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Peças da primeira usina de Foz podem virar patrimônio: pedido de tombamento é protocolado

Maquinário da antiga Usina São João pode ser reconhecido como patrimônio e ganhar ambientação para visitas turísticas

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Peças da primeira usina de Foz podem virar patrimônio: pedido de tombamento é protocolado

Um processo para tombamento do maquinário da antiga Usina São João, a primeira de Foz do Iguaçu, foi protocolado na Fundação Cultural no dia 1.º de dezembro. A solicitação partiu do historiador e museólogo Pedro Louvain.

Leia também: Visite o Espaço Usina São João, experiência única nas Cataratas

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Atualmente, parte das máquinas da usina está na Itaipu Binacional, e o restante, no Parque Nacional do Iguaçu. A solicitação feita é para que o bem seja tombado como patrimônio cultural móvel.

A Usina São João funcionou no Parque Nacional do Iguaçu entre 1943 e 1982 e foi criada para abastecer a unidade de conservação. Restaurado recentemente, o local onde a hidrelétrica estava se transformou em um atrativo turístico do parque, chamado Espaço Usina.

O imóvel no qual ficava a casa de máquinas foi reaproveitado e hoje é um café-bar com vista para o Rio São João. Porém, as turbinas não estão expostas para visitação. 

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O Espaço Usina integra o Circuito São João. Foto: Marcos Labanca

No documento que solicita o tombamento, Louvain argumenta que o material da usina possui valor extraordinário para a história do Parque Nacional do Iguaçu e região. Também tem potencial para divulgação científica da produção elétrica a um público amplo.

Entre os públicos de interesse há escolas e turmas infantojuvenis, adultas e universitários. Por meio do material, é possível fazer uma abordagem didático-pedagógica sobre o ensino de física e ciências correlatas.

O inventário dos materiais da usina indica a existência de 48 itens entre peças menores, transformadores e turbinas. Algumas peças ficaram em exposição na Escola Parque por um tempo. 

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Algumas peças foram expostas na Escola Parque. Foto: Pedro Louvain

Com o pedido feito, o acervo entra na condição de tombamento provisório até decisão final do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Cepac) sobre o tombamento definitivo.

Antes de chegar ao Cepac, o pedido de tombamento será submetido a um parecer histórico. Ao entrar no órgão, a solicitação receberá parecer da Comissão Permanente de Preservação e Fiscalização (CPPF) e depois do conselheiro relator para ser submetida a votação.

Exposição e contextualização

Chefe do Parque Nacional do Iguaçu, José Ulisses do Santos diz que há planos para aproveitar o maquinário da antiga usina. A ideia, conta, é colocar algumas peças em diferentes espaços da unidade, incluindo o Espaço Usina, onde haverá uma ambientação e contextualização.

Para isso, uma curadoria especializada será contratada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Ulisses adianta que a própria trilha do Circuito São João, que tem ruínas, clareiras, o Espaço Usina e a Escola Parque receberão parte da estrutura da usina.

Esse realinhamento depende de estudo que será feito pela empresa selecionada. “Não absorveremos tudo, dependerá do tamanho de cada item e das áreas a serem utilizadas, e dependerá do roteiro a ser em elaborado”, explica.

Ele ainda esclarece que os itens que não forem usados serão disponibilizados para doação ou ficarão em reserva técnica em local adequado para conservação, no Parque Nacional ou em instituições parceiras.

Uma longa viagem que começou na Suíça

Apesar de ter sido criada para abastecer o Parque Nacional, a partir de 1943, a pequena hidrelétrica passou a fornecer energia para Foz do Iguaçu, em julho de 1948, após um acordo firmado entre o Ministério da Agricultura, o município de Foz do Iguaçu e o governo do Paraná.

À época, Foz do Iguaçu tinha a demanda de energia suprida por máquina a vapor com caldeira a lenha e motor a pistão, que ficava no bairro Boicy.

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Peças grandes estão na Itaipu Binacional. Foto: Pedro Louvain.

O fornecimento de energia perdurou até março de 1959 e foi interrompido porque a demanda no parque havia aumentado em razão da inauguração do Hotel das Cataratas em 1956.

O maquinário da usina com duas unidades geradoras foi importado da Suíça durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, pelo governo brasileiro, e adquirido da empresa Ateliers de Construction Oerlikon.

Para chegar a Foz do Iguaçu, o caminho foi longo. Após descerem os Alpes suíços, as máquinas foram embarcadas em um navio no litoral italiano, atravessaram o Oceano Atlântico até o Porto de Santos.

De lá, as peças seguiram de trem pela Estrada de Ferro Sorocabana até Porto Epitácio, no estado de São Paulo, para então irem de balsa até o Porto de Guaíra, onde houve o desembarque para contornar as Sete Quedas.

No trajeto seguinte, as turbinas foram carregadas em trens da Companhia Matte Laranjeira até Porto Mendes, em Marechal Cândido Rondon, chegando ao então Porto Oficial de Foz do Iguaçu. De lá, as máquinas foram colocadas em caminhões até a sede do parque.

Para chegar ao local onde a usina foi instalada, foi utilizada uma zorra tracionada por junta de bois. A informação do transporte consta no pedido de tombamento feito por Louvain, que é conselheiro titular do Cepac.

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    Denise Paro

    Denise Paro é jornalista pela UEL e doutoranda em Integração Contemporânea na América Latina. Atua há mais de duas décadas nas Três Fronteiras e tem experiência em reportagens especias. E-mail: deniseparo@h2foz.com.br