Farmácias ou secos e molhados?

Frente a frente, grandes redes de farmácias disputam a clientela, oferecendo de remédios a sabão em pó.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Dias atrás, falei para minha filha, muito jovem, sobre o passado, quando as farmácias abertas após as 18 horas e aos finais de semana eram coisa de luxo. Aliás, isso nem existia.

Contei para ela que nem de longe havia essa diversificação de hoje, de grandes redes que tomam conta dos mais variados espaços. Que brotam em todos os cantos. Piscou, tem um luminoso anunciando uma nova drogaria em um lugar que até outro dia estava abandonado ou abrigava outro empreendimento.

Falei que no período em que farmácia não era essa febre toda, achar uma aberta fora do horário comercial era um desafio. Primeiro que telefonar para saber se estava aberta ou se havia o medicamento já era uma dificuldade. Telefone, o fixo, pois com celular a gente nem sonhava, era bem de luxo. Se não havia em casa, nem no vizinho, era preciso ter fichas no bolso e encontrar um orelhão.

O ritual, se alguém precisasse de uma farmácia, era ir até o local e ler – em um cartaz pregado na porta de aço, que descia desenrolando até o chão – o informe sobre qual era o estabelecimento de plantão.

E nem sempre o estabelecimento estava com as portas, necessariamente, abertas. Era bastante comum haver uma porta menor no centro da porta de aço. Ficava tudo fechado, e quando havia a necessidade de atender algum cliente o atendente aparecia na pequena porta ou ainda em um retângulo ainda menor, acionado por uma campainha ou mesmo um “toc toc” na porta.

Poderia existir também uma campainha para chamar os proprietários que morassem no andar de cima do mesmo prédio. Sorte era ter alguém que fosse dono(a) de farmácia e atendesse a qualquer hora.

Mas isso tudo é coisa do passado, afinal hoje as grandes redes estão por todos os lados. E, quase que milagrosamente, as pequenas farmácias resistem.

A comodidade de contar com farmácias 24 horas em qualquer esquina das cidades medianas é também um sinal de alerta. Qual é o nível de saúde de uma sociedade em que as grandes drogarias têm uma vida financeira com tanta prosperidade?

Observe na sua cidade. Quantas farmácias brotaram recentemente? Outro ponto importante a ser considerado é o fato de as farmácias ampliarem seu raio de ação. Sabão em pó, acessórios para pets… Não demora, vão vender pão. Quer dizer, já vendem aqueles fatiados, nas embalagens plásticas. A pessoa vai à farmácia pegar um Engov e já aproveita e leva o café da manhã e uma  air fryer que estava na promoção.

Tais comodidades facilitam a vida das pessoas, inclusive com o disque-entrega, mas de certo modo também acabam estimulando o consumo excessivo de medicamentos que não precisam de receita médica. De outro modo, esses estabelecimentos que detêm exclusividade na venda de medicações avançam por outros setores, os quais, ao menos até agora, não estão autorizados a vender remédios.

As drogarias atuais, das grandes redes, assemelham-se aos armazéns de antigamente, chamados de secos e molhados, onde se vendia de tudo um pouco. Porém, naquela época, o que mandava era a confiança, a caderneta, a anotação. Hoje, na era do PIX e do cartão, as farmácias, assim como os shoppings, lembram templos de consumo. Você vai para comprar um produto e, não raramente, empurram-lhe tantos outros. Agora me responda: quantas farmácias, recentemente, brotaram na sua cidade?

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