Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Foi necessário um homem, influenciador de 26 anos, que ganha a vida fazendo piadas, falar de um problema sério para despertar a opinião pública brasileira sobre uma questão nada engraçada: a exploração sexual e monetização da infância e adolescência.
O londrinense mais conhecido como Felca, Felipe Bressanim, tem mais de 15 milhões de seguidores no Instagram. Ele gravou um vídeo de mais de 50 minutos explicando didaticamente como é que fotos fofas de crianças em situações cotidianas podem ser usadas por pedófilos. No Youtube está prestes a atingir 35 milhões de visualizações e não é monetizado, ou seja, não tem publicidade interrompendo-o.
Acontece que os algoritmos aprendem rapidamente a enviar para os pedófilos um cardápio variado de fotos e vídeos de crianças que são expostas nas redes sociais, seja para simples curtidas ou para perfis monetizados. Sem nenhuma cerimônia ou sigilo, pedófilos curtem, compartilham e dão as pistas para chamar outros dos seus para degustar o conteúdo.
Felca tocou em um assunto caro para os políticos brasileiros que crescem nas redes sociais com notícias falsas, com cenas grotescas e falas gravadas para impactar o eleitor atrás das telas. Para impedir que pedófilos continuem agindo livremente, precisamos falar de regulamentação das redes sociais. Porém, a extrema direita entende isso como censura. E, por mais incongruente que seja, os mesmos que defendem ditadura se dizem incomodar com a censura. Mesmo que essa esteja relacionada a responsabilizar quem cometa crimes.
Quando se fala em regulação de redes sociais, trata-se da necessidade de responsabilizar quem produz o conteúdo e quem o hospeda: as plataformas, as grandes empresas de tecnologia, as big techs. E assim vamos compreendendo que pedofilia, fake news, big techs e Donald Trump estão juntos e misturados. Aliás, Trump foi citado por Elon Musk como integrante da lista de Jeffrey Epstein, bilionário envolvido com pedofilia, encontrado morto na prisão, que teria uma relação dos frequentadores de suas festas regadas de meninas e orgias. Mas isso é assunto para outro artigo.
Trump, entre os motivos de sua taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, alega que a família Bolsonaro é perseguida no Brasil, que o Supremo Tribunal Federal (STF) está censurando também as empresas americanas que estão em território americano, porém atuam no Brasil. Lembrando que em 2018 a campanha de Trump esteve envolvida no escândalo da Cambridge Analytica, que usou dados de milhares de usuários do Facebook para induzir o voto no republicano.
Regular redes sociais, depois do vídeo de Felca, virou tema da opinião pública. Até os deputados que estavam mais preocupados em pautar anistia e mais tempo de julgamento por meio das primeiras instâncias parecem ter mudado o foco. Em maio, a primeira-dama, Janja, foi muito criticada por ter tocado no assunto diante do presidente Xi Jinping em relação ao TikTok, com grande impacto no Brasil. O assunto virou um tabu. Finalmente voltou à tona.
Desconhecia a existência do tal influencer denunciado no vídeo de Felca, Hytalo Santos, que tinha a tutela de adolescentes em uma espécie de abrigo virtual, um BBB de adolescentes. Tão logo o vídeo viralizou, já nas primeiras horas de lançamento, as contas do dito-cujo foram derrubadas. Parece mesmo que as plataformas sociais ouvem, falam e veem. Mas só aquilo que querem. Até quando?
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