Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Se pensarmos que Brasília é uma grande escola, e a Câmara e o Senado, a sala da diretora, a situação é assustadora. É como se a turma do fundão tivesse tomado conta de tudo e o restante dos alunos e da comunidade escolar virado refém. Apenas assistem à escola pegar fogo. A turma do fundão não venceu os jogos escolares e agora quer punir o juiz, a professora e qualquer um que se envolver.
Na última semana, os veículos de comunicação e as mídias sociais foram tomados por cenas patéticas. A fábrica de memes foi abastecida com sucesso, tendo como cenário o Senado e a Câmara. Na terça-feira (5), os deputados tomaram conta da mesa diretora da Casa e a ocuparam por mais de 36 horas, impedindo o acesso dos opositores ao ato.
Os congressistas, que escrevem as leis brasileiras, decidiram rasgá-las e no grito impor suas vontades. Tal como aconteceu no dia 8 de janeiro, quando os mesmos locais foram depredados por eleitores que não aceitavam o resultado das eleições. A diferença é que desta vez não houve destruição do patrimônio físico. Mas o moral, aquele que a gente não toca, porém percebe, foi ainda mais abalado que no início do ano.
Político tem a fama de não honrar a palavra, e nesse caso não foi diferente. Em busca de holofotes e cenas para as redes sociais, alguns se acorrentaram às cadeiras e usaram fita adesiva em olhos, bocas e ouvidos. Prometeram não arredar o pé se seus pedidos não fossem atendidos. Algumas horas depois, o cenário estava limpo. Contudo, as marcas ficaram.
Uma das pautas foi a anistia para todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, coordenados e coordenadores. Inclusive o ex-presidente Bolsonaro. Entretanto, a palavra “anistia” está colada com o tarifaço. Este agora impera contra o Brasil, em cima de produtos como carne, café, frutas e muitos outros, depois que o presidente dos EUA deixou claro seu interesse no que considera seu quintal, o Brasil. Sem anistia a Bolsonaro, tarifa-se em 50%.
Além da anistia, exigem que seja colocado para votação o impedimento do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o fim do foro privilegiado. Um olho no gato e outro no peixe, diriam por aí. No caso, o peixe é pensar que no futuro não tão distante qualquer um dos parlamentares possa cair nas redes do STF por conta das investigações do que fizeram com o dinheiro das chamadas Emendas PIX. Preferem o julgamento em instâncias comuns, nas quais os casos podem arrastar-se por anos, e a proximidade física, claro, sem generalizar, possibilitar influências.
O presidente da Câmara, o deputado Hugo Motta, teve dificuldade para conseguir sentar em sua cadeira para retomar o comando da Casa de Leis. No caminho, deputados fechando a passagem, enquanto dezenas deles faziam uma espécie de corredor polonês, igual costuma ter em escolas como uma brincadeira de mau gosto. E mais à frente ainda havia deputados sentados, que se recusavam a ceder o assento.
Há uma lista de deputados que deverão ser punidos com a suspensão de seis meses do mandato. Se isso acontecer, é como se a diretora da escola retomasse seu posto e dissesse: “Aqui não é casa da Mãe Joana.” Mas sabemos, independentemente de qualquer medida, que o estrago está feito. A turma do fundão sempre se renova, mesmo que os demais queiram tão somente seguir o jogo. A turma do fundão precisa de um basta, antes que ela tome conta do resto do Brasil.
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