Mortos achados em contêiner no Paraguai pensavam que estavam indo pra Itália

Jornais paraguaios entrevistaram familiares das vítimas, que seguiam em busca de uma vida melhor na Europa.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Os sete imigrantes encontrados mortos num contêiner, no Paraguai, armazenaram alimentos e água para uma viagem que seria de 10 horas, da Sérvia até a Itália. A viagem durou quase três meses e terminou no Paraguai, há uma semana.

O jornal ABC Color entrevistou um amigo dos sete homens, Ismail Maouchi, que vive na Sérvia, mas nasceu na Bósnia Herzegovina. Ele disse que os amigos acreditavam que o contêiner seguiria de trem até Milão, na Itália, país que escolheram por ser mais tolerante com os imigrantes ilegais.

Os sete entraram no contêiner, carregado com fertilizantes, na cidade de Sid, a 115 quilômetros de Belgrado, capital da Sérvia. A intenção era viajar escondidos até Zagreb, na Croácia, depois Liubliana, na Esclovênia, e dali a Milão, numa viagem de 950 quilômetros, que duraria cerca de 10 horas.

Ao invés de o trem seguir para a Itália, no entanto, ele foi para o porto da Croácia, onde os contêineres (eram cinco, no total, um deles com os imigrantes) foram embarcados num navio com destino ao Paraguai.

Os clandestinos morreram, conforme reportagem do ABC Color, provavelmente já na rota marítima entre a Croácia e o Egito.

Antes de desembarcar no Paraguai, o contêiner com os setes mortos passou pela Espanha e Argentina, de onde veio por hidrovia até Villeta, cidade portuária a 37 km de Assunção.

Os poucos restos de alimentos e de garrafas de água confirmam que os imigrantes imaginavam que seria uma viagem curta, nunca dos 17.600 km percorridos durantes quase três meses entre origem e destino final. Eles embarcaram no dia 21 de julho e os corpos chegaram ao Paraguai em 19 de outubro.

No mapa preparado pelo jornal ABC Color, o percurso do “contêiner da morte”.

De acordo com a entrevista de Smail, Itália e Bélgica são os principais destinos na Europa Ocidental com que sonham os imigrantes que estão nos países pobre próximos.

“Quando chegassem a Milão, eles teriam que gritar para que a polícia abrisse o contêiner. Na Itália, a polícia não os iria deportar”, explicou, e por isso o país é um dos preferidos dos imigrantes ilegais.

Smail Maouchi tomou conhecimento da morte de seus sete amigos pela página na internet do ABC Color. Os sete eram: Yessa Aymen, do Egito; Zugar Hamza e Sidahmed Ouherher, da Argélia; Rachid Sanhaji, Mohamed Hadoun, Ahmed Bel Miloudi e Said Rachir, do Marrocos.

Todos estavam havia três meses na Sérvia, esperando a oportunidade de viajar para a Itália. “Eles buscavam uma vida melhor na Europa”, contou Smail.

Os imigrantes se esconderam no contêiner, um dos cinco carregados com fertilizantes adquiridos pelo importador paraguaio Vernon Rempel, e nele seguiram para a morte certa, provavelmente por falta de oxigênio.

Ao ser aberto pelos empregados do importador, o contêiner continha, além dos sacos de fertilizantes, os restos mortais de sete homens.

“Atrás de um sonho”

O jovem marroquino fazia “bicos” na Turquia, de onde foi para a Sérvia. Dali, pretendia seguir para a Itália. Foto publicada no La Nación

Um dos sete mortos no contêiner, o marroquino Ahmed Bel Miloudi, tinha 25 anos de idade, segundo noticia o jornal La Nación, com base em entrevista concedida pela prima do imigrante, Rouichi Insafa, que mora em Marsella, na França.

“Meu primo estava trabalhando na Turquia, desde julho não sabemos nada dele. Trabalhava como garçon e em outras atividades de meio turno, nada formal. Vivia com a mãe”, contou a prima. “Não sabíamos nem que tinha planejado a viagem.”

A tia do jovem, Khadija Belmikdam, que mora no Marrocos, disse que agora o que a família quer é que o corpo seja enviado de volta ao país onde Ahmed nasceu.

Em mensagens via Whats ao La Nación, a tia lamentou: “É muito triste que estes jovens tenham perdido suas vidas atrás de um sonho”.

Ela agradeceu aos paraguaios pelo senso de humanidade.”Vimos as reportagens e os comentários dos paraguaios no Facebook e são de verdade muito humanos e muito sensíveis com respeito a este incidente”, disse.

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