O banho de floresta, conhecido no Japão como Shinrin-yoku, é uma prática que, embora tenha sido oficializada pelo governo japonês nos anos 1980, nasce de uma relação muito mais antiga entre os japoneses e a natureza. Em sua essência, trata-se de caminhar ou permanecer em ambientes naturais ativando todos os sentidos — ouvir o canto dos pássaros, sentir o cheiro da mata, perceber a textura das árvores, observar a luz que atravessa as folhas — em uma experiência de presença e integração.
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Diversos estudos científicos mostram que essa imersão reduz o cortisol, diminui a pressão arterial, desacelera a frequência cardíaca e ativa o sistema nervoso parassimpático, responsável pela sensação de calma e equilíbrio. Hoje, o banho de floresta é reconhecido em vários países como uma prática de promoção de saúde e bem-estar, acessível, natural e altamente eficaz para aliviar estresse, ansiedade e sobrecarga emocional.

Para Francisco Namiushi, que viveu 19 anos no Japão, o valor dessa prática vai além dos resultados científicos: ele nasce de uma educação voltada ao respeito e à integração com o ambiente natural. “No Japão, o respeito em relação à natureza, esse senso de integração, faz parte da educação. Desde cedo, as crianças já são instigadas a ter esse senso de pertencimento maior em relação à natureza”, afirma.
Ele lembra que, desde pequenos, os japoneses aprendem a entrar em espaços naturais com reverência. “Quando alguém vai na nossa casa e já vai abrindo a porta sem pedir licença, sem dar oi, isso assusta. E com a natureza é a mesma coisa.” Para Francisco, essa forma de relacionar-se com o ambiente é um convite para que adultos e crianças desenvolvam uma postura mais atenta, sensível e respeitosa diante daquilo que nos cerca.
Embora nascido no contexto japonês, o banho de floresta encontra terreno fértil em diversos lugares do mundo — e a região trinacional, entre Brasil, Paraguai e Argentina, é um deles. Vivemos cercados por uma das paisagens mais ricas da Mata Atlântica, com áreas verdes abundantes, parques nacionais, trilhas e reservas naturais que favorecem essa experiência de imersão.
Em meio ao ritmo acelerado das cidades, especialmente em áreas urbanas como Foz do Iguaçu, o contato consciente com a natureza pode tornar-se uma fonte concreta de saúde e equilíbrio, oferecendo às pessoas um espaço para desacelerar, respirar fundo e reconectar corpo e mente.
Ao trazer o olhar de quem viveu quase duas décadas no Japão, Francisco reforça que o banho de floresta é, antes de tudo, um aprendizado sobre pertencimento. É perceber que a natureza não é um cenário externo, mas um ambiente vivo que responde à forma como chegamos e como nos relacionamos.
Em uma região privilegiada como a nossa, essa prática se torna não apenas possível, e sim profundamente necessária. Talvez seja este o principal ensinamento japonês: ao nos aproximarmos da floresta com respeito, ela também se aproxima de nós — oferecendo cura, calma e uma nova forma de estar no mundo.
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