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Reportagem Especial

Dados do IBGE

Em Foz do Iguaçu, quase metade da população mora em vias sem bueiros e bocas de lobo

Situação de Foz do Iguaçu é a pior entre os dez maiores municípios do Paraná. Dispositivos são fundamentais para a prevenção de enchentes.

6 min de leitura
Bueiros - Foz do Iguaçu
Foz do Iguaçu apresenta o pior índice de bueiros e bocas de lobo entre as dez cidades mais populosas do Paraná. Foto: Vacy Álvaro

Pancadas de chuva um pouco mais intensas que o normal se tornaram sinônimo de preocupação para muitos moradores de Foz do Iguaçu. O medo é das enchentes, que ocorrem constantemente em diversos pontos da cidade. Parte desse problema poderia ser resolvida com um sistema mais eficiente de drenagem.

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O IBGE mostra que apenas 52,5% dos moradores de Foz vivem em vias que possuem infraestrutura de bueiros e bocas de lobo. Esses dispositivos desempenham funções importantes, pois drenam as águas pluviais ao coletar a chuva das ruas e calçadas, evitando alagamentos e acúmulo de água.

O IBGE divulgou os dados na pesquisa Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios, baseada no Censo 2022. Foz do Iguaçu apresenta o pior índice entre as dez cidades mais populosas do Paraná. Apesar disso, o estado tem a segunda melhor média nacional: 83,5% das ruas contam com aqueles dispositivos. Em Curitiba, a cobertura chega a quase 95%.

Alex Castagnaro, coordenador de área do censo, explica como foi realizado o levantamento: “A unidade de avaliação é a face de quadra. De forma simplificada, trata-se do percurso entre uma esquina e outra. Nesse trajeto, o supervisor registrava as condições encontradas, observando se havia bueiros ou bocas de lobo tanto na face trabalhada quanto na confrontante (o outro lado da rua)”.

Bueiros e bocas de lobo: a importância dos dispositivos

No levantamento, o IBGE explica que esses componentes são fundamentais para a infraestrutura urbana. Eles desempenham funções como a drenagem de águas pluviais, à medida que coletam a água da chuva das ruas e calçadas. Com isso, evitam-se alagamentos e acúmulo de água, que podem causar danos à infraestrutura e às propriedades.

Eles também contribuem para a prevenção de enchentes, pois facilitam o escoamento rápido da água para o sistema de drenagem subterrâneo, reduzindo o risco de alagamentos nas áreas urbanas. Além disso, ajudam na segurança viária de motoristas e pedestres ao evitar o acúmulo de água nas ruas, prevenindo acidentes causados por deslizamentos em poças e aquaplanagem.

Bueiros e bocas de lobo colaboram, ainda, para proteger estradas, calçadas e fundações de edifícios contra danos causados pela infiltração de água. Na saúde pública, ao evitar a formação de poças de água parada, ajudam a prevenir a proliferação de mosquitos e outros vetores de doenças. Finalmente, integram-se a sistemas maiores de gestão de águas pluviais, contribuindo para a sustentabilidade e eficiência do manejo de recursos hídricos na cidade.

Bueiros - Foz do iguaçu
Bueiros e bocas de lobo são dispositivos fundamentais para a infraestrutura urbana. Foto: Vacy Álvaro

Solução é bem mais ampla

Para Haralan Mucelini, voluntário do Observatório Social de Foz do Iguaçu, que estuda o tema há alguns anos, as bocas de lobo e os bueiros são apenas alguns dos instrumentos de drenagem urbana. “A taxa de vias urbanas com esses dispositivos não é a melhor forma de explicar os alagamentos constantes. Uma cidade pode não ter nenhuma boca de lobo e ainda assim não sofrer com alagamentos”, explica.

Ele ressalta que esse indicador precisa ser analisado em conjunto com outros, como o índice de impermeabilização do solo urbano, a dimensão média das galerias de drenagem e o volume de resíduos sólidos urbanos gerados diariamente. “Em Foz, o maior problema é o excesso de impermeabilização e a falta de critério para a pavimentação das vias urbanas”, afirma.

Mucelini também atribui o problema ao excesso de loteamentos aprovados sem a devida infraestrutura de drenagem. “A legislação que obriga os loteamentos a terem galerias e bocas de lobo, salvo engano, não tem mais de 20 anos. Portanto, a maioria dos loteamentos antigos não conta com essa infraestrutura”, conclui.

Prefeitura cita crescimento desordenado

Sobre a situação, a Prefeitura de Foz do Iguaçu enviou uma nota ao H2FOZ e atribuiu ao contexto histórico o baixo percentual de bocas de lobo, bueiros e outros dispositivos para o escoamento das águas.

A administração municipal destaca que a cidade cresceu de forma rápida e desordenada, especialmente a partir da década de 1970. Segundo dados do IBGE, a população saltou de 33 mil para 190 mil habitantes em pouco mais de 20 anos. As grandes obras, o desenvolvimento do turismo e a expansão econômica de Ciudad del Este impulsionaram esse crescimento.

Em relação à drenagem urbana, a prefeitura traça a seguinte linha do tempo:

  • em 1975, a prefeitura criou a primeira legislação municipal sobre o tema, mas não exigiu a apresentação de projetos dos empreendedores;
  • em 1991, a prefeitura publicou a Lei Complementar 05/1991, sobre o parcelamento do solo para fins urbanos, e a Lei 03/1991. O texto trata do código de obras e edificações do município. Mesmo assim, a administração não definiu parâmetros para a drenagem nos loteamentos em construção;
  • somente em 2011, com a Lei Complementar n.º 170, a administração incluiu a descrição dos elementos exigidos para o sistema de drenagem de águas pluviais dos loteamentos. Essas definições deram respaldo legal para que as equipes técnicas municipais passassem a exigir dos novos loteadores a instalação de redes de drenagem e escoamento de água.

E agora… como resolver?

A Prefeitura de Foz do Iguaçu atua em duas frentes para resolver o problema. A gestão atual forma uma comissão com técnicos das secretarias de Planejamento, Urbanismo e Obras. O grupo vai publicar o Manual de Drenagem do Município, que os futuros empreendimentos deverão seguir.

Nesse documento, serão estabelecidas as condições mínimas para o atendimento da rede de drenagem, já considerando o aumento da ocorrência de fortes chuvas em Foz do Iguaçu nos últimos anos. Também está prevista a aquisição de equipamentos de videoinspeção, que tornarão a fiscalização do cumprimento dessas condições mais segura e eficiente.

Em outra frente, a equipe técnica está mapeando a drenagem em toda a cidade — trabalho que já está 80% concluído — para ajudar a gestão municipal a identificar os pontos que exigem maior atenção e intervenção prioritária.

As secretarias de Obras e de Planejamento e Urbanismo elaboram juntas pré-projetos que permitirão ao município pleitear recursos para essas obras de drenagem, que normalmente têm um custo mais elevado.

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Vacy Álvaro

Vacy Alvaro é jornalista e coordenador do núcleo de Jornalismo de Dados/Infográficos do H2FOZ.

1 comentário em “Em Foz do Iguaçu, quase metade da população mora em vias sem bueiros e bocas de lobo”

  1. Doni Vitor

    Isso porque estamos no encontro de dois grandes rios que circunda nossa cidade. Não seria menos custos expulsar as águas das chuvas? A maioria das cidades não tem esse privilégio. É falta bom gestor mesmo.

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