Um hábito milenar, que atravessa séculos e sociedades, a fofoca sempre esteve presente nas rodas de conversa — dos salões da corte às redes sociais de hoje. Em tempos remotos, ela circulava entre nobres e serviçais como forma de saber o que acontecia nos bastidores do poder. Na política, já foi usada como estratégia de influência, manipulação e até sobrevivência. Hoje, embora os cenários tenham mudado, a essência permanece: falar sobre quem não está presente é um comportamento humano que revela muito sobre a maneira como nos relacionamos.
Assista o novo episódio:
De vilã nas histórias à prática cotidiana, a fofoca ocupa um espaço ambíguo no imaginário coletivo. Para alguns, é apenas uma forma de socialização; para outros, um gesto de desrespeito. E, como toda conversa que desperta curiosidade, ela segue provocando emoções, julgamentos e muitos cliques nas redes sociais.
A estudante Cassiane Barbosa expressa um sentimento comum entre muitas pessoas. “Se alguém fala a palavra fofoqueira, eu já imagino que é uma questão negativa, de pessoas que falam mal dos outros pelas costas. Mas será que é sempre assim?”, questiona.

A dúvida faz sentido. De acordo com o psicólogo Júlio Almeida, a fofoca não é, em si, boa nem má. “A fofoca é um ato de a gente falar de alguém que está ausente. E ela pode ser encarada tanto como um aspecto positivo quanto negativo. O que vai dar o tom é a intenção. Qual é a intenção de falar daquela pessoa?”, explica.
Segundo o psicólogo, quando o objetivo é compartilhar algo positivo, como conquistas, reconhecimentos ou atitudes admiráveis, a fofoca pode ter um papel integrador, fortalecendo laços sociais e promovendo empatia. “Agora, se a intenção é denegrir alguém, espalhar boatos ou causar prejuízo, ela se torna negativa”, completa Júlio.

Além da dimensão social, há também um componente químico que ajuda a entender por que tantas pessoas sentem prazer em fofocar.
“Muitas pessoas hoje são viciadas em fofoca pela liberação de dopamina — o neurotransmissor do prazer. Existe uma descarga associada à curiosidade e ao ato de descobrir algo sobre o outro”, destaca Almeida.
Ou seja, falar sobre os outros ativa circuitos de recompensa no cérebro, criando uma sensação de prazer e pertencimento. Mas, como todo comportamento que dá prazer imediato, é preciso observar o equilíbrio e, principalmente, a real intenção.
No fim das contas, a fofoca revela mais sobre quem fala do que acerca de quem é falado. Ela pode aproximar ou afastar, dependendo da intenção. Como em toda forma de comunicação, o que transforma o diálogo em algo saudável é a consciência — e a responsabilidade com a palavra.
Veja também:
- “Quem Foi Que Te Disse?” estreia desmistificando a ideia de que autoconhecimento é coisa para “gente mais velha
- Episódio 2 do “Quem Foi Que Te Disse?” discute os impactos da escolha profissional na saúde mental
- Corpo em movimento, mente em equilíbrio
- Corpo nutrido, mente em equilíbrio: o papel do intestino na saúde mental
- Quem foi que te disse que pet é só companhia?
- “Quem foi que te disse” que ciência e afeto andam em lados opostos?
- Na ponta da agulha: episódio do “Quem foi que te disse” levanta debate sobre as conexões da saúde dos órgãos e a saúde mental
- Aprender um novo idioma fortalece a saúde emocional e amplia horizontes
- ChatGPT no divã: pode a inteligência artificial substituir a terapia?
- Não podemos falar sobre morte. Será?
- Saúde mental ao alcance das mãos: o poder do artesanato
- O médico das plantas: qual é a sua dose diária de verde?
- E se o que você acredita sobre si mesmo não for verdade?
- Menos telas: o resgate da infância longe do celular




