Deu no New York Times: “papel higiênico e ovos contra a corrupção no Paraguai”

O jornal americano publicou editorial sobre como está a contra esta “peste” no país vizinho

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

O jornal americano The New York Times publicou artigo esta semana, assinado pelo conselho editorial, em que fala da corrupção histórica no Paraguai e os desafios para acabar com esta praga.

Intitulado "No Paraguai, antigo paraíso da corrupção, as manifestações populares obtêm resultados", o artigo destaca que a corrupção foi institucionalizada no país pela ditadura do general Alfredo Stroessner, que ficou no poder por 35 anos.

O general costumava dizer, informa o NYT, que "a corrupção é o preço da paz". 

Não é por acaso que, 20 anos depois de o general ter sido deposto, os funcionários públicos do Paraguai sejam considerados pela população os mais corruptos da América do Sul, junto com os da Bolívia, segundo a Transparência Internacional.

Ah, na da Venezuela a percepção é ainda pior, mas hoje este nosso vizinho do Norte tem tantos outros problemas que até a corrupção parece não exigir tanta atenção.

A corrupção é o preço da paz (Alfredo Stroessner)

A Transparência Internacional classifica o Paraguai como "um monolito no estudo da corrupção", isto é (explica o New York Time), é um país que oferece um "case" sobre a dificuldade de recuperar-se de uma ditadura que tornou a corrupção quase uma norma.

Mas o jornal lembra: "Talvez devam escrever um novo capítulo agora que os paraguaios introduziram novas armas na batalha: papel higiênico e ovos".

O que quer dizer o sisudo New York Times com "papel higiênico e ovos"?

Quando o senador José María Ibánñez admitiu ter usado verbas públicas para pagar os empregados de sua casa de campo, houve uma votação no Senado para decidir se deveria ou não ser destituído. Ele foi mantido. 

Mas a advogada María Esther Roa não se deu por vencida, conta o NYT, baseado em reportagem de Ernesto Londoño e Santi Carnieri, publicada no Times. Roa uniu-se a outros organizadores de protesto, a maioria mulheres, e todos decidiram que Roa deveria pagar seu malfeito com a humilhação pública.

"Fora, Ibáñez" (manifestantes)

No dia seguinte à votação no Senado que livrou a cara de Ibáñez, a advogada marcou um protesto na frente da casa do senador. 

Os ativistas bateram em panelas e frigideiras, enquanto gritavam "Fora, Ibáñez" e lançavam sobre a casa papel higiênico crus, que logo começaram a cheirar mal.

"Para surpresa de todos, Ibáñez renunciou", diz o New York times.

"Novas armas na batalha" (NYT)

A casa ficou coberta de inscrições, papel higiênicoe ovos. E logo começou a cheirar mal.
Foto ABC Color

A essa renúncia, houve a de outros senadores. Os promotores se apressaram a apresentar provas contra cinco funcionários públicos e abriram investigações sobre vários outros. 

"À medida que as manifestações de porta em porta (dos corruptos), conhecidas como escraches, se multiplicaram e difundiram em redes sociais, os políticos e suas mulheres começaram a ser rechaçados em restaurantes e salões de beleza de luxo", historia o artigo.

Os que se opõem aos escraches, diz o NYT, dizem que eles podem se tornar violentos, que destroem reputações sem julgamento prévio, que estão aterrorizando as famílias.

E, de fato, têm ocorrido casos de violência, diz o jornal, tanto por parte dos manifestantes quanto contra eles. 

"Pelo menos temos esperança" (ativista)

Se as instituições falham, o povo vai à rua. Foto Paraguay en Noticias

No entanto, a advogada María Esther Roa e seus colegas de "escraches" veem a humilhação pública como armas de última instância, "numa sociedade que parece estar presa em um ciclo inquebrável de corrupção".

"Pelo menos agora temos esperança", disse um ativista citado pelo jornal. "Antes, não tínhamos nada".

O jornal lembra que a corrupção no Paraguai não significa que os dirigentes eleitos sejam necessariamente adeptos de maneira congênita à malversação de recursos públicos e ao suborno como estilo de vida. 

"O que significa é que os países com longos históricos de corrupção desenfreada e sistêmica, muitas vezes como resultado de governos autocráticos, enfrentam enormes obstáculos para erradicar essa praga, que infecta as próprias instituições políticas e os tribunais necessários para combatê-la", diz o NYT.

Muitos países precisam de uma sacudida (NYT)

O artigo conclui: "Uma olhada na lista da Transparência Internacional permite ver que há muitos países que necessitam desesperadamente de uma sacudida para romper com seus hábitos de malversação, suborno e impunidad".

E a gente conclui: o Brasil faz parte da lista.

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