Por que a Estrada do Colono fragiliza o Parque Nacional do Iguaçu?

O parque já sofre com as pequenas dimensões da área entre as Cataratas do Iguaçu e a região perto da Estrada do Colono

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Por Jackson Lima. Publicado originalmente em O Blog de Foz
 

Um centímetro no mapa equivale a 20 quilômetros

O mapa acima mostra a localização do Parque Nacional do Iguaçu no Brasil. No cantinho esquerdo, embaixo no mapa, a gente vê uma indicação dizendo que nesse mapa um centímetro equivale a 20 quilômetros (km). Agora localize bem onde ficam as Cataratas do Iguaçu. Entre as Cataratas do Iguaçu e a Estrada do Colono há cerca de 50 quilômetros. Em 80% desse trajeto, as terras do Parque Nacional são uma faixa estreita, irregular. A largura do Parque Nacional, ao longo dessa faixa, entre a Estrada Velha de Guarapuava e o Rio Iguaçu, varia entre quatro quilômetros, um quilômetro a cerca de meio quilômetro (500 metros). 

Chega lembrar uma bota de palhaço de cano longo e grosso com uma ponta longa e fina *. 

Segundo a minha visão particular, não comprometendo ninguém e nenhuma ciência, uma área nacional protegida com meio quilômetro de largura é uma piada. Note, por favor, que as Cataratas são, no mapa, o “pinguinho” que lembra um “brinco” ou uma “gotinha” caindo da “orelhinha” dessa parte do território brasileiro. Compare com a foto  2 abaixo, que mostra essa mesma linguinha de terra tirada de um avião da Azul a cerca de 915 metros de altura em sua aproximação ao Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu/Cataratas. 

A parte mais larga do Parque Nacional, no norte da unidade, parece ter a olho nu, baseado no mapa, uns 30 quilômetros. De volta ao sul do parque, notamos que logo que a largura da unidade começa a crescer, passa para talvez dez quilômetros de largura já vem, logo à frente, a Estrada do Colono. Justo na área em que a faixa de terra começa a ganhar largura chegando a 17 quilômetros na trecho cruzado pela Estrada do Colono. O parque, que já sofre com as pequenas dimensões da área entre as Cataratas e a região nas proximidades da Estrada do Colono, volta a receber uma nova secessão, ruptura do território. Na prática é como se disséssemos: parque pra quê? 

Cada centímetro de vegetação nativa foi derrubado

Considerando que o Parque Nacional tem dois grandes propósitos, a situação da proteção a ele começa, de novo para mim, parecer uma piada. Um propósito importante é proteger e preservar a beleza e valores cênicos das Cataratas do Iguaçu. Isso acontece na lingueta insignificante do Parque Nacional do Iguaçu na área das Cataratas. A segunda é preservar e proteger a Mata Atlântica como uma amostra do que foi e podendo assim ter o que mostrar às gerações futuras.

Ao olhar para o mapa, eu tenho a falsa impressão de que é possível cumprir a missão de preservação do Parque Nacional do Iguaçu dividindo-a em duas. A preservação da beleza cênica das Cataratas por meio da lingueta quase simbólica de área sobre a qual é possível preservar alguma coisa e a preservação de uma mostra da Mata Atlântica como ela foi um dia segundo a natureza. 

E isso é importante? Claro que sim. Um voo de Curitiba a Foz do Iguaçu, que dura entre 45 minutos e quase uma hora, dependendo da nave, mostra uma realidade brutal e triste lá embaixo. Cada centímetro da área de vegetação nativa foi derrubada em nome do bem-estar, do conforto, da sobrevivência e da economia. Daí, achar que o Parque Nacional do Iguaçu tem terra demais.      

“Cada centímetro da área de vegetação nativa foi derrubada em nome do bem-estar”

Vamos nos localizar 

Mais de 90% da floresta que aparece lá embaixo nesta foto é argentina. Talvez 95%, 96%. Mais? O Brasil  é representado aí pela “língua” de terra que parece uma ilha ao redor da qual o Rio Iguaçu está fazendo uma curva para cair no cânion e transformar-se em cataratas do Rio Iguaçu. Que largura terá essa “língua” de terra? Essa “língua” de terra é aquele “brinco”, aquele pinguinho que se pode ver no mapa do Parque Nacional acima. Posso dizer que as Cataratas do Iguaçu, Brasil, estão naquele pedacinho de terra que penetra em território argentino. 

Da janela do avião se pode ver a margem argentina do Rio Iguaçu, no “sul” da foto. O rio faz a curva ao redor de nosso “pinguinho de terra” e essa margem continua pelo lado argentino, no lado contrário ao nosso “brinquinho” de terra. A largura desse “pinguinho de terra” é, na prática, a largura do Parque Nacional do Iguaçu até chegar à região onde a unidade de conservação começa  a querer engordar.

O fato de o Parque Nacional Iguazú aparentar ter muito mais floresta que o Parque Nacional do Iguaçu é ilusório. Coincide que nossa “língua de terra” se encontra ao lado da parte mais gorda do parque argentino. Ou melhor, o parque argentino é mais compacto, contudo é três vezes menor que o Parque Nacional do Iguaçu. Mas a fragilidade e a voracidade ao redor dele são iguais à nossa. Coitados!  

Notas:

A postagem continua com a apresentação de documentos que revelam o processo de aquisição de terras para inclusão no Parque Nacional do Iguaçu e dá uma ideia da trajetória da ocupação da terra do “sertaozão” do “Sulzão” brasileiro com destaque para o Oeste e Sudoeste do Paraná. 

* Este mapa do Parque Nacional do Iguaçu foi tirado do trabalho científico “Novas informações sobre a avifauna do Parque Nacional do Iguaçu”, sobre observação de pássaros na revista Atualidades Ornitológicas. Trabalho assinado pelos pesquisadores Fernando C.Straube, Alberto Urben-Filho e José Flávio Cândido-Jr (2004).

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