Águas abaixo, a maravilha! Águas acima, usinas ainda padecem com a seca

Parece incrível, mas ainda precisa chover muito pra regularizar o nível dos reservatórios das hidrelétricas da bacia do Iguaçu.

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Parece incrível, mas ainda precisa chover muito pra regularizar o nível dos reservatórios das hidrelétricas da bacia do Iguaçu.

Às 8h desta segunda-feira, 18, a vazão nas Cataratas do Iguaçu estava em 1.770 metros cúbicos por segundo (m³/s). Acima da vazão normal, que gira em torno de 1.500 m³/s, garantindo um espetáculo inesquecível para os turistas.

Mas ao longo da bacia do Rio Iguaçu as chuvas ainda não foram suficientes para normalizar o volume dos reservatórios das usinas hidrelétricas, obrigadas a reduzir ou até paralisar a produção ao longo do dia.

Com ajuda das chuvas, mas principalmente com as manobras de paralisar geração, reduzir ou aumentar, conforme a água chega ao reservatório, o trabalho nas usinas exige ação constante e muita atenção.

A maior usina do Rio Iguaçu, a de Foz do Areia, chegou em setembro a um volume útil de apenas 9,23%. No mês, chegou à média de 15,5%, enquanto no “ano do apagão”, em 2001, estava em 80,29%. Naquele ano, a seca atingiu em cheio as usinas do Sudeste (incluindo Itaipu), mas poupou as do Paraná. Agora, generalizou.

Na última sexta-feira, 15, o Brasil contou com 41,85% de produção das hidrelétricas brasileiras, para atender o mercado de eletricidade, e mais 11,03% da energia produzida na Itaipu Binacional. A produção hidráulica, portanto, correspondeu a 52,88% do total gerado naquele dia.

Uma observação pertinente: em 2011, um estudo do BNDES sobre investimentos em hidrelétricas apontava que a energia hidráulica representava mais de 90% da matriz elétrica brasileira.

A geração eólica (15,81%) foi importante e representou o dobro da de Itaipu, que sofre seriamente as consequências da estiagem.

Houve ainda geração termonuclear (2,82%) e solar (1,46%). Mas o que garantiu eletricidade ao brasileiro foi a participação das térmicas, cuja energia representou 27,03% do consumo da sexta-feira passada.

A geração térmica, bem mais cara que a hidrelétrica, eólica e solar, é a que pesa – e ainda vai pesar – no bolso do consumidor brasileiro. Mas ela garante, ao menos, que tenhamos energia elétrica, com menor risco de apagões, pra não repetir 2001.

VAGA-LUMES

Enquanto as térmicas são aceleradas, as hidrelétricas operam conforme a dança das águas. Mais parecem vaga-lumes, acendendo e apagando ao longo do dia. Elas seguem orientação do Operador Nacional do Sistema, para evitar que as reservas desapareçam.

Entre as usinas da bacia do Rio Iguaçu que são de acumulação, isto é, que têm reservatórios grandes para garantir produção em períodos de estiagem, a hidrelétrica de Salto Caxias é a que está na melhor situação, com 54,85% de volume útil no seu reservatório.

Mas, a exemplo das demais, mantém a produção oscilante, paralisando a geração por algumas horas na madrugada, mantendo algumas máquinas paradas ao longo do dia e aumentando quando o sistema elétrico está precisando.

A de Salto Santiago, por exemplo, gerava às 7h desta segunda-feira 221 MW, muito pouco em relação à capacidade instalada – 1.420 MW. O volume do reservatório recuperou-se parcialmente com as chuvas, mas ainda está com apenas 24,43% do volume normal.

Em Salto Segredo, o volume útil subiu de 14,14%, às 13h de sexta-feira, para 38,17%, às 8h desta segunda. Como as outras, gera bem abaixo da capacidade (1.260 MW) e paralisa a produção nos horários de menor consumo, principalmente de madrugada.

Quando está operando, é obrigada a utilizar água do reservatório, porque recebe menos do que precisa. Por exemplo, às 18h do domingo estava devolvendo ao rio 1.150 metros cúbicos de água turbinada por segundo. Mas a água que entrava no reservatório representava apenas 633 metros cúbicos por segundo.

Foz do Areia, a maior: produção oscilante ao longo do dia. Foto Copel

A maior usina da bacia do Rio Iguaçu é a de Foz do Areia, com capacidade instalada de 1.500 MW. Desde a manhã de sexta-feira até agora, poucas vezes ela utilizou mais água do que a que vem de rio acima, poupando ao máximo.

Mesmo com essa engenharia, nesta segunda-feira o reservatório estava com o volume útil de 28,09 metros cúbicos por segundo. Naquela hora, Foz do Areia devolvia ao rio 233 metros cúbicos de água turbinada e recebia 1.140 metros cúbicos por segundo. Somente em alguns horários de sexta-feira, 15, a usina utilizou para gerar energia mais água do que vinha de rio acima.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Onde as chuvas já geraram bons resultados é na recuperação dos reservatórios de abastecimento de água da Grande Curitiba. O Sistema de Abastecimento de Água Integrado, que é a soma das reservas de quatro barragens, está em 57,50%, conforme a atualização diária feita ela Sanepar.

Das quatro barragens, só a do Iraí está abaixo de 50% (44,94%). As outras estão com 63,42% (Passaúna), Piraquara 1 (67,47%) e 68,02% (Piraquara 2).

Pra evitar novos problemas de falta de água, a Sanepar está executando a obra de transposição de água do Rio Capivari, em Colombo, para chegar à barragem do Iraí, distante 26,7 km de distância.

Prevista inicialmente para 2025, a obra foi acelerada e deveria ser entregue no final de setembro deste ano, mas sofreu atraso, devido à necessidade de fazer ajustes num dos trechos.

CHUVAS NO PARANÁ

Como precisa de mais chuvas, a meteorologia tem notícias favoráveis. Tanto nesta segunda quanto na terça-feira, persistem as condições para pancadas de chuva de intensidade moderada/forte.

Em Foz, o Inmet prevê “nuvens com pancadas de chuva e trovoadas isoladas”, à tarde esem trovoadas à noite. O Simepar mudou a previsão e já não garante as chuvas de hoje.

Pra terça-feira, Inmet e Simepar preveem chuvas, mas pouca coisa, em Foz do Iguaçu: 2,2 milímetros.

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