“Na 2.ª guerra, tive a oportunidade de não sofrer com a fome”, diz francesa que vive em Foz

Paulette Iuquet tinha 10 anos quando a Alemanha declarou guerra à França. Ela lembra detalhes do embate

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A 2.ª Guerra Mundial foi um evento do século 20 que trouxe efeitos nefastos para a humanidade. Apesar do tempo que passou, alguns moradores de Foz do Iguaçu guardam na memória episódios daquela época. Nesta segunda entrevista sobre o assunto, o H2FOZ falou com a francesa Paulette luquet.

Paulette Iuquet tem 93 anos, mas ainda guarda na memória o que ocorreu no dia 9 de setembro de 1939. Ela tinha 10 anos de idade e brincava com uma amiga na rua da pequena cidade de Ussel, na França, quando ouviu um barulho ensurdecedor. Logo perguntou ao pai o que tinha ocorrido, e a resposta foi rápida: “A França declarou guerra à Alemanha.”

O pai era inspetor das estações ferroviárias da SNCF – Sociedade Nacional de Ferrovias Francesas, porém também fazia parte da Resistência Francesa, sem que a família soubesse. A informação foi revelada após o fim da guerra. Em razão da experiência nas estações ferroviárias naquela época, ele foi chamado para colaborar com informações para o filme “La Bataille du Rail” (“A Batalha dos Trilhos”), de 1946.

A película, que está disponível no YouTube, mostra como os ferroviários franceses conseguiram sabotar os trens para impedir o transporte de suprimentos, ou seja, armamentos, peças e alimentos, necessários para o exército alemão dominar a França.  Com a guerra, os alemães se apropriaram de toda a rede nacional de trens e da mão de obra francesa.

Professora, Paulette decidiu mudar para o Brasil em 2018 para viver com a filha, a livreira Nathalie Husson, em Foz do Iguaçu. Nesta entrevista ao H2FOZ, ela lembra episódios que viveu.

VÍDEO

Como foi viver o período da guerra na cidade de Ussel?

Os alemães entraram pelo Norte da França. Na principal rua da nossa cidade, todos os dias à noite havia carros e pessoas passando para ir ao Sul da França. Eu pessoalmente não sofri muito porque a cidade era pequena e para comer podíamos encontrar alimentos nas fazendas. Depois trocamos de cidade por causa do trabalho do meu pai. E nesse momento eu fui para uma escola e fiquei lá até o fim de guerra.

Chegou a faltar comida na cidade?

Nas grandes cidades faltava alimentos, mas eu tive a oportunidade de não sofrer com a fome. Os meus avós moravam no campo e vendiam bezerros para os açougueiros. Já em Paris e todas as grandes cidades, eles precisavam de comida e havia racionamento para comprar pão.

A senhora chegou a ver os alemães?

Eu vi os alemães em Ussel e quando mudamos para Tours. Teve um ano que eu fiz um exame e tinha que mudar de cidade. Aí tínhamos que pegar o trem para ir e dormir em outra cidade. Lá tinha alemães, e tivemos sorte porque no fim ficamos três dias. E no último dia de viagem, os alemães estavam checando e um dia depois houve enforcamento. Isso ficou conhecido na história como os Enforcados de Tulle [os alemães enforcaram os franceses]. Foi um episódio importante da guerra [em 9 de julho de 1944]. Na ocasião, 99 franceses foram enforcados e 149 deportados para a Alemanha, 101 morreram nos campos de concentração.

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