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História

Formação do lago: último aviso da Itaipu aos moradores, em 1982

“Saiam todos que o dilúvio vem”, reportou o jornal Nosso Tempo; famílias, histórias, vidas foram reduzidas ao termo “desapropriados”.

3 min de leitura
Formação do lago: último aviso da Itaipu aos moradores, em 1982
Capela da comunidade com a “cruz de sua própria sepultura” – foto: Reprodução Nosso Tempo


É de se imaginar o desespero do alerta feito a moradores da região, em agosto de 1982: saiam das propriedades que as águas irão inundar as terras para a formação do reservatório da Itaipu Binacional. O aviso, um tanto ameaçador, foi reproduzido em matéria do jornal Nosso Tempo, na edição n.º 51.

A reportagem foi escrita pelo jornalista Juvêncio Mazzarollo, ilustrada com suas fotografias. O título era “Último aviso de Itaipu”, com o provocativo e perturbador reforço da chamada, o qual afirmava: “Saiam todos que o dilúvio vem mesmo”.

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A reportagem dizia criticamente que o lago de Itaipu iria deixar submersa uma riquíssima e belíssima área de 1350 quilômetros quadrados, sendo 780 no Brasil e 570 no Paraguai. O jornal reproduziu a nota pública emitida pela empresa, a qual dizia:

– Atenção, senhores desapropriados que ainda moram na área do reservatório. No final deste ano, as águas do rio Paraná vão começar a subir para formar o lago de Itaipu. Em duas semanas, uma vasta região será completamente coberta pelas águas.

Pessoas, famílias, histórias, vidas foram reduzidas ao termo “desapropriados”. O jornal fez notar o que considerou o tom de ameaça da nota, “capaz mesmo de causar pânico”, contextualizando que ainda havia moradores que não acreditavam na “fantástica violência”, escreveu.

“Arrancados da terra”

O Nosso Tempo ponderou que, na época, nenhum dos dois países demandava a potência de energia elétrica que seria produzida pela Itaipu. E criticava, em pleno regime militar, eivado de censura, perseguição e silenciamento, projetos impostos de cima para baixo, com a binacional.

Argumentou o semanário que, “das terras que serão encobertas e inutilizadas os milhares de agricultores arrancados violentamente do solo que cultivavam, produziam também milhões de energia não medida em quilowatts, mas em alimentos”, sublinhou. A região, disse, tinha as terras mais férteis do mundo.

Acesse a edição do Nosso Tempo com a reportagem

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    Paulo Bogler

    Paulo Bogler é repórter do H2FOZ. Com enfoque em pautas comunitárias, atua na cobertura de temas relacionados à cidade, política, cidadania, desenvolvimento e cultura local. Tem interesse em promover histórias, vozes e o cotidiano da população. E-mail: bogler@h2foz.com.br.