Foz do Iguaçu, 108 anos? História da Terra das Cataratas é bem mais antiga

Aniversário do município é comemorado nesta sexta (10), mas a caminhada até a emancipação foi longa.

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Aniversário do município é comemorado nesta sexta (10), mas a caminhada até a emancipação foi longa.

Há exatos 108 anos, em 10 de junho de 1914, Foz do Iguaçu (ou “Vila Iguassú”, como era chamada na época) virou município. Antes disso, era distrito de Guarapuava. Antes ainda, foi colônia militar, fundada, justamente, porque já havia um povoado na região.

A história da Terra das Cataratas, portanto, é bem mais antiga que os 108 anos do seu município, como mostram alguns momentos que iremos recordar ao longo do texto.

1542

Pesquisas arqueológicas feitas na época da construção de Itaipu atestam que a presença humana no vale dos rios Paraná e Iguaçu remonta há cerca de oito mil anos. Recentemente, pesquisadores encontraram objetos, com até dois mil anos, na margem argentina do Rio Iguaçu, próximo às Cataratas.

Entretanto, o primeiro registro por escrito do território que é hoje Foz do Iguaçu foi feito pelo espanhol Alvar Núñez Cabeza de Vaca, que passou por aqui, a caminho da recém-fundada Assunção, no final de janeiro ou início de fevereiro de 1542 (há divergências em relação ao dia exato, apontado por alguns historiadores como 31 de janeiro).

Antes dele, em 1524, um outro europeu, o português Aleixo Garcia, esteve no atual Oeste do Paraná em busca de riquezas como uma montanha cheia de prata (que existia mesmo, mas em Potosí, na Bolívia). O trajeto de Garcia, que estava a serviço da Espanha quando naufragou no litoral brasileiro, teria passado mais ao norte, na região de Guaíra.

Também no século 16, dois povoados espanhóis foram fundados no vale do Rio Paraná: Ontiveros, em 1554, em algum lugar próximo entre os paralelo 24 e 25 (Foz do Iguaçu está abaixo do 25); e Ciudad Real del Guairá, em 1556, “três léguas ao norte de Ontiveros”.

1626

As primeiras Missões Jesuíticas, localidades que reuniam indígenas sob o comando de padres da Companhia de Jesus, foram fundadas no Oeste do Paraná. De 1610 em diante, 13 vilas foram criadas, uma delas a de Santa Maria, em 1626. A localização é incerta, mas há mapas que a posicionam no Rio Iguaçu, perto das Cataratas.

Trecho de mapa com a localização estimada das Missões Jesuíticas e povoados espanhóis dos séculos 16 e 17

Devido aos ataques dos bandeirantes paulistas, que invadiam as vilas para escravizar os moradores e levá-los para São Paulo, todas as missões paranaenses foram refundadas, a partir de 1630, no que hoje é o Sul do Paraguai, a província argentina de Misiones e o Oeste do Rio Grande do Sul.

A área próxima à Ilha Acaray, no Rio Paraná, vizinha à Ponte da Amizade, teria sido usada como ponto de apoio para a migração dos sobreviventes que deixaram as missões de Loreto e San Ignacio Mini, que ficavam no vale do Rio Paranapanema e foram recriadas na atual Misiones, Argentina.

1750

Em 13 de janeiro de 1750, Portugal e Espanha firmaram o Tratado de Madrid, no qual redefiniam seus domínios na América do Sul. O documento é importante porque demarca, claramente, que os rios Paraná e Iguaçu eram as fronteiras entre a América Portuguesa e as colônias espanholas no território hoje formado por Brasil, Paraguai e Argentina.

Muito antes da independência dos países, as terras do atual município de Foz do Iguaçu já pertenciam a Portugal. As alegações de que o Oeste do Paraná era do Paraguai e foi tomado pelo Brasil na Guerra da Tríplice Aliança (que aconteceu muito mais tarde, entre os anos de 1865 e 1870) não têm sentido histórico.

Mapa histórico mostrando as fronteiras definidas pelo Tratado de Madrid, em 1750

1889

O Alto Paraná (trecho do Rio Paraná entre os arredores de Posadas e as Sete Quedas) era um território esparsamente povoado na segunda metade do século 19, quando madeireiros e ervateiros intensificaram o interesse nas riquezas da região.

Na década de 1880, um povoado foi estabelecido no que hoje é Foz do Iguaçu. O brasileiro Pedro Martins da Silva e o espanhol Manuel González são dois dos primeiros moradores conhecidos. Em julho de 1889, um censo promovido pela equipe do tenente Joaquim Firmino contabilizou 324 habitantes, nove dos quais brasileiros.

Naquele mesmo ano, em 23 de novembro, foi fundada a Colônia Militar do Iguassú, marco inicial da atual cidade. A colônia tinha dois objetivos centrais: oficializar a presença física do Estado brasileiro na região e incentivar o povoamento, com a distribuição de terrenos aos interessados em fixar residência no então inóspito Oeste do Paraná.

1910

Outro marco histórico é o ano de 1910, quando a colônia militar foi elevada à condição de distrito do município de Guarapuava. A Vila do Iguassú, como passou a ser chamada, tinha cerca de dois mil habitantes e começava a ganhar corpo, embora permanecesse praticamente isolada em relação ao restante do território brasileiro.

Naquela época, a forma menos difícil de chegar à região era navegando pelo Rio Paraná, atravessando os territórios da Argentina e do Paraguai. Tal situação manteve-se durante praticamente toda a primeira metade do século 20, uma vez que a “Estrada Velha” era de tráfego complicado e o primeiro aeroporto, onde hoje é o Gresfi, surgiu apenas em 1941.

Mapa da década de 1930, quando o município de Foz do Iguaçu, desmembrado de Guarapuava, abrangia praticamente todo o Oeste do Paraná

1914

O município de Vila Iguassú, atual Foz do Iguaçu, foi criado pela Lei nº 1.383, de 14 de março de 1914. Já o 10 de junho foi o dia em que a Prefeitura de Foz do Iguaçu e a Câmara Municipal foram oficialmente instaladas, tendo Jorge Schimmelpfeng como primeiro prefeito e Ignácio de Sá Sottomaior como presidente do Legislativo.

Em 15 de junho de 1917, começou a funcionar a Comarca do Iguassú, consolidando a presença local do Poder Judiciário. O nome Foz do Iguassú foi adotado em 1918, com a grafia tendo sido modificada para Foz do Iguaçu, ao longo do tempo, devido às mudanças na forma de escrita das palavras de origem indígena.

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1 comentário
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