Fingir que não vê e não ouve ajuda a perpetuar violência infantil

Thelma de Oliveira, da equipe do Hospital Pequeno Príncipe, mostra quadro preocupante de ataques contra crianças e adolescentes.

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Thelma de Oliveira, da equipe do Hospital Pequeno Príncipe, mostra quadro preocupante de ataques contra crianças e adolescentes; assista à entrevista.

A faixa etária das crianças vítimas de violência e as condições da saúde mental na população infantojuvenil durante a pandemia formam um quadro preocupante, conforme os profissionais do Hospital Pequeno Príncipe. O equipamento é, ao mesmo tempo, um termômetro da incidência de agressões e um espaço de atendimento no Paraná.

Nos últimos cinco anos, até 2021, o hospital recebe anualmente entre 550 e 620 crianças e adolescentes vítimas de todas as formas de ataques, parte deles violência sexual. São em média dois atendimentos por dia. Os dados são da assessora da diretoria do Pequeno Príncipe, Thelma de Oliveira, durante entrevista ao Marco Zero, programa do H2FOZ e Rádio Clube FM.

Assista à entrevista:

“O que chama muito a atenção é a faixa etária das vítimas, pois 70% dessas crianças têm apenas de 0 a 6 anos”, frisa. “Estamos falando de crianças que não sabem se defender, não aprenderam ainda a entender o que acontece, se expressar corretamente, nomear um sentimento ou reagir perante uma ameaça”, completa.

E mais: do total de vítimas de violência infantojuvenil no último ano atendidas no Hospital Pequeno Príncipe, 208 têm menos de 2 anos, ou seja, são bebês. A saúde mental no contexto da pandemia de covid-19 é outro agravante identificado pelo serviço de saúde, fazendo aumentar casos de depressão, isolamento, suicídio e outros sofrimentos psíquicos.

“Tivemos 52 casos de tentativa de suicídio entre crianças e adolescentes”, relata Thelma. “O que chama atenção é que o suicídio era um fenômeno de jovens adultos, na faixa dos 20 anos. Depois, desce para a adolescência e, agora, a gente tem crianças com ideação e tentativa de suicídios. Isso aponta que a saúde mental passa a ser uma prioridade”, defende.

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Machismo e violência

Na entrevista, Thelma Oliveira, que é formada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), faz uma relação entre violência e machismo, com base no perfil das vítimas. As meninas são a maioria dos casos de violência sexual, enquanto os meninos predominam nas agressões físicas.

“Esse perfil mostra exatamente o fundamento de uma cultura machista da nossa sociedade. Alguns homens ainda pensam que a mulher é um objeto a ser utilizado para seu prazer”, aponta. “E isso se reproduz na relação com as crianças. Essa estrutura social de poder estabelecida culturalmente impulsiona os atos de violência”, avalia.

Efeitos para a vida

Ao Marco Zero, a profissional descreve o efeito do “estresse tóxico”, que ocorre quando a criança enfrenta situações de abandono, negligência, ausência de afeto ou violência. Esse fenômeno tem efeito nas emoções, no aprendizado, e irá perdurar durante a vida adulta, explica Thelma Oliveira.

“Criança submetida ao estresse tóxico vai se tornar um adulto com uma série de limitações, intelectuais, cognitivas e emocionais”, exemplifica. “Sofrerá dificuldade de ter autonomia na sociedade, no trabalho, formar uma família ou se sustentar. Se pensarmos no número de crianças nesse ambiente, é muito preocupante, falamos de uma geração”, completa.

Comprometimento da sociedade

De acordo com a integrante da equipe do Hospital Pequeno Príncipe, as pessoas devem estar atentas a casos de violência e maus-tratos, que ocorrem em todos os ambientes. E denunciar. “Primeiramente, é preciso estar comprometido em interromper o ciclo da violência”, enfatiza Thelma, o que é papel de todos.

Em casa, na família, na escola, no condomínio ou na vizinhança, e até mesmo em um ambiente público como um shopping, as pessoas não podem aceitar agressões físicas ou psicológicas contra crianças. Os casos que exigem denúncia devem ser relatados para os disque-denúncias 100 e 181, com ligações que mantêm o anonimato.

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