Mas, cadê meu irmão? Bruno e Dom se foram e Guaranis Kaiowá estão indo também…

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Aida Franco de Lima – ARTIGO

O mês de junho, reservado ao Dia Mundial do Meio Ambiente, 05, está acabando e junto, levando os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalistas Dom Phillips, ambos assassinados na citada data, em meio ao que ainda chamamos de Amazônia. Nesta semana, os familiares receberam seus restos mortais, para o último adeus.

Bruno, foi velado ao som de cânticos de etniais que ainda resistem, na Grande Recife, no dia 24. Índios xucuru e pankararu entoaram cânticos para homenagear o amigo que partiu e pajés da etnia karaxuwanassu promoveram um ritual, para que Bruno seja bem recebido no mundo espiritual. A cerimônia de despedida de Dom ficou para esse dia 25. Ambos cremados, ambos transformados em cinzas, em contraste ao verde da mata, para a qual deram a vida para que também não tenha o mesmo destino: pó.

Hino comovente em que o refrão é um golpe no coração: “Mas, cadê meu irmão?”. Fonte: Redes Sociais

SILÊNCIO

Mas as cerimônias de despedidas de Bruno e Dom nem terminaram, os soluços de suas famílias, amigos e colegas de trabalho ainda ecoam e mais uma vez a violência decreta a morte para os povos indígenas. Dessa vez no estado do Mato Grosso.

“No Mato Grosso do Sul o “Estado de Direito” fracassou. A polícia militar, em regime de milícia privada dos fazendeiros, promove despejos sem ordem judicial. Já virou rotina. Um estado onde o Agrobanditismo impera a custo do sangue indígena”. Eloy Terena – Advogado e antropólogo indígena. Coordenador Jurídico da APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.

A nota da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil é um grito de socorro, que precisa ser reverberado. Ela foi divulgada nesse sábado, 25, para denunciar um massacre que vem ocorrendo, sem ordem judicial, por conta da retomada de terras que no passado foram tomadas dos povos indígenas.

De acordo com o CIMI – Conselho Indigenista Missionário: “Após indígenas dos povos Guarani e Kaiowá retomarem, novamente, parte do território de Guapoy, policiais militares e fazendeiros invadiram a área, nesta sexta-feira (24/6), com o objetivo de expulsar, por meio do uso da força, os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial. A comunidade fala em “dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos 04) e ao menos 10 feridos”, lista a organização indígena que acompanha o caso.”

"A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil vem a público trazer sua dor e total revolta e indignação com a ação covarde da PM e do Estado do Mato Grosso do Sul contra a comunidade e território de Guapoy.
Este ataque já está sendo chamada em todos os nossos territórios de Massacre de Guapoy. Em mais uma ação ilegal da PM que tem agido como Cão de Guarda do ruralismo e da corja política ruralista no Estado, foram atacados crianças, jovens, idosos, famílias que decidiram, depois de muito esperar sem alcançar seu direito, retomar um território que sempre foi deles e que foi roubado no passado de nosso povo.
As imagens do Massacre falam por sí e são de fazer doer a alma do mais duro dos seres humanos. Tiros em jovens desarmados, violações a pessoas rendidas, disparos de helicóptero, tudo isso inclusive com uso de munição letal, deram o tom da covardia levada a cabo por um corpo policial que atuou sem mandado de reintegração de posse.
Inclusive é preciso denunciar que são dezenas de ações de despejo ilegal realizadas no mesmo modelo contra os povos do MS, sejam eles Kaiowa, e também contra outros povos como os Kinikinau, desde 2016, apenas não sendo maior o número porque na pandemia nos deixaram para morrer por falta de iniciativa de saúde do Estado, não precisando os policiais irem fazer o serviço sujo.
Logo na sequência do Massacre, típico de quem se adianta para esconder e acobertar o próprio crime, o secretário de segurança do convocou uma coletiva de imprensa cheia de mentiras e absurdos – chavões antigos que destilam preconceito contra nós, como associação de indígenas com drogas e sendo colocados genericamente como paraguaios – que nem mesmo se sustentam frente as inúmeras imagens que já vão ganhando o mundo.
Será que a criança , caída atingida por uma bala de borracha, que consiste em uma das imagens corresponde ao tráfico de drogas? Já são dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos 04) e ao menos 10 feridos. Nos solidarizamos ao mesmo tempo com o ataque realizado no mesmo dia do Massacre contra a comunidade de Kurupi\Santiago Kue, onde a PM junto com fazendeiros abriu fogo contra famílias, por pouco não causando o mesmo estrago.
Nós, da Aty Guasu, levaremos a todas as esferas esse Massacre e não desistiremos até que os responsáveis sejam punidos e responsabilizados. Exigimos a imediata prisão e responsabilização do Governador do Estado do MS, do comando da BOP/PM, e do secretário de segurança do Estado do MS.
Da mesma forma, queremos e exigimos a investigação e prisão de mais três pessoas. Do servidor Nilton da Funai de Amambai e do servidor José da funai de Ponta Porã por coparticipação e facilitação do Massacre.
Neste sentido, nossa dor não termina e diante dos áudios e provas, também pedimos a investigação e prisão do Capitão da reserva de Amambai, por facilitação do massacre. Não podemos permitir que divisões internas sejam instrumentalizadas pelo Poder Público e que isso nos tire a vida.
Ainda em tempo, exigimos que o MPF de Ponta Porã, que tem se mostrado lento em compreender a realidade imposta, assuma seu dever em defender nossos direitos imediatamente, sob o risco de ser conivente com todos estes atos de violência contra nosso povo."

Nas redes sociais, ativistas, jornalistas e algumas vozes estão questionando o motivo do silenciamento em relação ao caso. Claro que o Brasil é um paiol de pautas quentes, as mais bombásticas, que disputam a atenção da sociedade. Mas, não se justifica. Ou melhor, sim, justifica-se. Tanto que sabemos que a morte de Bruno Pereira não foi ofuscada porque, infelizmente mais uma vida foi ceifada e a comunidade internacional colocou ainda mais pressão por causa da morte do jornalista inglês Dom Phillips. Até quando vamos aceitar essa situção?

Nas redes sociais, personalidades de diversas áreas denunciam a violência ocorrida envolvendo indígenas

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