Crise da vacina no Paraguai, com pressão chinesa, é destaque no New York Times

O Paraguai é o único país da América do Sul sem relações diplomáticas plenas com a China, o que agrava ainda mais a procura por vacinas.

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Sem vacinas e com a pandemia avançando cada vez mais rapidamente, o governo paraguaio está numa sinuca.

O jornal americano New York Times, o mais influente do mundo, dá destaque à crise da vacina no Paraguai. O país “enfrenta uma ameaça existencial à medida que a busca por vacinas se torna cada vez mais desesperada para o governo paraguaio”, diz o jornal.

O Paraguai é um dos 15 países que têm relações plenas com Taiwan, e é o único da América do Sul. Já há quase um consenso, entre paraguaios “de todas as tendências políticas”, de que o Paraguai deve romper com Taiwan e ter um relacionamento pleno com a China, praticamente a única opção dos países pobres, já que as grandes empresas farmacêuticas ocidentais priorizaram o envio de doses aos países desenvolvidos.

Taiwan, a opção da diplomacia paraguaia até agora, ao invés da China, foi generosa com o país, para “fomentar seus laços diplomáticos”. O país oriental financiou milhares de moradias para pobres, melhorou o sistema de saúde pública e ofereceu centenas de bolsas de estudos, lembra o NYT.

Mas Taiwan prometeu e até agora não conseguiu garantir uma única dose de vacina contra a covid-19, embora tenha doado três helicópteros para o transporte de imunizantes.

Na edição em espanhol da versão on line, uma análise da crise da vacina no Paraguai.

ALIADOS NÃO AJUDAM

“Esta é uma situação de vida ou morte”, disse Pepe Zhang, diretor associado do Atlantic Council, especializado nas relações entre a América Latina e a China. “Nesta fase tão aguda da pandemia, países com menos recursos, como o Paraguai, se perguntam como vão conseguir as vacinas.”

Isso deu à China uma influência considerável na região, onde já tem uma “ampla constelação de investimentos e projetos”, diz o texto do jornal americano. “De repente, parece estar ao alcance (da China) tirar o Paraguai da órbita de Taiwan, o que faria avançar o objetivo de isolar politicamente uma ilha que considera seu território (Taiwan)”, afirma o NYT.

O ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Euclides Acevedo, lembra o jornal, disse recentemente que a China manifestou interesse em estabelecer vínculos com o Paraguai. A possibilidade de mudança na diplomacia foi uma forma de o Paraguai tentar pressionar Taiwan e seu aliado, Estados Unidos, a trazerem vacinas rapidamente ao país.

“De que nos adianta a fraternidade ou o abraço que nos leva à parada respiratória” se eles (Taiwan e Estados Unidos) não nos dão as vacinas?, perguntou Acevedo no mês passado, em entrevista à rede de televisão Telefuturo.

E completou: ‘Creio que nossos aliados estratégicos, tanto Estados Unidos como Taiwan, terão que nos responder”.

ORGULHO DE ABDO

Até agora, o governo paraguaio, a não ser na forma da pressão feita por Acevedo aos dois aliados, Taiwan e Estados Unidos, não adotou nenhuma medida de maior aproximação diplomática com a China.

E o New York Times explica este “desinteresse”. O presidente Mario Abdo Benítez se orgulha das relações com Taiwan, já que foi seu pai, quando era secretário do ditador Alfredo Stroessner, que negociou com aquele país, em detrimento da China.

Além disso, apesar das pressões de membros do gabinete presidencial e de empresários, Abdo não viu muito interesse da China em que o Paraguai mude sua diplomacia.

Obviamente, os Estados Unidos querem que tudo fique como está. Em telefonema ao presidente Mario Abdo Benítez, no mês passado, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony J. Blinken, instou o governo paraguaio a continuar “trabalhando com sócios democráticos e globais, incluindo Taiwan, para superar esta pandemia global”.

“Nossos aliados estão vacinando de manhã, de tarde e de noite, mas nos obrigam a não comprar vacinas para que não viremos comunistas”, reagiu a senador oposicionista Esperanza Martínez, que defende há muito tempo o estabelecimento de relações com a China.

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