Dissonância Cognitiva

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, fala sobre ignorância elevada a enésima potência.

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 Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO

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ESTAMOS DOENTES! Nosso planeta está doente! Vivemos em um mundo doente! Alguns menos doentes estão chamando essa doença que assola o planeta de Dissonância Cognitiva. Segundo o dicionário, o termo “Dissonância” significa a falta de harmonia, discordância. O termo “Cognitiva” advém de cognição, ou seja, o processo ou a faculdade de adquirir conhecimento.

           

Procurando entender o processo através de minha capacidade de compreensão, de minha percepção, de meus estudos, ou seja, de minha total e integra cognição e acreditando que mesmo diante do avançar da idade ainda mantenho a harmonia dos meus pensamentos e o amplo entendimento e discernimento sobre o certo e errado, chego a conclusão por minha conta e risco que a dissonância cognitiva, essa doença que está presente no mundo de hoje e que já é considerada pandemia no Brasil, nada mais é que ignorância elevada a enésima potência.

  

Deixando minha opinião de lado, o que realmente não ajuda em nada na busca pelo entendimento desse mal que assola o país e o mundo fui procurar a opinião de quem entende do assunto. Em termos gerais entrei em um estudo bastante profundo da mente humana e como ela processa os pensamentos, o estudo de mundo e conhecimento a que essa pessoa está inserida e principalmente no grau de preconceito e ou a ausência deste que esta pessoa tem pelo objeto estudado, ou vivido ou até mesmo no campo de suas crenças.

O professor da New School for Social Research de Nova York, Leon Festinger, em 1957, cunhou o termo “Dissonância Cognitiva”, o que para ele seria um conflito que o ser humano passa em seu processo de tomada de decisão, quando não existe coerência entre dois ou mais elementos cognitivos. Entendi professor, seria mais ou menos quando popularmente a pessoa não junta o “” com “Cré”? Acredito que sim!

Resumindo o estudo do professor nos mostra que a dissonância cognitiva é quando o pensamento de uma pessoa, de um ser humano, não está em acordo com suas ações. Outros e mais outros professores e cientistas possuem palavras diferentes para dizer a mesma coisa e todos são pesquisadores respeitados de instituições respeitadas, que me fazem checar a veracidade de seus estudos para poder escrever aqui com coerência e sem que alguém fale que estou falando besteira.

Todo esse preâmbulo para tentar entender como uma senhora vai para avenida Paulista na maior cidade da américa latina, enrolada em parte em uma bandeira do Brasil e em outra parte uma bandeira de Israel e defende que Israel é um país cristão. “Somos cristãos assim como Israel!”, diz a senhora do alto de seu conhecimento sem medo de ser feliz. Quando o repórter argumenta que Israel não é um país cristão, embora tenha pessoas cristão, a “nobre” senhora argumenta com seriedade e severidade, “Israel nos representa, nós não somos socialistas, nós não somos comunistas”, ficou faltando somente dizer que não “comiam criancinha” ato muito associado as pessoas que se dizem socialistas e ou comunistas.

A não tão nobre senhora é um recorte que faço de o quanto doente está nossa sociedade. As demais que faziam companhia a ela endossaram suas afirmações com afirmações mais sem sentido ainda e sem comprovação histórica, científica e muito menos cognitiva. Essa senhoras não tão nobre são vírus que disseminam a doença da dissonância cognitiva entre nós e aqui não se trata de direita ou esquerda, de quem é partidário de “A” ou “B” e sim que o escritor Umberto Eco estava repleto de razão quando disse que: “A internet deu voz a uma legião de imbecis”.

Segundo o dicionário, “Imbecil” é um termo que se origina no latim “imbecillis” e que significa uma categoria de pessoa com deficiência intelectual moderada a grave, de mente fraca, bem como um tipo de criminoso. Na história da humanidade eles sempre existiram, o problema é que agora eles são muitos e são sim capazes de matar assim tal como aconteceu com meu amigo Marcelo Arruda, assassinado por pensar diferente em termos políticos. Pelo que sei ainda não desenvolveram uma vacina capaz de curar tal praga que assola o planeta.

O professor da Universidade de Brasília, José Geraldo, na CPI do MST, ao responder a interlocução da deputada Caroline de Toni, que não tinha como “discutir visão de mundo” com a deputada, pelo simples fato de a mesma não ter cognição para entender além do que ela tem escrito em sua cognição, um recorte da realidade. Segundo o professor o real não é mais aquilo que existe e sim a representação de como a gente interpreta o que vê!

