Escrever ao contrário, porém com sentido. Se essa frase lhe causa estranheza, você precisa saber mais sobre palíndromo. Mas o que é isso?
Palíndromo é uma sequência de caracteres que proporciona a mesma leitura ao revés, desconsiderando acentuação, pontuação e diacríticos, define o palindromista Leonardo Afonso.
De um modo mais descomplicado, pode-se dizer também que é uma palavra ou frase que você lê de trás para frente e fica igual. Quem explica é o palindromista, tradutor, professor, escritor e advogado de Foz do Iguaçu, Fábio Aristimunho Vargas.
Ele é um dos organizadores do 3.º Encontro Brasileiro de Palindromistas, que segue até este domingo, 28, na Faculdade Uniguaçu, em Foz do Iguaçu.
O evento, promovido pela Liga Ágil (Associação Brasileira de Palindromistas), reúne 44 participantes, entre palindromistas, escritores e entusiastas, do Brasil e exterior.
Autor do livro ARARA ЯAЯA — Antologia de palíndromos / Ensaio sobre a palindromia, Aristimunho informa que há palíndromos simples, tais como as palavras asa e osso, e nomes e marcas conhecidos, a exemplo de Civic e Omo.

Frases e versos
Os palíndromos começam a ficar mais complexos quando se tornam frases ou versos. Entre as frases consideradas difíceis está a clássica: Oto come mocotó. E “socorram-me, subi no ônibus em Marrocos” é outro clássico apócrifo, cuja autoria é desconhecida.
E você, já imaginou criar um palíndromo? O professor ressalta que, para criar palíndromos, os escritores se apropriam de frases e elementos fáceis de “palindromar” e assim vão construindo textos ou poemas.
Em geral, inicia-se com palíndromos simples para depois ir aperfeiçoando-se. “É um exercício mental, mas também literário, que exige concentração e muita criatividade”, sintetiza Aristimundo.
Segundo ele, os palindromistas não são necessariamente da área literária. Há médicos, advogados, professor de robótica, comerciantes, administradores, economistas e jornalistas. “É um hobby que a gente leva a sério”, conta.
O palindromista e publisher da Editora Carótide (preste atenção, não é um palíndromo?), Silvio Lourenço de Souza, relata que geralmente a criação começa a partir de uma palavra que já é palindrômica ou semipalindrômica.
Por exemplo, arte é uma palavra semipalindrômica.

Universo palindrômico tem livros e revistas
A Liga Ágil (preste atenção, há outro palíndromo aqui) é uma das responsáveis pela publicação da Revista ARTSINISTRA, cuja terceira edição foi lançada no encontro.
Nessa edição, também há palíndromos dos vencedores de um desafio que é feito semanalmente na rede social Bluesky com a hastag desafiopalindromo.
No evento também estão sendo lançados dois livros: O Rumo Nosso no Muro, de Edson Kanashiro, e Se Tramam Artes, de Rommel Girão. As obras fazem parte da coleção Palíndromo Popular Brasileiro, da Editora Carótide.

Veja alguns palíndromos das obras:
Obra: O Rumo Nosso no Muro
- Fitar a mim, mimar a ti.
- Processe esse corpo.
- Ralo Sol cíclico; dócil ciclo solar.
- Oh, levo a pé pão velho!
Anel, pedras, teias.
A carpa, da praça sai.
É tarde plena.
(Haicai).
Obra: Se Tramam Artes
- Se covid repassam à massa, perdi vocês.
- Óculos? Adoro. Dá soluço!
O nódulo imolo.
Coa até o pó.
O poeta ao colo.
Mioludo nó.