a entrada ilegal de vinhos. Foto RF

O vinho argentino das melhores marcas é muito apreciado no Brasil. E o lucro dos contrabandistas é alto, já que uma garrafa pode ser vendida, aqui, por até R$ 2 mil. O contrabando floresceu durante a pandemia, com as fronteiras fechadas e a impossibilidade de brasileiros irem por sua própria conta fazer compras no lado argentino.

Além dos dois assassinatos, El Territorio conta que há outros antecedentes que deixam temerosos os negociantes de vinhos argentinos.

Em agosto, piratas do asfalto, disfarçados de policiais, interceptaram e roubaram uma carga de vinhos, que estava sendo trazida a Irigoyen.

Em outubro, assaltantes armados entraram numa vinoteca de Irigoyen e roubaram 200 caixas de bebidas, avaliadas em 4 milhões de pesos (cerca de R$ 130 mil, ao câmbio praticado na fronteira, mas o valor de revenda seria muitas vezes superior a isso).

EM CIUDAD DEL ESTE

Na fronteira do Paraguai com o Brasil, os assassinos de aluguel fizeram duas vítimas, de sexta-feira para sábado, como noticia o jornal Última Hora.

Na sexta-feira à noite, o comerciante David Jacob Kroth, dirigia sua caminhonete pelas ruas do bairro Trigal, naquela cidade, quando foi surpreendido pelos criminosos, que o estavam seguindo. Ele tentou fugir, mas os assassinos, a bordo de uma motocicleta, atiraram e o feriram de morte.

O comerciante perdeu o controle do veículo, que se chocou contra escombros. Ele morreu quando estava sendo levado ao hospital distrital de Hernandarias. Segundo fontes da polícia, esta seria a segunda vez que o comerciante foi atacado. Ele seria agiota e seu assassinato seria por vingança.

Horas mais tarde, já na manhã de sábado, houve outro assassinato em circunstâncias semelhantes.

Quando fazia compras num centro comercial, Diego Fernando Napoleón Gómez Silva foi atacado por dois homens e recebeu seis tiros na cabeça, morrendo quase instantaneamente.

O comissário Édgar Sanabria, chefe de operações da Polícia de Alto Paraná, disse ao Última Hora que a vítima tinha antecedentes criminais e a investigação será relacionada a um acerto de contas.

O jornal detaca que, este ano, o Paraguai já registrou 153 assassinatos cometidos por criminosos de aluguel.

Só em outubro, houve 29 vítimas (23 mortos e seis feridos), o índice mais alto do ano e, provavelmente, também da história do Paraguai, de acordo com o Última Hora.

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