Pancadas de chuva um pouco mais intensas que o normal se tornaram sinônimo de preocupação para muitos moradores de Foz do Iguaçu. O medo é das enchentes, que ocorrem constantemente em diversos pontos da cidade. Parte desse problema poderia ser resolvida com um sistema mais eficiente de drenagem.
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O IBGE mostra que apenas 52,5% dos moradores de Foz vivem em vias que possuem infraestrutura de bueiros e bocas de lobo. Esses dispositivos desempenham funções importantes, pois drenam as águas pluviais ao coletar a chuva das ruas e calçadas, evitando alagamentos e acúmulo de água.
O IBGE divulgou os dados na pesquisa Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios, baseada no Censo 2022. Foz do Iguaçu apresenta o pior índice entre as dez cidades mais populosas do Paraná. Apesar disso, o estado tem a segunda melhor média nacional: 83,5% das ruas contam com aqueles dispositivos. Em Curitiba, a cobertura chega a quase 95%.
Alex Castagnaro, coordenador de área do censo, explica como foi realizado o levantamento: “A unidade de avaliação é a face de quadra. De forma simplificada, trata-se do percurso entre uma esquina e outra. Nesse trajeto, o supervisor registrava as condições encontradas, observando se havia bueiros ou bocas de lobo tanto na face trabalhada quanto na confrontante (o outro lado da rua)”.
Bueiros e bocas de lobo: a importância dos dispositivos
No levantamento, o IBGE explica que esses componentes são fundamentais para a infraestrutura urbana. Eles desempenham funções como a drenagem de águas pluviais, à medida que coletam a água da chuva das ruas e calçadas. Com isso, evitam-se alagamentos e acúmulo de água, que podem causar danos à infraestrutura e às propriedades.
Eles também contribuem para a prevenção de enchentes, pois facilitam o escoamento rápido da água para o sistema de drenagem subterrâneo, reduzindo o risco de alagamentos nas áreas urbanas. Além disso, ajudam na segurança viária de motoristas e pedestres ao evitar o acúmulo de água nas ruas, prevenindo acidentes causados por deslizamentos em poças e aquaplanagem.
Bueiros e bocas de lobo colaboram, ainda, para proteger estradas, calçadas e fundações de edifícios contra danos causados pela infiltração de água. Na saúde pública, ao evitar a formação de poças de água parada, ajudam a prevenir a proliferação de mosquitos e outros vetores de doenças. Finalmente, integram-se a sistemas maiores de gestão de águas pluviais, contribuindo para a sustentabilidade e eficiência do manejo de recursos hídricos na cidade.

Solução é bem mais ampla
Para Haralan Mucelini, voluntário do Observatório Social de Foz do Iguaçu, que estuda o tema há alguns anos, as bocas de lobo e os bueiros são apenas alguns dos instrumentos de drenagem urbana. “A taxa de vias urbanas com esses dispositivos não é a melhor forma de explicar os alagamentos constantes. Uma cidade pode não ter nenhuma boca de lobo e ainda assim não sofrer com alagamentos”, explica.
Ele ressalta que esse indicador precisa ser analisado em conjunto com outros, como o índice de impermeabilização do solo urbano, a dimensão média das galerias de drenagem e o volume de resíduos sólidos urbanos gerados diariamente. “Em Foz, o maior problema é o excesso de impermeabilização e a falta de critério para a pavimentação das vias urbanas”, afirma.
Mucelini também atribui o problema ao excesso de loteamentos aprovados sem a devida infraestrutura de drenagem. “A legislação que obriga os loteamentos a terem galerias e bocas de lobo, salvo engano, não tem mais de 20 anos. Portanto, a maioria dos loteamentos antigos não conta com essa infraestrutura”, conclui.
Prefeitura cita crescimento desordenado
Sobre a situação, a Prefeitura de Foz do Iguaçu enviou uma nota ao H2FOZ e atribuiu ao contexto histórico o baixo percentual de bocas de lobo, bueiros e outros dispositivos para o escoamento das águas.
A administração municipal destaca que a cidade cresceu de forma rápida e desordenada, especialmente a partir da década de 1970. Segundo dados do IBGE, a população saltou de 33 mil para 190 mil habitantes em pouco mais de 20 anos. As grandes obras, o desenvolvimento do turismo e a expansão econômica de Ciudad del Este impulsionaram esse crescimento.
Em relação à drenagem urbana, a prefeitura traça a seguinte linha do tempo:
- em 1975, a prefeitura criou a primeira legislação municipal sobre o tema, mas não exigiu a apresentação de projetos dos empreendedores;
- em 1991, a prefeitura publicou a Lei Complementar 05/1991, sobre o parcelamento do solo para fins urbanos, e a Lei 03/1991. O texto trata do código de obras e edificações do município. Mesmo assim, a administração não definiu parâmetros para a drenagem nos loteamentos em construção;
- somente em 2011, com a Lei Complementar n.º 170, a administração incluiu a descrição dos elementos exigidos para o sistema de drenagem de águas pluviais dos loteamentos. Essas definições deram respaldo legal para que as equipes técnicas municipais passassem a exigir dos novos loteadores a instalação de redes de drenagem e escoamento de água.
E agora… como resolver?
A Prefeitura de Foz do Iguaçu atua em duas frentes para resolver o problema. A gestão atual forma uma comissão com técnicos das secretarias de Planejamento, Urbanismo e Obras. O grupo vai publicar o Manual de Drenagem do Município, que os futuros empreendimentos deverão seguir.
Nesse documento, serão estabelecidas as condições mínimas para o atendimento da rede de drenagem, já considerando o aumento da ocorrência de fortes chuvas em Foz do Iguaçu nos últimos anos. Também está prevista a aquisição de equipamentos de videoinspeção, que tornarão a fiscalização do cumprimento dessas condições mais segura e eficiente.
Em outra frente, a equipe técnica está mapeando a drenagem em toda a cidade — trabalho que já está 80% concluído — para ajudar a gestão municipal a identificar os pontos que exigem maior atenção e intervenção prioritária.
As secretarias de Obras e de Planejamento e Urbanismo elaboram juntas pré-projetos que permitirão ao município pleitear recursos para essas obras de drenagem, que normalmente têm um custo mais elevado.
Isso porque estamos no encontro de dois grandes rios que circunda nossa cidade. Não seria menos custos expulsar as águas das chuvas? A maioria das cidades não tem esse privilégio. É falta bom gestor mesmo.