1.º de maio – dia de luta e de valorização de anos de resistência da classe trabalhadora

Não são poucas as tentativas de parte de empresas e governos de confundir a sociedade sobre o Dia Internacional do Trabalhador.

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Por AMILTON FARIAS | OPINIÃO

A intenção é acabar com a memória de luta, organização e mobilização da classe trabalhadora, fazendo com os trabalhadores percam a sua identidade e lugar de importância na sociedade, afinal de contas são os que trabalham, seja na indústria, no comércio ou na área de serviços, que movem a economia e que produzem.

É importante que a sociedade tenha total conhecimento da data, pois naquele momento homens, mulheres, idosos e crianças trabalhavam igualmente, com jornadas de mais de 12 horas diárias. Os trabalhadores e trabalhadoras da época, 1886, não tinham a opção de recuperar-se, descansar ou desfrutar momentos de lazer.

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A origem do 1.º de Maio está na greve geral de 1886 em Chicago, onde havia péssimas condições de trabalho, acarretando acidentes e mortes precoces devido à exploração generalizada a que os trabalhadores e as trabalhadoras eram submetidos.

Após muita repressão da polícia e dos seguranças das fábricas, a mobilização cresceu em todo o país e, com o lema “8h de trabalho, 8h de repouso e 8h de educação”, os trabalhadores voltaram às ruas em uma greve geral pedindo a redução da jornada para no máximo oito horas diárias.

Naquele momento da grande greve, a polícia foi enviada e, ao chegar, uma bomba explodiu, fazendo com que fosse aberto fogo contra as trabalhadoras e trabalhadores que estavam nas ruas.

Isso levou várias pessoas à prisão e à morte, e entre os mortos estavam cinco trabalhadores, três jornalistas, um tipógrafo e um carpinteiro, responsáveis pela mobilização da greve, os quais foram condenados à forca. Esses cinco trabalhadores ficaram conhecidos como “Os Mártires de Chicago”. Após dez anos do ocorrido, o governo norte-americano reconheceu que a polícia havia armado a bomba que explodiu na manifestação, inocentando os cinco sindicalistas mortos.

Aqui no Brasil, o dia 1.º de maio foi oficializado apenas em 1906, e trabalhadores anarquistas realizam o Primeiro Congresso Operário Brasileiro, fundando em 1908 a Confederação Operária Brasileira. Antes disso, porém, já aconteciam mobilizações em torno da questão.

Um ano após o massacre de Chicago, trabalhadoras e trabalhadores do Rio Grande do Sul realizaram a apresentação da peça “O 1.º de Maio”. No litoral paulista, na cidade de Santos, operários anarco-sindicalistas do porto começam a fazer grandes mobilizações. É em Santos que surgem as primeiras mobilizações brasileiras em torno da jornada de trabalho de 8h diárias e, em 1895, Santos comemora, pela primeira vez no país, o dia 1.º de maio.

O que mudou desde então

Muita coisa mudou desde então. Por meio da luta dos trabalhadores e trabalhadoras, ocorreu a mudança na jornada de trabalho para oito ou seis horas diárias, foram criados o seguro-desemprego, o 13.º salário, a indenização em caso de acidente de trabalho, etc. Todos os direitos conquistados foram obtidos com a união e mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras.

Mesmo com essas conquistas, ainda nos dias de hoje, existem trabalhadores e trabalhadoras que, por desconhecimento ou abuso de patrões, não conseguem acessar tais direitos.

A precarização do trabalho

As denúncias aparecem a cada dia. Por exemplo: de acordo com os dados divulgados no início deste ano pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no trabalho análogo à escravidão, houve um crescimento de 31% do número de pessoas resgatadas, em comparação com o ano de 2021, e 127% a mais do que em 2019. O total de estrangeiros resgatados sob tais condições no Brasil  foi de 148, frente a 74 (a metade) em 2021.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o salário médio de mulheres negras, de 1995 a 2015, equivalia a menos da metade do salário médio de homens brancos, no mesmo período de tempo. Enquanto os homens brancos tinham um salário médio de R$ 2.509,70, as mulheres brancas recebiam em média R$ 1.765; os homens negros recebiam R$ 1.434,10; e as mulheres negras, R$ 1.027,50.

As empregadas domésticas, por exemplo, que só conquistaram o direito a férias e 13.º salário em 2015, ainda hoje têm salários menores e condições de trabalho piores. Boa parte delas é negra, periférica e de baixa escolaridade.

Podemos colocar nessa lista também o mercado informal, que, conforme dados do IBGE, vem crescendo vertiginosamente. Dados mostram que aplicativos de celular, como Uber e iFood, têm sido os empregadores de quase quatro milhões de brasileiros, os quais, por necessidade, trabalham em outros lugares também, com jornadas que ultrapassam 12h diárias.

Além das muitas horas de trabalho, a distância entre residência e local de trabalho, na maioria dos casos, é grande. Os trabalhadores e trabalhadoras que utilizam como meio de locomoção o transporte público enfrentam diversos transtornos no dia a dia. A maioria acaba perdendo grande parte de sua energia no percurso, podendo assim prejudicar o desempenho no trabalho, em parte por problemas de motivação devido ao estresse do trajeto. Como no passado, perdem a opção de recuperar-se, descansar ou desfrutar momentos de lazer.

Diante de tudo isso, podemos afirmar que o Dia Internacional do Trabalhador e Trabalhadora é dia de homenagear os que perderam a vida nas lutas e mobilizações, e dia de convocar para a união e mobilização, pois só a união e a mobilização nos farão manter as conquistas e avançar em direitos.

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