O governo da Argentina está analisando, pela primeira vez, a possibilidade de tirar o controle migratório da cabeceira da Ponte Tancredo Neves. A medida teria como resultado prático reduzir as longas filas atualmente registradas na fronteira com o Brasil.
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A transferência da fiscalização para um local mais distante da cabeceira da ponte é uma antiga reivindicação de empresários e dirigentes de Puerto Iguazú. O governo do país, contudo, tem histórico de posicionamento contrário, argumentando segurança nacional.
Na manhã deste sábado (31), a ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, surpreendeu ao falar abertamente sobre o tema.
As declarações foram dadas na cidade de Posadas, capital de Misiones, durante evento de campanha do partido governista La Libertad Avanza. Bullrich esteve acompanhada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, e por um candidato local.
De acordo com Bullrich, com a emissão do Decreto n.º 366/2025, que cria a reforma migratória na Argentina, o país está aberto a discutir alternativas.
Fiscalização migratória na Argentina
Uma das alternativas, citada diretamente pela ministra, seria acabar com as filas para registro migratório na Ponte Tancredo Neves, mudando a fiscalização para outro lugar.
“Estamos analisando a ideia de levar o posto fronteiriço que hoje temos na ponte para o lugar onde está o controle da Gendarmería”, afirmou. “Assim, poderemos permitir que haja livre circulação de quem quer fazer turismo nas Cataratas do Iguaçu.”
Conforme a ministra, a mudança teria “como objetivo duas linhas de convivência. Por um lado, o cuidado que devemos ter para a proteção do país e dos cidadãos de Misiones contra a entrada de drogas e armas. Por outro lado, fundamentalmente, pensar na integração das três cidades [da fronteira trinacional].”
Em sua conferência de imprensa, relatada pelo jornal Primera Edición, Bullrich chegou a mencionar a possibilidade de adotar controles integrados com o Brasil.
Atualmente, Argentina e Paraguai trabalham para a implementação de fiscalização conjunta na fronteira entre Posadas e Encarnación. Na fronteira com o Uruguai, por sua vez, já há postos onde agentes migratórios argentinos e uruguaios trabalham lado a lado.
Possível localização dos futuros controles
Ao citar o posto de controle da Gendarmería, Bullrich pode estar fazendo referência à unidade localizada na Rodovia Nacional n.º 12. O posto está situado 34 quilômetros ao sul da cabeceira da Ponte Tancredo Neves, nas imediações do lago Urugua-í.
Já o outro posto da Gendarmería Argentina nas estradas da fronteira fica na Rodovia Nacional n.º 101, no acesso ao aeroporto de Puerto Iguazú. O local está fora das rotas habitualmente utilizadas pelos viajantes rodoviários e tem pouco tráfego veicular.
Com a fiscalização migratória fora da cabeceira da Ponte Tancredo Neves, turistas e moradores de Foz do Iguaçu poderiam ir a Puerto Iguazú sem precisar registrar a entrada na Argentina. Os argentinos também teriam livre acesso ao lado brasileiro.
Ressalvas às declarações da ministra
Bullrich deu as declarações durante um evento de campanha, realizado para apoiar um candidato do partido de Javier Milei nas eleições provinciais de Misiones. Por esse motivo, o H2FOZ vê o episódio com cautela.
Historicamente, conforme mencionado, propostas para agilizar o trânsito na fronteira, como flexibilizar requisitos ou mudar a fiscalização de lugar, foram engavetadas pelo governo da Argentina.
Para ler o que a ministra disse (em espanhol), em matéria publicada pelo jornal Primera Edición, clique aqui.