Isso me remete ao filósofo Baruch Espinoza (1632-1677) que entre tantos ensinamentos disse: “Se não queres repetir o passado, estuda-o”. E o passado se repete, não somente no aumento significativo no número de imbecis, opss, no número de pessoas com dissonância cognitiva, mas no fato de eles estarem querendo repetir o que já ficou provado que era errado, o que era cruel, o que causou dor nos seres humanos e principalmente o que quase destruiu a humanidade, tal qual o fascismo e o nazismo.

No estado do Rio Grande do Sul, a professora e diretora da Escola Ernesto Alves de Oliveira, na cidade de Santa Cruz do Sul, segundo ela em nome da “moral e dos bons costumes”, resolveu censurar o livro O Avesso da Pele, do escritor Jéferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti no ano de 2021, sob alegação que o livro contém palavras de “baixo calão”, “vocabulário sujo”.

A diretora em um vídeo nas redes sociais, lê um trecho do livro e condena o Governo Federal por ter enviado as escolas o que ela chama de “este tipo de linguagem a ser trabalhado com adolescentes dentro de uma instituição de ensino”. A distorção cognitiva da diretora é tanta que foi ela mesma quem assinou, na condição de diretora, a “Ata de Escolha” da obra e agora contesta o conteúdo do livro, ou seja, assinou sem ler? Assinou a escolha de um livro que não havia lido? A imbecilidade é tanta, desculpem o termo de baixo calão que uso ao trocar imbecilidade por distorção cognitiva, que a diretora critica o atual governo por algo que foi aprovado por ela e adquirido pelo Governo Federal anterior! Pois é…

Pois é… em minha nada modesta opinião não existe diferença alguma entre a diretora que tenta proibir um livro de ensinar e chamar atenção para o racismo e as mulheres da avenida paulista enroladas na bandeira de Israel. O escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues disse a seguinte frase: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”

Infelizmente Nelson Rodrigues tem razão, eles são muitos. Oxalá ele esteja errado e sua profecia de “eles tomarem conta do mundo”, não se realize. O mundo tal qual o conhecemos já possuiu e ainda possui seres humanos notáveis e que ensinaram muito para humanidade e essa parte da humanidade ainda é maioria.

Eu não dou risada de vídeos protagonizados pelo pessoal da avenida paulista em São Paulo e dos iguais a elas e a eles. Não é momento de rir e sim de lutarmos contra estas chamadas distorções cognitivas que tanto mal fazem a sociedade. Quem pede a censura de livros em seguida pede que eles sejam queimados e tal como falou o escritor e poeta alemão, Heinrich Heine, em seu livro “Almansor”, “onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas”.

“Os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas.”

                           (Winston Churchill)

É hora de começarmos a mostrar quem são e onde estão os imbecis que atentam contra a democracia, que querem censurar livros, que banalizam a morte de qualquer pessoa, que acham o racismo normal, a morte de indígenas algo comum e as pessoas passando fome e sem terem um teto para se abrigar de vagabundagem.

Precisamos mostrar as desigualdades em que vivemos no mundo e que isso não é normal, assim como não é normal que se trate como piada a ações efetuadas pelos portadores de dissonância cognitiva, pois estas ações estão carregadas de certezas que ferem, que destroem famílias, que matam.

Os imbecis têm que serem rechaçados no ato de suas imbecilidades e mesmo que a internet, que ainda é terra de ninguém, lhes ampliem a fala e a visibilidade, cabe aos que ainda possuem cognição suficiente para enxergarem o que realmente existe por trás das “fake news” e a quem interessa que haja tanta desinformação e formação de um exército de dissonantes cognitivos ou melhor dizendo, de imbecis pronto para espalharem o caos, cabe atenção e olhos abertos para mostrar que eles são muitos, mas os cidadãos pensante ainda são a grande maioria.

Octavio Paz, o escritor que foi citado pelo professor da Universidade de Brasília, em seu livro “O Labirinto da Solidão”, nos lembra que “As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança”.

Precisamos urgentemente de mentes pensantes, mentes que encontrem as vacinas certas que neutralizem o vírus que espalha essa doença deveras nociva, “Dissonância Cognitiva”, para que possamos conjugar a palavra futuro com esperança.

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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