Boteco Brasil e uma amarga ressaca

Pensa que o fornecedor de cerveja tem que ligar para o dono do boteco e avisar que o consumo aumentou muito e que ele precisa se programar pra não deixar os clientes na mão. E ainda assim, o dono não faz nada e só vai pedir mais cerveja quando os clientes estão todos sentados à mesa. Você voltaria a esse boteco?

Apoie! Siga-nos no Google News

OPINIÃO – Aida Franco de Lima

Pensa que o fornecedor de cerveja tem que ligar para o dono do boteco e avisar que o consumo aumentou muito e que ele precisa se programar pra não deixar os clientes na mão. E ainda assim, o dono não faz nada e só vai pedir mais cerveja quando os clientes estão todos sentados à mesa. Você voltaria a esse boteco?

Agora pensa que a fornecedora de OXIGÊNIO HOSPITALAR, a White Martins, contatou o Governo Federal para informar que o consumo de Oxigênio Hospitalar estava cinco vezes mais alto em Manaus e que precisaria de ajuda para garantir o fornecimento. E ainda assim, os (ir) responsáveis pelo Boteco Brasil não fizeram nada e só foram pedir mais oxigênio quando uma ala inteira de pacientes morreram sufocados!

Muito provável que você não voltaria a esse boteco que transformou sua expectativa, a cerveja gelada, em uma frustração. Certamente você irá procurar outros ambientes. Mas os pacientes que morreram sem oxigênio, suas famílias que foram em busca de uma esperança, a cura, nunca mais terão outra opção. Uma lacuna ficará para sempre. Um vazio na mesa, não necessariamente do boteco, mas no almoço cotidiano em família, um abraço que jamais será dado, uma gargalhada que silenciou…

Na pandemia o Brasil parece ser um grande boteco, sem gerência. Se de um lado o garçom organiza as mesas, com álcool em gel e máscara, vem outro e diz que isso tudo é coisa de maricas. Enquanto o segurança explica aos clientes que o ambiente tem regras e horários estabelecidos, com limite de público, outro abre as portas dos fundos e diz que liberou geral. De um lado o responsável pelo estoque estuda o que está acontecendo nos bares dos outros países e percebe que ele precisará comprar antecipadamente seus produtos essenciais porque, literalmente, todo o mundo está procurando a mesma coisa. Mas do outro, o gerente diz que só vai comprar quando as mercadorias ficarem mais baratas e que o fornecedor quem deve procurá-los.

O Boteco Brasil é reflexo de nossas escolhas. Em 2018 eram 14 candidatos que poderiam gerenciar o empreendimento, cada um com suas falhas e virtudes. Embriagados pelas redes sociais e o tsunami de informações mentirosas, dois deles polarizaram os clientes. Talvez esse texto nem tivesse motivo para ser escrito, se uma parcela da população tivesse tido o cuidado de comparar o histórico de todos os candidatos como se compara com a bebida preferida. Tem umas que não enganam nem pela embalagem, mas a pessoa acredita, como quem confia em conversa de bêbado. Mas, o pior, sua ressaca, nem é notícia falsa, mas é compartilhada com a sociedade inteira.

*Aida Franco de Lima é Professora universitária. Dr.ª e Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Jornalista e Especialista em Educação Patrimonial (UEPG – PR)

_______________________________

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.