“No fundo (…) o mundo é feito para terminar num belo livro.” Foi assim que, no século 19, o poeta francês S. Mallarmé se referiu aos livros. Artefato que provoca paixões ou faz o papel de passaporte para uma viagem sem precisar sair de casa, o livro semeia histórias.
Em Foz do Iguaçu, uma delas é da Francielie Moretti. Ao completar 40 anos, ela ganhou 40 livros. Leitora assídua desde a adolescência, Francielie já pensava em fazer uma festa diferente para as quatro décadas, momento considerado simbólico na vida das pessoas.
A diferença foi marcada justamente pelos livros. Ao enviar o convite, a aniversariante revelou, por meio de um texto, o desejo de ganhar os 40 livros. Mas não era só isso. Também sugeriu que os livros fossem adquiridos na Livraria Kunda.
“Junto do desejo de ganhar os livros, havia o interesse de minha parte em fortalecer o comércio local de livros, especialmente a Livraria Kunda, que é um símbolo de resistência às dificuldades enfrentadas pelas livrarias independentes”, conta.
Assim, ela encaminhou uma lista de livros para a proprietária, a livreira Nathalie Husson, com o intuito de fazer uma festa regada por esses objetos. Os convidados e familiares acataram o pedido, e quase todos os presentes foram comprados na Kunda, chegando a um total de 43.

Servidora pública, Francielie atua na função de técnica em Assuntos Educacionais na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Ela trabalha com a escrita de editais e documentos oficiais e diz que a leitura a auxilia de modo determinante no exercício de escrever.
Com mestrado em Literatura Comparada, ela não apenas completou 40 anos dia 6 de dezembro, e sim ganhou outros presentes marcantes, além dos “amigos livros”.
Francielie foi aprovada em primeiro lugar no doutorado vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteira, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
No dia da festa, 7 de dezembro, que correspondeu à data de aniversário, dia 6, ela ainda recebeu um pedido de casamento, do marido com quem ainda não é oficialmente casada. “Então, foi um dia muito feliz: a festa, os livros, os familiares e amigos.”

Livros e mais livros
No doutorado, Francielie vai pesquisar literatura feita por povos indígenas. Ela conta que a atuação profissional e como pesquisadora é absolutamente demarcada pela experiência como leitora.
Os gêneros da preferência dela são romance e literatura indígena. Os autores preferidos: Ailton Krenak, Davi Kopenawa, Eliane Potiguara, Daniel Munduruku e Trudruá Dorrico. No momento, ela está muito impactada por uma autora chamada Carla Madeira.
“Esse ano, tenho relido também o que a Pagu escreveu. Pagu foi e é ainda uma autora muito negligenciada, e sua escrita é radical e transformadora. Precisa ser lida”, realça.
Veja a lista de alguns livros escolhidos por Francielie:
1. Uma etnografia dos sonhos yanomami: o desejo dos outros. Autoria: Hanna Limulja;
2. Descolonizando afetos: experimentações sobre outras formas de amar. Autoria: Geni Núñez;
3. Coração sem medo. Autoria: Itamar Vieira Junior;
4. Louças de família. Autoria: Eliane Marques;
5. Xamãs elétricos na festa do sol. Autoria: Mónica Ojeda;
6. Uma delicada coleção de ausências. Autoria: Aline Bei;
7. Em agosto nos vemos. Autoria: Gabriel García Márquez;
8. Jamais peço desculpas por me derramar. Autoria: Ryane Leão;
9. Colecionador de pedras. Autoria: Sérgio Vaz;
10. Batida só. Autoria: Giovana Madalosso;
11. Querida tia. Autoria: Valérie Perrin;
12. Apague a luz se for chorar. Autoria: Fabiane Guimarães;
13. Sobre os ossos dos mortos. Autoria: Olga Tokarczuk;
14. Meu corpo ainda quente. Autoria: Sheyla Smanioto;
15. Quarenta dias. Autoria: Maria Valéria Rezende.


