“Ken” somos?

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, analisa ‘Ken’ somos, na vida real.

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Por Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO

SOMOS o que fizeram de nós! Na verdade, somos ainda a herança amarga e nociva de um primata que aprendeu a sobreviver lutando por sua vida e posteriormente pela sobrevivência de seu grupo, de seu bando.  

No começo do filme “2001 Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, o primata ao tocar em um monólito, vindo do espaço, da origem ao que foi chamado: “Aurora do Homem”. Essa “Aurora”, na acepção correta da palavra, significa amanhecer. Um amanhecer, segundo o filme, construído sob a violência do macaco. Violência essa que se introjetada em cada um de nós, hoje seres ditos humanos, de geração em geração, machos e fêmeas, Barbies e Kens! 

Nós, os machos, assim caracterizados porque produzimos gametas pequenos e móveis chamados de espermatozoides, somos os responsáveis pelos maiores índices de violência contra nossa própria espécie e o planeta que habitamos desde nosso momento primata até os dias atuais. Na verdade, hoje vivemos em um mundo digital, mas não passamos de primatas tecnológicos. 

Atendendo a pedidos, eu revisito o filme da Barbie, agora através do paradigma e olhar do Ken, o boneco objeto de prazer e venda do chamado lado masculino da empresa Mattel, a empresa que produziu e deu “voz” a Barbie. 

No começo do filme da Barbie onde a aurora do homem é substituída pela aurora da boneca, as fêmeas, representadas pelas meninas que destruíram suas bonecas ultrapassadas e optarem pelo monólito Barbie, herdam a violência que será gerida através dos tempos não somente na Barbieland, mas no mundo capitalista e nada normal a qual pertencemos. 

‘Ken’ somos? Na ficção somos meros expectadores de um feminismo tão nocivo quanto o machismo vigente na realidade fora das telas. Na ficção “é sempre o melhor dia de todos. Assim como ontem, e também amanhã, e todos os dias desde agora até sempre”, pois segundo o narrador extradiegético, “Barbie é todas essas mulheres. E todas essas mulheres são Barbie”. Uma afirmação não verdadeira, pois a maioria esmagadora das mulheres não são Barbies e nós, os chamados homens não somos os “Ken” sempre passivos a espera do bom dia das Barbies de plantão. 

E Ken, no filme em que não é o protagonista, traz muito bem a representação da realidade ao retornar a Barbieland e em uma tentativa frustrada tentar instalar o patriarcado, que ele julgava ser a forma vital de sobrevivência dos machos, dos homens no universo da ficção rosa choque. Pois na Barbieland a violência está com os indivíduos produtores de gametas grandes e imóveis, chamadas de óvulos que denomina seus portadores de fêmeas. Ou seja, as meninas destroem as bonecas até então conhecidas por elas para que a aurora da boneca se faça acontecer, ao se depararem com nascimento da Barbie e sua Barbieland. 

O mundo feminino das bonecas retratados no filme, somente vai receber o seu lado masculino, dois anos após Barbie já ser famosa, precisamente em 1961. A empresária Ruth Handler, a criadora de Barbie, resolve criar o boneco que vai compartilhar sua vida com Barbie, mesmo sabendo que para sempre, sempre acaba. Ele nasce já sabendo que não terá o papel principal, não será o grande protagonista, pois “Barbie é tudo. Ele é só o Ken”.  

Originalmente Kenneth Carson, nome do filho de Ruth, chega para gerar mais dinheiro para a fabrica de brinquedos Mattel e inverter a lógica vigente, ou seja, a Barbieland é um mundo feminino, governado por bonecas e não bonecos, o boneco Ken, não faz parte do poder no mundo das Barbies. 

O filme dirigido por Greta Gerwig, mostra inicialmente um Ken totalmente dependente da boneca mais famosa do mundo. O narrador diz que o Ken para existir necessitava da atenção da Barbie. Para a empresa Mattel, mesmo se adaptando as tendências do mundo, ele, Ken, foi projetado para ser namorado da Barbie. E isso durou até uma jogada de Marketing da empresa anunciar que ele e Barbie haviam rompido e não mais eram namorados e sim, somente amigos.  

A notícia foi parar no principal jornal estadunidense, o The New Iorque Times, um dia antes do dia dos namorados. A boneca mais famosa do mundo em uma jogada muito bem-feita de marketing continuava sua caminhada capitalista cada vez com mais sucessos, sem um par romântico e cada vez mais milionária e assim alcançando um estrelato ainda maior, chegando à telona.  

