Em 1981, aos 88 anos, Manêncio Martins era o morador vivo mais antigo de Foz do Iguaçu, tendo chegado à cidade em 1911, antes da fundação oficial, que ocorreria em 1914. O jornal Nosso Tempo, em entrevista com o pioneiro, o descreveu como brincalhão e contador de causos.
Ao jornal, disse que era amigo de ilustres como Jorge Schimmelpfeng, o primeiro prefeito, Acácio Pedroso e José Werner. A família produzia pinga em um alambique na região do Boicy, em que a “purinha” embalava as rinhas de galo, um dos eventos da época.
Gostava de ir aos bailes e era getulista. “Não só eleitor, como fazia campanha para ele”, disse ao impresso. E lembrou de quando o então presidente veio a Foz do Iguaçu inaugurar o calçamento da Estrada das Cataratas, ficando hospedado no Hotel Cassino, onde hoje é o Senac, no centro.
Em suas reminiscências ao Nosso Tempo, Manêncio Martins, então morador da Vila Yolanda, recordou a chegada dos rebeldes que formaram a Coluna Prestes, do primeiro carro em Foz do Iguaçu, trazido por Schimmelpfeng, e da visita de Santos Dumont.
Entre os casos pitorescos, rememorou que ninguém mais, ninguém menos do que o pároco Monsenhor Guilherme foi à sua chácara para casá-lo na igreja. E que abateu e comeu uma onça que tirava o sossego da comunidade, percorrendo do antigo Estádio do ABC ao Boicy.
“Cheguei em Foz do Iguaçu em 1911 e tinha quinze anos. Isso aqui era tudo matão”, narrou. Manêncio Martins e sua família fizeram o caminho do Rio Grande do Sul até Corrientes e Posadas, na Argentina, vindo de barco para a fronteira.
Senhor Manêncio Martins
Não sabia ler nem escrever. “Aqui não havia escola, e para estudar era preciso ir até Guarapuava”, disse. E foi carcereiro, a pedido do prefeito, com a missão de vigiar um preso que tinha fama de fujão do primitivo sistema carcerário iguaçuense.
“A polícia prendia o homem de manhã e quando era noite já havia escapado”, contou ao jornal. “Diziam que ele era feiticeiro. O prefeito e o delegado ficavam danados da vida”, acrescentou, com humor, Manêncio Martins.
História de Foz a um clique
O portal Nosso Tempo Digital reúne todo o acervo do jornal, projeto lançado para marcar o aniversário de 30 anos do periódico rebelde. Assim, o objetivo é preservar a memória da cidade, facilitar o acesso à história local e regional, e democratizar a consulta ao acervo midiático por meio da internet.
O acesso é gratuito. O acervo constitui fonte valiosa para o morador desejoso de vasculhar a história da cidade e de seus atores, contada nas 387 edições do jornal que foram digitalizadas, abrangendo de dezembro de 1980 a dezembro de 1989.