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Trump: em relacionamento tóxico com os BRICS

Cientista creditam ao comportamento de Trump a Teoria do Louco. É capaz de intimidar os rivais pois é capaz de ir às últimas consequências.

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Trump: em relacionamento tóxico com os BRICS
Trump, imprevisibilidade obrigada novas alianças entre países. Kevin Dietsch/Getty Images
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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Trump é um homem mimado, que conquistou tudo que o dinheiro proporciona, e ainda assim é insuficiente. Ele é mesmo um homem que tem sede de poder. Mas apenas o poder não basta. Ele deseja a submissão. Mas ainda assim é insuficiente, precisa da humilhação. Trump, na ânsia pelo poder, está mudando a rotação do eixo político. Está fazendo do princípio básico de governar para todos uma meta de afligir todos.

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Há uma frase que diz que para conhecer uma pessoa basta dar-lhe poder. Trump é o fiel da balança. Antes de virar presidente, pela primeira vez, tinha dinheiro, porém não tinha a caneta e o tinteiro. Com o primeiro mandato, não queria largar o trono. E agora voltou sob o manto de um narcisista controlador, que é capaz de sabotar o seu próprio povo para ter o mando do jogo.

Trump está incomodado — e ele tem motivos. Os Estados Unidos não são mais os donos da bola, do campinho e da torcida, como estavam acostumados.

Quem é da geração X cresceu em meio à Guerra Fria, que era a ameaça constante de EUA e antiga URSS entrarem em guerra. Os anos passaram, as guerras entre nações menos importante no cenário econômico perpetuaram, Rússia virou União Soviética, e os EUA, de liderança mundial, passou a ser símbolo da insegurança universal.

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Trump, com a caneta nas mãos, pela segunda vez, aos 79 anos, está ainda mais bélico. E não aceita que o seu campo não seja o único e que haja mais times que possam competir contra o seu.

Ele está com medo dos BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. E enquanto o grupo se articula para o desenvolvimento comum, inclusive com a possibilidade de adotar uma nova moeda, que vá além do dólar, Trump surta.

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Mas, além de não aceitar os BRICS e ameaçar sobretaxá-los ainda mais diante da possibilidade de uma nova moeda, ele já disparou sua caneta para os mais diversos aliados. Está na contramão da diplomacia mundial e joga no lixo qualquer liturgia do cargo que ocupa. Aquilo que se espera de uma liderança mundial, o normal de Trump é não oferecer.

Quando não aceitou o resultado da eleição de 2020 e estimulou uma invasão ao Capitólio, mirou na eleição seguinte e marcou seu alvo: o resto do mundo. Trump parece mesmo acreditar que os EUA sejam sua sala de estar, e os outros países o seu quintal.

Ao anunciar o aumento das taxações em 2 de abril, ele disparou sua caneta para nações parceiras comercialmente e causou um terremoto internacional, gerando insegurança nas mais variadas cadeias econômicas.

Diante dessa instabilidade em sua forma de governar, em que anuncia primeiramente nas redes sociais, pega os demais países de surpresa e não se sabe diferenciar a verdade das mentiras, Trump se encaixa na “Teoria do Louco”. De acordo com cientistas políticos, um líder mundial tenta persuadir seu opositor de que é temperamentalmente capaz de ir às últimas consequências para extrair concessões. Trump precisa de aplausos, mas nem todo mundo aceita bater palmas para maluco.

A reunião dos BRICS na última semana, no Brasil, foi o gatilho que fez Trump disparar sua taxação de 50% para produtos importados do Brasil pelos EUA. Porém, diferentemente de outras justificativas, condicionou a redução da taxa à anistia de Bolsonaro. Bolsonaro fez de tarde no Brasil o que Trump fez cedo nos EUA.

Bolsonaro também acreditou que o Brasil era o seu quintal. Porém, diferentemente dos EUA, que não têm uma legislação rígida que pune quem trama contra o próprio país, em ato que inclusive teve mortos, no Brasil o processo está prestes a ir para julgamento no STF. A legislação brasileira, de uns anos para cá, passou a levar para ver o Sol nascer quadrado até mesmo quem está no topo da pirâmide. É raro, mas acontece.

Trump também alega que é natural que empresas de tecnologia com sede nos EUA usem os limites do território brasileiro para espalhar desinformação sem qualquer controle.

De tanto chorar por atenção, Bolsonaro conseguiu. Contudo, o remédio parece ter efeito de veneno. Trump errou a dose. A extrema-direita está batendo cabeça, pois a batata quente caiu no colo dela. A família Bolsonaro rifou o Brasil em nome de sua liberdade. O patriotismo mudou de bandeira. Trump azedou a relação de aliados fiéis que estão vendo o bolso doer. De outro modo, como fez com outros países, ao interferir em questões internas, estimulou o sentimento de patriotismo.

Assim, o BRICS, bloco do qual o Brasil é a primeira consoante, articula-se para cumprir a sua função: abrir rotas comerciais mais estáveis, especialmente diante da instabilidade previsível de Trump. Para relações tóxicas, a melhor saída é manter distância.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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Aida Franco de Lima

Aida Franco de Lima é jornalista, professora e escritora. Dra. em Comunicação e Semiótica, especialista em Meio Ambiente.

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