A denúncia à ditadura de Alfredo Stroessner (1912–2006), instalada no Paraguai, lotou a Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu em 1983. Foi o primeiro ato público realizado no estado, reportou o jornal Nosso Tempo, na época, em edição de junho, a de número 73.
A atividade foi em pleno domingo (12.jun.1983), convocada pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Paraguaio – Seção Foz do Iguaçu. Na tribuna, leitura de telegramas enviados de várias partes do país e falas de agentes políticos e perseguidos políticos.
Entre os presentes, o representante do movimento paraguaio Acordo Nacional, José Heriberto Barbosa, e o vice-presidente do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), Eduardo Clerici, agremiação do país vizinho.
Na época vivendo em Posadas, Argentina, Eduardo Clerici, em tom de agradecimento, disse que difundiria o apoio e a solidariedade dos brasileiros entre os exilados. Havia 25 anos que ele deixara compulsoriamente o Paraguai.
“Este recinto sagrado é testemunha que no mundo renasce a liberdade”, discursou, interrompido com aplausos pelo público, em vários momentos. “A América pede e clama por liberdade e democracia”, concluiu Eduardo.
Pelo Acordo Nacional, José Barbosa contextualizou a situação em seu país. O Paraguai, enfatizou com emoção, “sofre a opressão stroessnista há 30 anos. Queremos voltar à nossa pátria”, reivindicou.
Presidente do Comitê de Solidariedade ao Povo Paraguaio em Foz do Iguaçu, o vereador Ciro Dias (PMDB) declarou que o movimento que começava na cidade iria se multiplicar Brasil afora. E denunciou que os presos políticos mais antigos do continente estavam no Paraguai.
O regime de Stroessner, argumentou, era uma “ditadura que só se perpetua graças à corrupção e à violência”. E concluiu com uma frase em guarani, um dos idiomas oficiais do Paraguai, expressando a confiança em tempos de democracia: “Nossa luta é longa, mas um dia virá a vitória.”
Ditadura de Stroessner
O portal da enciclopédia contemporânea da América Latina, da Universidade de São Paulo (USP), cita que Alfredo Stroessner, general do Exército e membro do Partido Colorado, dirigiu o golpe de Estado em 1954. E permaneceu 35 anos como ditador do Paraguai.
Foi à reeleição em 1958, reprimindo forte resistência dentro do próprio partido. Dissolveu o Congresso, decretando o estado de sítio e deportando adversários. Passou a governar abertamente como ditador, reelegendo-se em 1963, 1968, 1973, 1978, 1983 e 1988.
“A partir da década de 1970, os opositores vieram a acusá-lo, de modo sistemático, de violação dos direitos humanos”, informa o portal. “Apesar de um certo crescimento econômico, resultado de investimentos estrangeiros e da construção da central hidrelétrica de Itaipu, mais de 1 milhão de paraguaios passaram a viver fora do país”, concluiu.
Stroessner foi derrubado por um golpe militar em 3 de fevereiro de 1989, comandado pelo general Andrés Rodríguez, considerado o número dois do regime; exilou-se no Brasil, onde morreu. O Partido Colorado segue hegemônico no país vizinho.
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História de Foz a um clique
O portal Nosso Tempo Digital reúne todo o acervo do jornal, projeto lançado para marcar o aniversário de 30 anos do periódico rebelde. Assim, o objetivo é preservar a memória da cidade, facilitar o acesso à história local e regional, e democratizar a consulta ao acervo midiático por meio da internet.
O acesso é gratuito. O acervo constitui fonte valiosa para o morador desejoso de vasculhar a história da cidade e de seus atores, contada nas 387 edições do jornal que foram digitalizadas, abrangendo de dezembro de 1980 a dezembro de 1989.
Só quem tinha o rabo preso e não cumpria as leis tinha problemas naquela época. na época do Gral. Stroessner o povo era feliz e não sabía. podíamos dormir a céu aberto sem medo de ser roubado, hoje nessa falsa democracia vivemos teancados em casa ea bandido gema solta nas ruas…
A ditadura genocida de Graça Stroessner prendeu meu avô,, meus tios e perseguiu minha família, exilada em Foz do Iguaçu, terra que nós acolheu. Meu avô faleceu sem poder rever a mãe e familiares, pois foi impedido depois de ficar seis anos preso em Pena Hermosa. Fui uma das vozes do Comitê de Solidariedade ao Povo Paraguaio e agradeço imensamente ao Jornal Nosso Tempo pelo apoio na época, um dos poucos jornais que se atreveu a levantar a voz conosco . Gratidão