A guerra e a coceira do outro

De olho na queda da popularidade o presidente dos EUA, Joe Biden, sinaliza em apoio a pausa na guerra.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Eu estava vendo o Twitter outro dia, e uma pessoa questionava sobre a banalização da violência, sobre o genocídio que está acontecendo na Faixa de Gaza, com Israel bombardeando civis, em retaliação ao ataque terrorista do Hamas. E alguém escreveu que morava no Rio e não ia coçar a coceira dos outros. Que já tinha problemas demais para preocupar-se.

Sim, a maior parte das pessoas está com suas próprias coceiras, seus problemas pessoais. É a enchente no Sul, a seca na Amazônia, as balas perdidas no Rio, a greve dos metroviários em São Paulo. É o post não curtido, a roupa desejada, o bicho acorrentado. Cada um tem uma dimensão de problemas a resolver que são mais importantes para si que qualquer outro contexto.

Mas como nos ensinou Marshall McLuhan, vivemos em uma aldeia global. Tudo está interconectado e não há como imaginarmos que as coceiras dos outros não nos atinjam. E há muita gente no planeta preocupada, sim, com os últimos acontecimentos e que não aceita apenas assistir à guerra televisionada, na qual parece haver um único combatente.

As manifestações contra o genocídio em Gaza só crescem no mundo todo. Contudo, o fato é que parece mesmo que essa coceira não atinge os líderes das potências que financiam a guerra. Todos sabemos, ou deveríamos saber, que na guerra o maior vencedor é a indústria armamentista. Quanto mais durar, quanto mais matar, melhor. Até o momento, a estimativa é de dez mil mortos, entre israelenses e palestinos, sendo estes a significativa maioria.

Talvez as únicas “armas” que os cidadãos comuns tenham sejam a indignação e o voto. Depois de vetar a proposta do Brasil na ONU, que pedia um corredor humanitário para socorrer os civis, diante do ataque sem trégua, por parte de Israel,  o presidente dos EUA, Joe Biden, percebeu a queda de sua popularidade e parece olhar para alguma proposta para apaziguar os bombardeios. A ONU (Organização das Nações Unidas), OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e União Europeia condenam os ataques a civis.

Porém não são as mortes de civis que provocam algum desvio da rota de destruição, são as consequências nas urnas – que, automaticamente, estão relacionados a poder e dinheiro. Nada mais.

Não sabemos até quando e aonde vai o conflito em Gaza, nem por quanto tempo durará a seca na Amazônia e as chuvas no Sul, entretanto sabemos que tudo está interligado. Que mesmo que não queiramos, a coceira do outro chega até nós. E cabe a cada um compreender até que ponto sua mão deva ir, seja para apaziguar ou disparar violência.

Pela primeira vez desde o início da guerra, o Egito abriu a fronteira, passagem de Rafah, para a saída de alguns estrangeiros alinhados a Israel, entre outros. Trinta e quatro pessoas, entre 24 brasileiros e familiares palestinos, ainda esperam autorização para acessar o Egito e poder viajar ao Brasil. O avião está à espera, mas falta outros países se coçarem.

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