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História

Dobrandino da Silva venceu eleição que encerrou era dos interventores

“Político raiz”, de fala simples e direta, o ex-prefeito conhecia cada pedaço de Foz do Iguaçu.

6 min de leitura
Dobrandino da Silva venceu eleição que encerrou era dos interventores
Capas do Nosso Tempo destacam atuação política de Dobrandino da Silva – fotos: reprodução
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Véspera da eleição para prefeito em 1985. O jornal Nosso Tempo promove uma entrevista-debate entre os candidatos ao cargo, a que compareceram Dobrandino da Silva (PMDB), Tércio Albuquerque (PDS) e Álvaro Albuquerque (PDT). A força das siglas e o contexto da redemocratização dão a dimensão da disputa.

Entre propostas para problemas da paróquia, Dobrandino eleva o tom. “Devo acrescentar que o meu partido sempre combateu o que foi feito pela ditadura. Seu partido tem Paulo Maluf e gente ruim que deixou o povo na miséria. Afundaram o Brasil na dívida externa, na corrupção”, dispara contra Tércio, principal oponente.

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Era o xeque-mate naquela eleição que polarizava duas posições bem definidas, a favor ou contra o regime civil-militar (1964–1985). O pleito também marcava o fim da era dos interventores em Foz do Iguaçu, com o último e mais longevo deles, capitão Clóvis Cunha Viana, tendo deixado o cargo em 1984.

Sendo assim, não seriam poupadas denúncias a quem pretendia renegar tardiamente o regime do arbítrio ou atenuá-lo, com fins de surfar na onda política que devolveu ao povo o direito de votar em uma democracia formal.

Dobrandino era do “MDB velho de guerra”, que passou pelo bipartidarismo imposto pelo regime e serviu de guarda-chuva para forças políticas contrárias à ditadura. Venceu a eleição com 41% dos votos, obtendo quase o dobro de Tércio, com quem estabeleceu a principal confrontação programática e ideológica em 1985.

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Um dos principais protagonistas políticos de Foz do Iguaçu a partir da década de 1970, Dobrandino Gustavo da Silva faleceu nessa quarta-feira, 24, aos 86 anos. Além primeiro prefeito eleito pelo voto direto, tendo como vice Roberto Campana, do mesmo partido, chegou ao segundo mandato, foi deputado estadual, assim como constituiu uma verdadeira máquina político-eleitoral com o irmão, Altair Ferraz da Silva, o “Zizo”, que morreu em 2001.

Do debate feito pelo Nosso Tempo, também é possível extrair referências sobre a cidade que emergiu depois do período dos interventores nomeados pelos generais. E no contexto do inchaço populacional devido à construção da Itaipu Binacional, fazendo Foz crescer vertiginosamente e sem planejamento, resultando em um sem-número de problemas sociais.

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Por exemplo, Dobrandino prometeu substituir o cascalho em pavimentações da época — método que seria impensado hoje — por calçamento poliédrico. Outros problemas abordados foram a pobreza nos bairros, contra a qual o emedebista criaria uma pasta de assuntos sociais e comunitários, e a infindável lista de desafios da cidade, que incluíam saúde, transporte coletivo, acolhimento a “brasiguaios” etc.

O PMDB deu a largada à campanha de 1985 com um comício na região do Porto Meira, que reuniu 800 pessoas. Na ocasião, Dobrandino Silva disse que iria conduzir a gestão da cidade com a prefeitura de portas abertas para o povo. “Porque as administrações de gabinetes, onde os coronéis se trancavam e decidiam sem ouvir o povo, não deram certo”, discursou, conforme noticiou o Nosso Tempo.

  • No portal Nosso Tempo Digital, é possível acessar inúmeras reportagens sobre a campana eleitoral de 1985 e a gestão de Dobrandino da Silva, bem como os arranjos e desarranjos da política iguaçuense daquele anos 1980.

Dobrandino toma posse

Prefeito e vice, Dobrandino da Silva e Roberto Campana foram empossados na Câmara de Vereadores em janeiro de 1986, e participaram de solenidade no Oeste Paraná Clube, que ficou lotado pela população, que amargava duas décadas de jejum, sem poder escolher o gestor. As comemorações terminaram com show na terceira pista da Avenida JK.

Dobrandino da Silva, na posse, em 1986 – foto: Nosso Tempo/divulgação

O enfoque do novo governo era administrar de forma democrática e participativa, promovendo justiça social. “Com ênfase para o campo social, conforme prometemos em praça pública, sem, entretanto, deixarmos de dar toda a atenção à classe empresarial, alicerce da nossa economia, que gere empregos necessários”, comprometeu-se Dobrandino.

“Político raiz”

Dobrandino da Silva foi o que se pode chamar de “político raiz”. Conhecia cada pedaço da cidade e a percorria frequentemente. Chamava as eleitores pelo nome e prestigiava lideranças e apoiadores mais relevantes. Falava a “língua” do povo, simples, perspicaz, ferino nas críticas e de pensamento rápido. Isso lhe dava vantagem no debate.

Dobrandino, o “Dino”, o “Dobra”, era implacável com os adversários e, ao concentrar poderio na família, colecionou não só opositores, como também inimigos. Saídos do PMDB, o deputado federal constituinte Sérgio Spada e o ex-prefeito Álvaro Neumann estavam entre os desafetos na caminhada.

Popular e populista, amado e odiado no meio, Dobrandino montou um grupo partidário que dominou as disputas eleitorais iguaçuenses por anos. Processos na Justiça o retiraram das urnas, o que não significou o fim da “família Silva”: Samis, seu filho, foi eleito prefeito em 2000.

O herdeiro eleitoral de Dobrandino foi derrotado quatro anos depois, ao buscar a reeleição, por Paulo Mac Donald Ghisi, o qual liderou uma inédita coligação de 17 partidos políticos, batizada de “Frentona”. Depois disso, os Silvas não voltariam ao Palácio das Cataratas.

Diante do enfraquecimento de seu grupo político, Dobrandino assistiu à filiação do filho ao PSDB, partido com o qual rivalizava na cena partidária iguaçuense desde a década de 1990. Foi uma tentativa de sobrevida eleitoral sem sucesso.

Dobrandino também deu apoio a um dos ex-desafetos, Chico Brasileiro, na corrida à prefeitura em 2012. Mais recentemente, o caudilho viu o “seu” PMDB mudar de mão. Na última eleição para prefeito de 2024, Samis da Silva entrou na disputa pelo PSDB com o apoio do MDB, que indicou o vice.

Eleição de 1985

Simbólica e divisor de águas, a eleição para prefeito de 1985 levou às urnas 46.316 eleitores iguaçuenses. O resultado, além de brancos e nulos, foi (*):

  • Dobrandino da Silva (PMDB): 19.103 votos (41,2%);
  • Tércio Albuquerque (PDS): 11.133 votos (24%);
  • Ozires Santos (PFL): 9.557 votos (20,6%);
  • Álvaro Albuquerque (PDT): 2.469 votos (5.3%);
  • Caetano Vivone (PT): 973 votos (2,1%).

*Fonte: Nosso Tempo

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    Paulo Bogler

    Paulo Bogler é repórter do H2FOZ. Com enfoque em pautas comunitárias, atua na cobertura de temas relacionados à cidade, política, cidadania, desenvolvimento e cultura local. Tem interesse em promover histórias, vozes e o cotidiano da população. E-mail: bogler@h2foz.com.br.

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