Foi transnacional o primeiro esforço a acudir à tropa que fincou estaca e fixou a Colônia Militar na foz do Rio Iguaçu, anos depois a cidade que completa 111 anos de fundação oficial, não incluída na contagem a história que veio antes. Em auxílio aos militares recém-chegados, em 1889, os casais Izaias Penna e Joanna Roza, e Feliciano d’Araújo e Andréa Vera — os homens brasileiros e as mulheres, uruguaia e paraguaia.
O registro foi feito pelo sargento da expedição, José Maria de Brito, um conjunto de descrições e informações publicado como Descoberta de Foz do Iguaçu e fundação da Colônia Militar, livro impresso pela Travessa dos Editores há 20 anos. Faz parte do relato do primeiro contato dos homens que atoraram pela mata, a partir de Guarapuava, com ordens do Ministério da Guerra, para pôr sob domínio efetivo do Estado brasileiro a região entre as Cataratas do Iguaçu e as Sete Quedas.
O novembro quente e seco fez o grupamento mudar a localização inicial do acampamento, escreveu, da área próxima ao hoje Colégio Agrícola para o rio que corta o centro da cidade, o Monjolo, junto à atual Avenida Brasil e suas imediações. Havia água para enfrentar a secura. Os dois casais, feitos vizinhos, ajudaram a colônia militar na obtenção de insumos essenciais e com informações sobre o funcionamento do vilarejo, a idiossincrasia da fronteira daqueles tempos.
Eram “324 almas” no período da descoberta da foz do Iguaçu, detalhou José Maria de Brito, antecipando o que agora se sabe pelos quatro cantos: essa geografia do mundo é vocacionada ao cosmopolitismo. Censo primário, esse levantamento da população nativa apontou como residentes nove brasileiros, cinco franceses, dois espanhóis, um inglês e, formando maioria, 95 argentinos e 212 paraguaios.
Descoberta de Foz do Iguaçu retrata José Maria de Brito indignado com a exploração predatória e rentável dos recursos naturais da região por empreendimentos estrangeiros. Deixou escrito o que pode ser interpretado como uma visão generosa sobre o lugar, o que difere de muitos que o sucederam, que aqui estacionaram com sede da riqueza e status que não haviam experimentado em seus destinos de origem.
Projetou que a já constituída Foz do Iguaçu “marcha futurosa para a vanguarda do progresso”. E que dispunha de “fundadas esperanças” para o otimismo com a cidade que jamais deixou, até falecer, sem posses e quase nenhuma lembrança. O passado e seus agentes, como José Maria de Brito, são fontes não só para revisitar a história, mas para entender-se as contradições e conformações do tempo presente, o que é um exercício, um dever de cidadania.