Artigo na revista Nature questiona reabertura da Estrada do Colono

Fundada em 1869, publicação britânica é uma das mais importantes do mundo em temas como ciência e conservação do meio ambiente.

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Considerada uma das publicações mais respeitadas do mundo, a revista britânica Nature trouxe em sua edição eletrônica, na última terça-feira (17), artigo que aborda o projeto de reabertura da Estrada do Colono, entre Capanema e Serranópolis do Iguaçu. A via, localizada no interior do Parque Nacional do Iguaçu, foi definitivamente fechada em 2001. O leito do antigo caminho já foi recuperado pela vegetação nativa.

O material, assinado pela jornalista Meghie Rodrigues e intitulado Brazilian road proposal threatens famed biodiversity hotspot (“Proposta de rodovia brasileira ameaça famoso ponto de biodiversidade”, em tradução livre), analisa o Projeto de Lei nº 984/2019, impulsionado pelo deputado Nelsi Coguetto Maria (Vermelho), que tem domicílio em Foz do Iguaçu e base eleitoral nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná.

“Além de cortar o Parque do Iguaçu em dois com uma rodovia que vai conectar cidades ao norte e ao sul, o projeto visa a criar um novo tipo de área protegida – a estrada-parque – no Sistema Brasileiro de Unidades de Conservação”, alerta o texto. “Se aprovada, a construção do ‘Caminho do Colono’ no Iguaçu pode literalmente pavimentar o caminho para criar vias de passagem em outros parques e áreas de conservação no Brasil.”

“Se a proposta for levada adiante, pesquisadores temem que irá ameaçar a exuberante floresta do parque e a biodiversidade de um local que é o lar de quase 1,6 mil espécies animais, incluindo animais ameaçados como o pararu-espelho [pássaro da família das pombas]”, escreve a Nature, questionando o regime de urgência adotado pela Câmara dos Deputados, para que o tema seja levado direto à pauta de votação.

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“Sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro, o governo do Brasil enfraqueceu a proteção às florestas do país em favor de indústrias como mineração, exploração madeireira e pecuária. A câmara baixa do Congresso do Brasil, a Câmara dos Deputados, colocou a matéria em tramitação rápida em junho, permitindo pular o debate regular nas comissões e ser levada direto para votação – movimento que preocupa os pesquisadores”, complementa a revista, que tem 2,1 milhões de seguidores no Twitter, 509 mil no Facebook e alcance mundial em língua inglesa.

O artigo recorda a criação do Parque Nacional do Iguaçu, em 1939, e seu reconhecimento como Patrimônio Mundial da Humanidade, em 1986. “O parque é famoso por suas Cataratas – uma das maiores do mundo – na fronteira com a Argentina. Mas é também notável porque contém o maior fragmento de Mata Atlântica no Sul do Brasil”, publica a Nature, ressaltando que o bioma perdeu quase 90% de sua área original no século 20, pressionado por fatores como urbanização, agricultura e atividades industriais.

A jornalista Meghie Rodrigues ouviu fontes locais como Ivan Baptiston, chefe do Parque Nacional do Iguaçu entre 2015 e 2020;  Carmel Croukamp Davies, diretora do Parque das Aves; Carlos Araújo, ativista ambiental argentino; e pesquisadores como o biólogo Victor Prasniewski, que fez um estudo sobre o impacto de uma estrada em meio à floresta (poluição do ar, solo, água e sonora), para a reprodução de animais que vivem no entorno. A íntegra da matéria, em inglês, pode ser lida clicando aqui.

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