Um mapeamento feito pelo Observatório Educador Ambiental Moema Viezzer mostrou que os resíduos provenientes do corte de árvores e da construção civil são os tipos de lixo com mais descarte irregular em Foz do Iguaçu.
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Realizado entre 22 de junho e 15 de setembro de 2024, o trabalho revelou a existência de 135 pontos de descarte irregular na cidade. A maior parte do lixo, 38%, foi encontrada nas margens das ruas; e em lotes vazios, 26%.
Conforme a sondagem, 37% dos resíduos descartados irregularmente deveriam estar em caçambas. Outros 28% poderiam ir para compostagem, e 22%, que correspondem aos recicláveis, deveriam ser encaminhados às cooperativas.
O levantamento apontou que o terceiro tipo de lixo com descarte irregular se refere a móveis, com 16% dos registros. Nesse caso, o procedimento correto seria colocá-los em caçambas.
Alerta para corte de árvores
Em relação aos resíduos de corte de árvores, o Observatório levanta um alerta. Como o município tem contrato com a Vital Engenharia Ambiental e a empresa faz a coleta desse tipo de resíduo, provavelmente está havendo corte irregular de árvores na cidade.
Sobre os resíduos da construção civil, os pesquisadores lembram que há caçambas disponibilizadas pelo município, as quais são cedidas gratuitamente a associações de moradores e instituições públicas.
Portanto, a hipótese é de que haja falta de informação por parte de famílias em situação de vulnerabilidade e de que o programa de caçambas da prefeitura não esteja atingindo o público-alvo.
Por outro lado, quem tem condições financeiras de contratar o serviço parece que não faz por preconceito ou ressentimento, julgando inadequada sua exclusão do benefício da caçamba.
Ao fazer o mapeamento, os pesquisadores receberam várias informações acerca do descarte de lixo.
Os moradores de um bairro periférico informaram, por exemplo, que pessoas de outras regiões da cidade chegam com carros para descartar lixo no local.

Lixo por todos os lados
Foi verificado que não há um padrão para descarte. O fato de as ruas, somarem mais da metade dos locais de descarte irregular, contribui para o aumento da dengue e outras doenças.
Outros pontos identificados foram fundo de terrenos, frente de comércios, residências e obras em construção, ruas, calçadas, terreno reservado para transmissão elétrica e propriedade particular.
Os pesquisadores ainda constataram que:
- o descarte irregular também ocorre em regiões relativamente nobres da cidade, porque a população está acostumada e acaba normalizando a atitude;
- muito lixo é deixado em calçadas e acaba atraindo animais, que espalham ainda mais os resíduos;
- não apenas as pessoas que usam carrinhos depositam o lixo em locais inadequados. Há estabelecimentos comerciais que fazem o descarte irregular, reforçando que o lixo não tem relação com uma classe social ou econômica.
Para os pesquisadores do Observatório, apesar de haver programas de coleta urbana, coleta seletiva e fornecimento de caçambas para a população de baixa renda, percebe-se a falta de cidadania.

Falta informação
Geográfa e membro do observatório, Shirley Barros Felippe diz que para melhorar o descarte de lixo na cidade é preciso mais informação para que os serviços prestados pela prefeitura cheguem à população.
Também é necessário um trabalho mais próximo com as associações de bairro. “Muito do que está sendo descartado irregularmente, a população está vendo, a população é conivente e se omite.”
Ela ressalta que a prefeitura não consegue manter um fiscal para cada cidadão, por isso a população deve fazer o papel de fiscal também.
Outro ponto importante é em relação à fiscalização, centralizada na Secretaria da Fazenda, que gera questionamentos. Segundo Shirley, ela já fez várias denúncias na Ouvidoria, porém nunca recebeu respostas.
Para ela, existe uma cultura em Foz do Iguaçu que deve ser debatida. A população se incomoda mais com o mato do que com o lixo e associa este àquele. Por isso, fazem roçadas em terrenos de outros proprietários para acabar com o matagal, deixando o lixo.
Outro mau hábito presente entre os moradores é a queima de lixo, que acaba sendo espalhado pelo vento e prejudica as pessoas.
O trabalho, orientado pela professora da Universidade da Integração Latino-Americana – Unila, Luciana Ribeiro também contou com a participação de Elisvan Costa e Jamila Borkowski. O Observatório Educador Ambiental Moema Viezzer (OBEAMV) é uma iniciativa ligada à Unila.