Mas o Ken de Greta Gerwig, ao sair da Barbieland, se deparou com um mundo que o fascinou, o mundo onde quem dita as regras são os homens, o mundo do patriarcado, o mundo onde ao homem é permitida toda forma de poder, onde se pode cometer as maiores insanidades pelo simples fato de ser homem, onde repetir a mesma palavra Mojo, Dojo, Casa, House do Ken”, arrancará aceitação de seus pares, delírio das mulheres e aplausos e risadas de uma plateia no cinema que ri de qualquer besteira, sem mesmo saber do que está rindo.  

O mundo real, as telas capitalistas de LEDs com seus anúncios consumistas protagonizados por homens musculosos formam o monólito ideal para tocar o Ken e fazer com que o boneco idiota e submisso adquira o caminho de transformar seu mundo através do poder que lhe é facultado: “o patriarcado”!  

Ao se dar conta que no mundo real, ele, pertence a espécie dominante, um macho, um homem, e que sendo assim ele pode tudo, ele pode se achar suficiente, “Ele é Kenough”, ou seja, pode usar o bordão para brincar com seu nome, a palavra “enough”, que em inglês significa: “Suficiente”. Ser Ken, ser homem, já é o suficiente! 

Ao ter noção de sua suficiência, Ken esquece totalmente que havia vindo ao mundo real para ajudar Barbie, abandona a amiga amada e retorna a Barbieland, já totalmente empoderado, pois descobriu que o patriarcado e os cavalos têm tudo haver. Sim, cavalos, como símbolo de dominação e poder masculino. Isso me faz lembrar que há pouco tempo um Presidente da nação gostava mais do cheiro dos cavalos do que dos seres humanos. Não, não é mera coincidência! 

Animais presidindo outros tantos animais que não percebem o quanto estão presos em um cativeiro social. Cavalos e cavaleiros, tão fundidos em um só, que fica difícil distinguir um do outro, já que o cérebro parece ser do mesmo tamanho, a ponto de existirem muitos ignorantes que ainda defendem o retorno destes tempos: “Intervenção militar com ‘Valdemort’ no poder”, ‘Ken’ somos? Ken nocivos e acéfalos!  

Ken toma o poder na Barbieland mostrando aos demais “homens” que o modelo vigente no mundo é o patriarcado, que no mundo real são os homens que ainda exercem o poder em ter a última palavra.  

‘Ken’ somos? Somos primatas machistas que nos matamos uns aos outros em nome da honra de possuirmos a Barbie mais bela do planeta. Cena muito bem representada no balé onde os Ken lutam no formato guerra de Tróia por uma Barbie Helena.  

‘Ken’ somos? Somos Ken fracos que inicialmente evitam chorar, que não sabem aceitar que não é não! Que espancam as mulheres! Que matam em nome da honra, que matam simplesmente por machismo, egoísmo e o simples e banal fato de serem mais forte fisicamente.  

“Eu sou um homem liberal, eu sei que chorar não é fraco.” (Ken) 

‘Ken’ somos? A herança da aurora do homem muito bem representada no filme, mas em estado de putrefação, em estado de extinção se não aprendermos que o novo modelo de primata masculino, chora, tem sentimentos, tem fraquezas, faz analise e exame da próstata através de um toque nada confortável e assim mesmo não deixa de ser homem, pelo contrário, mostra que ser homem nos dias atuais é algo que vai muito além do patriarcado, do machismo, do  exercer poder por simplesmente ser! 

O filme que traz o nome da Barbie em seu título e que a princípio todos pensávamos que o universo da boneca mais famosa do mundo não falaria em machismo, pois falou e falou com sabedoria e veracidade. 

‘Ken’ somos? Somos a evolução de uma espécie em transformação, em aprendizado, em constante mutação para uma busca da verdadeira aurora do homem, seja esse homem macho, fêmea ou o que queira ser. 

‘Ken’ somos? Somos muitos mais do que bonecos e bonecas, mesmo que retratados em um filme onde uma boneca e um boneco viram gente e se assumem humanos na ânsia de serem e viveram essa complexidade que é ser gente, ser humano nesse planeta em que vivemos. 

O filme faz pensar muito além do sucesso de bilheteria, faz pensar porque a diretora Greta Gerwig consegui retratar não o mundo da Barbieland em nosso mundo real, mas nossa realidade no espelho de cada homem e mulher que foram assistir ao filme. 

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu. 

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Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ. 

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1 comentário
  1. Elias Diz

    Pô, que texto horrível. Tenha mais cuidado em sua escrita, e por favor a revise mais vezes, ou pelo menos uma. Será melhor para todos, sobretudo a você. Aliás, não sei o que é mais grosseiro, o teor ou os erros.

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