Último preso político do Brasil, o jornalista Juvêncio Mazzarollo recorreu mais uma vez à sua arma de combate contra as injustiças: a palavra. “Vencemos” é o título do artigo em que narra a vitória jurídica no Supremo Tribunal Federal (STF), que restabeleceu sua liberdade.
O jornal Nosso Tempo, do qual era um dos editores, publicou o texto em abril de 1984, acompanhado da manchete em letras garrafais: “Suprema Corte repara injustiça do Tribunal Militar”. No artigo, Mazzarollo relata a vitória nos tribunais e a celebração por sua chegada a Foz do Iguaçu.
“A privação de minha liberdade representava um fato intolerável para todos”, escreveu o jornalista, relembrando o martírio a que foi submetido durante o regime militar. “Mesmo encurralado naquele rigoroso confinamento, sempre sustentei a necessidade de transmitir coragem ao povo, não covardia.”
Em um processo arbitrário, ele havia sido condenado a quatro anos de prisão com base na Lei de Segurança Nacional, instrumento usado para censura e perseguição política. Sua libertação ocorreu após um ano e meio de cárcere, dez dias de greve de fome e uma ampla campanha pública por justiça.
Diante da demora da Justiça em restituir suas garantias civis diante do autoritarismo militar, Mazzarollo decidiu provocar um gesto extremo. “Precisamente no dia em que completei um ano e meio de cárcere, anunciei a decisão de jejuar até ser libertado”, escreveu no Nosso Tempo.
Juvêncio Mazzarollo: a vitória
A vitória no julgamento do dia 6 de abril de 1984, no STF, foi jurídica, mas a batalha por justiça já vinha sendo vencida pela mobilização de amplos setores da sociedade. Naquela semana, a comoção em Curitiba, onde o jornalista estava preso, foi intensa.
“A Boca Maldita abrigou sete jovens que aderiram à greve de fome; no mesmo local realizou-se um tocante culto ecumênico e, fazendo coro com a comoção que partia do quartel onde cumpria pena, a Boca Maldita foi palco de um dos seus momentos mais empolgantes”, relatou.
Mazzarollo descreveu o movimento como “um comício permanente onde se dizia de tudo, como se aquele local tivesse sido escolhido para ser o sinal mais visível do quanto o povo desejava minha libertação”. A mobilização ganhou força institucional: a Assembleia Legislativa do Paraná criou uma comissão suprapartidária que foi a Brasília (DF) pedir sua libertação.
“Sua descida no aeroporto foi emocionante. Religiosos, professores, alunos, colegas… Todos queriam cumprimentar Juvêncio Mazzarollo”, reportou o Nosso Tempo sobre a chegada do jornalista a Foz do Iguaçu, a bordo de um avião da Varig. As homenagens se espalharam pela cidade.
História de Foz a um clique
O portal Nosso Tempo Digital reúne todo o acervo do jornal, projeto lançado para marcar o aniversário de 30 anos do periódico rebelde. Assim, o objetivo é preservar a memória da cidade, facilitar o acesso à história local e regional, e democratizar a consulta ao acervo midiático por meio da internet.
O acesso é gratuito. O acervo constitui fonte valiosa para o morador desejoso de vasculhar a história da cidade e de seus atores, contada nas 387 edições do jornal que foram digitalizadas, abrangendo de dezembro de 1980 a dezembro de 1989.


