Rádio Clube
H2FOZ
Início » Últimas Notícias » Mercadinhos de bairro, em alta, movimentam a economia de Foz do Iguaçu

Reportagem Especial

Minimercado e mercearias

Mercadinhos de bairro, em alta, movimentam a economia de Foz do Iguaçu

Foram abertos 90 comércios desse porte na cidade em um ano; além de vendas, mercearias, minimercados e armazéns são ponto de encontro da comunidade.

7 min de leitura
Mercadinhos de bairro, em alta, movimentam a economia de Foz do Iguaçu
Antônio Schneider, 68 anos, à frente do armazém: balança, rádio antigo e amizades – foto: Marcos Labanca/H2FOZ
Publicidade


Comprar em mercadinhos perto de casa jamais saiu de moda, mas esse modelo de negócio nos bairros e junto à comunidade está em alta. Em Foz do Iguaçu, foram abertos 90 em 2024, quase oito por mês, performance que deve repetir-se neste ano.

O número obtido pela reportagem é do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e reflete a tendência nacional: as portas se abrem para mais de 160 mercadinhos a cada dia no país. Vão de minimercado a mercearia, passando por armazém.

Publicidade

À frente, empreendedores que almejam a renda fora da carteira assinada e preferem trabalhar perto de casa, em que muitas vezes a moradia é conjugada com o comércio. Não concorrem com grandes redes e hipermercados, e sim os complementam.

Esses estabelecimentos impactam a comunidade com renda e emprego, já que micros e pequenas empresas geram seis de cada dez contratações nacionais, mostra o Sebrae. Mais do que pontos de compra, são espaços de encontro e aproximação da comunidade.

Os mercadinhos em Foz do Iguaçu têm variedade de tamanho e perfil. O que não falta a nenhum deles são os produtos procurados para o consumo cotidiano e acessível, como alimentos, bebidas e artigos de limpeza e higiene.

Publicidade

Empreendedor aos 68 anos

Em idade que mira a aposentadoria nos planos de muitos, Antônio Schneider, aos 68 anos, do contrário, vislumbra sonhos. Ele mudou de endereço e ampliou o comércio, conseguindo abrir o desejado armazém que leva seu sobrenome na fachada. A localização é estratégica, em uma região populosa e perto da ponte que liga Brasil e Argentina.

O comércio é a principal renda da família. A jornada não dá moleza: às 5h, o seu Antônio abre as portas diariamente, incluindo domingos e feriados. Sortido, o mercadinho tem até um pequeno café, que virou parada para argentinos e moradores das proximidades.

Publicidade
Os Schneider: Antônio e o filho Maicon no mercadinho da família – foto: Marcos Labanca

“O que tiver na prateleira, vende. O próximo passo é criar uma seção completa para churrasco e uma boa adega”, projeta. Se o maior desafio é o aluguel, a convivência é um dos grandes ganhos, revela. “O maior benefício é a amizade que fazemos com o povo”, frisa.

Unindo experiência e razão, o dono do mercadinho deixa uma lição. “Compro todos os produtos à vista e trabalho com uma margem pequena. Não quero ficar rico, mas trabalhar e manter minha clientela atendida”, conclui Antônio.

De pai para filha

“Não são compras, mas o complemento do que é preciso no dia a dia.” É como Marlene Moser (58) define o funcionamento da mercearia que mantém na Vila Yolanda. Assegura que o preço de muitas mercadorias é menor do que nos grandes supermercados.

O negócio ela recebeu do pai, Hilário, já falecido. A família mudou para Foz do Iguaçu na década de 1970, de Itacorá, localidade do Oeste que ficou submersa com a formação do lago de Itaipu. No mercadinho, Marlene garante a renda e pode cuidar da mãe, a dona Miranda, de 87 anos.

Marlene Moser: “Todo dia se vende, uns mais, outros menos. Comércio é assim mesmo” – foto: Marcos Labanca

O alívio na contabilidade mensal é por conta de não pagar aluguel e ser microempreendedora individual (MEI), que recolhe uma taxa fixa de encargos. O fiado já preocupou, hoje é controlado, apenas para vizinhos e em volume pequeno.

