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PEC da Bandidagem: um tapa na cara da sociedade

Deputados querem decidir se seus parças serão ou não investigado diante de crimes.

5 min de leitura
PEC da Bandidagem: um tapa na cara da sociedade
Deputados comemoram em suas redes sociais, uma rasteira na sociedade. Imagem:IA
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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Não é suficiente um deputado federal ter inúmeras mordomias, que vão desde altos salários, verbas de gabinete para pagar todos os seus assessores, direito à moradia, transporte, viagens e plano de saúde, até inúmeras outras regalias.

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Não basta esse deputado só ter de marcar presença durante as votações e se quiser não fazer mais nada… Isso é pouco. O deputado quer o direito de estar em uma casta ainda superior, o Olimpo talvez. Quer ter o direito de não ser investigado diante dos crimes mais brutais.

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Os deputados batizaram a ideia como PEC das Prerrogativas. Um direito especial, por conta do cargo ou profissão. Como o médico e o jornalista supostamente têm em períodos de guerra, em que são neutros. Que não poderiam ser baleados por um lado nem por outro. O que já não acontece mais, vide os bombardeio em Gaza.

Mas voltemos ao Brasil, e aqui o que pega mesmo é o apelido. Assim, essa proposta — que é um desaforo com o eleitor — ficou conhecida como PEC da Blindagem, que logo foi adaptada para PEC da Bandidagem. Que combina muito mais.

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A proposta foi aprovada na última terça-feira, 16, com 344 votos favoráveis e 133 contrários. Agora, segue para o Senado. Para este domingo, 21, inúmeras capitais marcaram protesto. O brasileiro anda cansado de tanto escárnio.

Na Constituição de 1988, inventaram esse dispositivo, que vigorou até o ano de 2001. E o resultado foi catastrófico. Entre os 254 processos, o Congresso autorizou a investigação de apenas um caso. Foi o caso de Jabes Rabelo (PTB-RO), envolvido com crime de receptação de veículo roubado. Posteriormente, foi cassado pelos colegas, dessa vez por ligações com tráfico de drogas e emissão de uma carteira funcional falsa da Câmara para o seu irmão, detido com cocaína. Muitos casos morreram junto dos acusados sem que jamais fossem investigados.

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As redes sociais foram tomadas de manifestações dos eleitores. De acordo com pesquisa da Genial Quaest, divulgada no sábado (20/9), a Proposta de Emenda à Constituição n.º 3/2021, a PEC da Bandidagem, teve uma repercussão negativa nas redes sociais: 83% das menções feitas sobre o tema pelos internautas reprovam a iniciativa dos parlamentares. E isso provocou alguns pronunciamentos de “mea-culpa” e pedidos de desculpas, como de Silvye Alves (União-GO), Merlong Solano (PT-PI) e Pedro Campos (PSB-PE).

O texto prevê que deputados e senadores só responderão a ações penais se a Câmara ou Senado autorizar. O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá enviar a denúncia à respectiva Casa Legislativa, e esta terá até 90 dias para deliberar. Tempo suficiente para destruir provas, corromper testemunhas e usar todos os instrumentos que quem tem dinheiro e poder é capaz.

A PEC da Bandidagem também determina que parlamentares não podem ser presos, salvo em flagrante de crimes considerados inafiançáveis, como homicídio, estupro, racismo, terrorismo e tráfico de drogas. Mas ainda nesses casos, a prisão só terá validade se for referendada pelo plenário da Casa do congressista em até 24 horas. Se não for aprovado, tudo por meio de voto secreto, a prisão fica automaticamente suspensa durante o mandato. Ou seja, o Poder Legislativo ganha status de Judiciário. Ele faz as leis e ele mesmo decide quem deve cumpri-las.

O que os juristas preveem é um efeito cascata em que as Assembleias estaduais repliquem a medida protetiva. E isso será uma espécie de fortaleza para o crime organizado, que fará das casas legislativas espaços para intocáveis.

  • Confira como votaram os deputados paranaenses.
  • Votação em 2.º turno:
  • Aliel Machado (PV-PR) – votou sim
  • Beto Richa (PSDB-PR) – votou sim
  • Carol Dartora (PT-PR) – não votou
  • Del. Matheus L. (União-PR) – votou sim
  • Diego Garcia (Republicanos-PR) – votou sim
  • Dilceu Sperafico (PP-PR) – votou sim
  • Felipe Francischini (União-PR) – votou sim
  • Filipe Barros (PL-PR) – votou sim
  • Geraldo Mendes (União-PR) – votou sim
  • Giacobo (PL-PR) – votou sim
  • Lenir de Assis (PT-PR) – votou não
  • Luciano Alves (PSD-PR) – votou não
  • Luciano Ducci (PSB-PR) – votou não
  • Luísa Canziani (PSD-PR) – votou sim
  • Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) – votou não
  • Luiz Nishimori (PSD-PR) – votou não
  • Padovani (União-PR) – votou sim
  • Paulo Litro (PSD-PR) – votou sim
  • Pedro Lupion (PP-PR) – votou sim
  • Reinhold Stephanes (PSD-PR) – votou sim
  • Ricardo Barros (PP-PR) – votou sim
  • Rodrigo Estacho (PSD-PR) – votou sim
  • Sargento Fahur (PSD-PR) – votou sim
  • Sergio Souza (MDB-PR) – votou sim
  • Tadeu Veneri (PT-PR) – votou não
  • Tião Medeiros (PP-PR) – votou sim
  • Toninho Wandscheer (PP-PR) – votou sim
  • Vermelho (PP-PR) – votou sim
  • Welter (PT-PR) – votou não
  • Zeca Dirceu (PT-PR) – não votou

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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    Aida Franco de Lima

    Aida Franco de Lima é jornalista, professora e escritora. Dra. em Comunicação e Semiótica, especialista em Meio Ambiente.

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