Um censo brasileiro-argentino, realizado em 2024, indica que pelo menos 84 onças-pintadas vivem no corredor verde situado entre Brasil e Argentina.
O número aponta para uma queda em relação ao último levantamento, de 2022, quando foram mapeados 93 felinos.
No Parque Nacional do Iguaçu, circulam em média 23 onças-pintadas. Em 2024, foram fotografados 27, em três meses de amostragem, dois a mais que em 2022.
Apesar da retração, a população desse felino está relativamente estável. As estatísticas foram divulgadas pelo Projeto Onças do Iguaçu, do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio).
Coordenadora do projeto, Yara Barros informa que, apesar dos desafios, a população dos felinos segue estável nos últimos anos, o que demonstra que as estratégias de conservação e manejo adotadas estão funcionando.
“A leve queda é um alerta, mas também uma prova de que esforços conjuntos e contínuos podem evitar retrocessos”, afirma.
Considerada espécie guarda-chuva, a onça-pintada, o maior felino das Américas, é uma protetora da floresta, de cursos d’água e de inúmeros outros seres vivos — inclusive modos de vida humanos que dependem de ecossistemas saudáveis.

Para os especialistas, manter essa população viva é um compromisso de longo prazo que envolve ciência, fiscalização, diálogo comunitário e cooperação trinacional.
Agustín Paviolo, do Projeto Yaguareté, da Argentina, lembra que anteriormente um colapso populacional da onça-pintada já foi revertido. Por isso, é possível mudar a realidade novamente.
“Podemos fazê-lo de novo, desde que mantenhamos o foco nas soluções construídas com quem vive na fronteira da floresta”, frisa.
Censo foi o maior já realizado
Feito a cada dois anos pelos projetos Onças do Iguaçu e Yaguareté (Associação Civil Centro de Investigaciones del Bosque Atlántico CeiBA — Conicet — Argentina), o censo de 2024 foi o maior já realizado.
As informações foram mapeadas a partir de 267 estações de armadilhas fotográficas colocadas em uma área superior a 570 mil hectares de Mata Atlântica — equivalente a quase todo o Distrito Federal.
Por meio das fotos, é possível identificar cada onça pelo padrão único de pintas. Modelos matemáticos geram estimativas populacionais confiáveis, usadas para orientar políticas de conservação.
Para enfrentar ameaças à espécie, incluindo abates, o Projeto Onças do Iguaçu implementou, com ajuda de parceiros, inúmeras estratégias.
Todos os anos, são realizadas cerca de 350 visitas a propriedades nos dez municípios vizinhos ao parque.
A estratégia envolve resposta imediata a casos de predação, implementação de medidas antipredação e orientação direta à população rural sobre boas práticas de manejo — reduzindo vulnerabilidades e prevenindo retaliações.
Região chegou a ter entre 400 a 800 onças-pintadas
Conforme informações do Projeto Onças do Iguaçu, entre 1990 e 1995, a estimativa era de que o corredor verde tinha de 400 a 800 onças-pintadas.
No entanto, no final da década de 1990, abates, caças e perda de habitat provocaram um declínio no número de felinos, levando a população a atingir o patamar de apenas 40 animais. O cenário, considerado crítico, quase extinguiu a espécie.
Em 2009, foi registrada a presença de 9 a 11 onças. Já no período de 2005 a 2016, o total passou de 40 para aproximadamente 90, mantendo crescimento até 2018.
Os censos de 2020 e 2022 indicaram estabilidade, com a estimativa média de 93 onças-pintadas (intervalo de 73 a 122) no corredor verde e 25 felinos (19 a 33) no parque.

O crescimento, dizem os profissionais que atuam no projeto, tem sido possível em razão de esforços em várias instituições do Brasil e da Argentina. Para isso, é realizada desde fiscalização para redução da caça até ações de engajamento, coexistência, manejo e pesquisa.
Outro ponto que conta em favor da preservação da espécie é a mudança no uso do solo. Muitas propriedades que criavam gado passaram a cultivar soja e milho, deixando de atrair os felinos.
Um novo censo binacional está previsto para 2026, quando será possível avaliar com mais precisão as tendências populacionais da onça-pintada no corredor verde.
O Projeto Onças do Iguaçu é um projeto institucional do ICMBio, desenvolvido em parceria entre o Parque Nacional do Iguaçu e o Instituto Pró Carnívoros, e tem como parceiros executores Cenap/ICMBio e o WWF Brasil.
O Projeto Yaguareté é um programa de pesquisa e conservação da Associação Civil Centro de Investigaciones del Bosque Atlántico (CeIBA), liderado por pesquisadores do Conicet.
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