“Eu gosto do que faço, tenho amizades e vizinhos. Sempre tem uma história diferente aqui no balcão”, relata. “Todo dia se vende, uns mais, outros menos. Está bom. Comércio é assim mesmo”, aponta Marlene, demonstrando resiliência.

Empreender na pandemia

Em plena pandemia, Ana Paula This (42) decidiu encarar todos os obstáculos e reabrir seu mercadinho em 2020, no Porto Meira. O estoque de mercadorias resultou de parte do rendimento guardado trabalhando fichada por um período.

Seu comércio fica porta a porta com um supermercado. Sem enxergar competição com o empreendimento grande, a comerciante usa como estratégia manter a mercearia aberta até mais tarde, com a ajuda da filha aos sábados.

“Somos mais uma conveniência, em que o morador sabe que vai encontrar o refrigerante, pão, leite e café no horário em que ele mais precisa, inclusive após a saída do trabalho, à noite ou no fim de semana”, realça. “O preço é o mesmo, e minha bebida é geladinha”, completa.

Ana Paula, caderneta à mão: “Todo mundo se conhece, nos chamamos pelo nome” – foto: Marcos Labanca

Para a comerciante, a Mercearia Rosa de Saron é um ponto de encontro dos moradores. “Todo mundo se conhece, nos chamamos pelo nome. E tem os clientes idosos, nosso patrimônio. Anoto na caderneta, e eles acertam quando recebem a aposentadoria.”

Maior acesso ao crédito seria um empurrão para pequenos negócios como o seu, avalia Ana Paula. “Por ser MEI, o valor é limitado. Poderia ter um incentivo a mais, com recursos maiores e de forma simplificada. Nos ajudaria a crescer”, sublinha.

Compras no bairro

Em dez anos, o Mercado Ferreira saiu do básico para um estabelecimento recheado de produtos, incluindo açougue, um diferencial na região próxima ao Colégio Estadual Três Fronteiras, bem como o serviço de entregas. O negócio familiar emprega quatro pessoas. As redes digitais são aliadas para aumentar o faturamento.

Os mercados de bairro, argumenta o empreendedor Rafael Soutier (29), têm qualidade e preços, o atendimento é acolhedor e se dá atenção para suprir todas as necessidades da clientela. Os custos burocráticos obstam a expansão, observa, e se recorre à cultura da compra local.

Rafael, na gestão do empreendimento da família: comércio de qualidade e perto do morador – foto: Marcos Labanca

“Muitas vezes, o cliente é atraído pelo investimento em marketing das grandes redes. Mas quantos mercados bons temos no Porto Meira e nos bairros de Foz do Iguaçu?”, indaga. “São comércios perto, gerando renda localmente e fazendo a diferença para o morador”, reflete Rafael, que divide a gestão do negócio com o pai e o irmão.

Dicas para mercadinhos

O Sebrae avalia que o momento de expansão dos mercadinhos no país mostra que o quadro econômico é favorável para quem deseja empreender. Os negócios de bairro geram renda para as famílias e aproximam o consumidor de soluções rápidas e acessíveis.

A analista de Competitividade do Sebrae Jane Blandina da Costa dá dicas a quem deseja manter o fluxo das vendas e crescer. As principais são em gestão, conhecimento e ferramentas digitais:

gestão: deve ser simples e organizada, separando as contas da empresa das contas pessoais, e acompanhar de perto as entradas e saídas;
conhecimento: o empreendedor deve entender o perfil do consumidor local, seus hábitos, preferências, e ouvir sugestões, o que permite adequar o mix de produtos à venda;
digitalização: celular e tecnologias podem ser aliados, mediante uso de ferramentas de delivery, grupos de WhatsApp e redes sociais, para aumentar as vendas e fidelizar os clientes.

Newsletter

Cadastre-se na nossa newsletter e fique por dentro do que realmente importa.


    Você lê o H2 diariamente?
    Assine no portal e ajude a fortalecer o jornalismo.

    Paulo Bogler

    Paulo Bogler é repórter do H2FOZ. Com enfoque em pautas comunitárias, atua na cobertura de temas relacionados à cidade, política, cidadania, desenvolvimento e cultura local. Tem interesse em promover histórias, vozes e o cotidiano da população. E-mail: bogler@h2foz.com.br.

    Deixe um comentário